Por Matheus Spiller
Pois isso agora é possível! O artista plástico utiliza todo seu talento consagrado por público e crítica para colocar na tela o rosto de quem visita o ateliê localizado no bairro da Saúde, em Salvador. Nesta entrevista Leonel Mattos fala sobre esse trabalho que transforma a energia das pessoas retratadas em obras de arte. Confira!
Matheus Spiller – Como você chegou a essa proposta de retratar as pessoas que vão ao ateliê?
Leonel Mattos – Eu sempre procurei registrar o que vivo. E os amigos não passam despercebidos. A partir daí eu comecei a registrar algumas pinturas ao vivo no meu ateliê no Mont Serrat. Depois mudei e fui pra o Rio Vermelho e tive algumas visitas também de artistas e público, clientes. Eu comecei a registrar também e dei uma parada. E agora, na saúde, no ateliê mais recente, eu tive a ideia de retomar esse projeto e vou fazer umas duzentas telas. Eu sou megalomaníaco!
O que eu penso eu vou fazendo e não consigo parar. Tenho quatro trabalhos prontos de visitação de hoje. Já apareceu até convite pra eu fazer esse projeto lá em Praia do Forte pra você ter ideia…então isso é muito legal, acho que despertou nas pessoas esse interesse.
Eu costumo dizer que nem faço um retrato, eu pinto a energia da pessoa. Eu faço pintura. Então a pessoa me remete seu calor humano e eu observando alguns traços diante de mim e vou jogando na tela. Então cada um sai de um tom de uma cor. E isso tudo é muito interessante. Eu termino registrando as pessoas de uma época.
MS – A interatividade é uma marca do teu trabalho. Esse projeto contempla também essa característica?
LM – Não tenha dúvida! É um projeto em que eu abraço as pessoas e elas terminam se sentindo nesse abraço, também se envolvem nesse abraço. Então as pessoas estão vindo aqui tenho várias pessoas que já me ligaram, diversas pessoas querendo ser retratadas, e isso é um carinho, é a motivação que me leva a cada vez mais abraçar.
Eu estava com Jaime Figura, por exemplo, que acabou de falecer, fazendo projeto com ele maravilhoso, ele pintando mais de cinquenta telas pra uma galeria quando aconteceu isso. Então eu sempre estou abraçando um outro e não é atoa que o crítico Olney Kruse viu no meu trabalho uma questão materna na qual as figuras estão abraçando sempre alguma coisa. Quando eu pego meu símbolo, que você deve conhecer [figuras simbólicas muito características na obra de Leonel Mattos], vários dele repetido, é como se fosse uma multidão.
Então esse símbolo pode significar uma terra habitada, ou seja, através do figurativo ou do simbolismo onde meu trabalho passeia entre o figurativo e o simbolismo. Então agora eu estou curtindo muito esse novo trabalho e as pessoas estão me dando o retorno que eu esperava.
MS – Existe plano de expor depois essa produção?
LM – É um trabalho que vai ter uma futura amostra e, com certeza, ele se moldará ao espaço ao qual eu levarei. Porque são telas de trinta por trinta, então vai se moldar cada espaço que ela for passando.
MS – Você estipulou um prazo? Até quando as pessoas vão poder ir ao ateliê?
LM – Não…é só entrar em contato pelo whatsApp e marcar, porque as vezes eu estou no ateliê e as vezes eu não estou, posso dar uma saidinha…então é bom sempre ligar antes e marcar um horário. Eu terei o prazer de receber a qualquer pessoa que queira ser retratada! E dizendo que na verdade não espere um retrato da realidade da pessoa, mas sim do que a pessoa me remete através da energia, da cor, da forma e da emoção do momento. Por isso que eu não vou fazer retratos em cima de retratos. Só serve a pessoa visitando pessoalmente pra receber essa energia.
MS – É a sua visão do que cada pessoa passa ali na hora, né…?
LM – Eu busquei esse tema de retratar as pessoas…isso é um tema. Mas a pintura, os interesses da pintura são outros. Linha, forma, cor, textura, luz, sombra, veladuras. Então eu tento traduzir esse contexto todo aí desse figurativo que pessoa me passa. Quem sabe eu possa até fazer uma pessoa que eu estou retratando ser um abstrato…todo vermelho…se essa pessoa passar isso, ou só uma linha…isso já me cabe porque tem a hora de começar e tem a hora de parar a pintura.
Então às vezes alguns fundos eu termino não preenchendo porque existe um diálogo entre a pintura e eu…”esse branco aqui serve como luz…”. Você não precisa mais cobrir ele. Então às vezes fica uma pintura aparentemente inacabada, mas na verdade é uma luz que ela me fornece e me restringe. Diz “aqui já está bom”.
Quem ficou interessado em ser retratado através do olhar sensível de Leonel Mattos, pode fazer uma visita ao ateliê do artista. O endereço é Rua Dr. Pedro Júlio Barbuda, 04 – Saúde. O whatsapp para marcar diretamente com ele é 71-9 9961-7470.