Painel da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) no 16º Congresso Internacional de Uro-Oncologia, em São Paulo, destaca estudo que mostra a radioterapia como sendo eficaz para pacientes com câncer de próstata localizado de baixo a intermediário risco
Reunindo especialistas de diferentes áreas envolvidas no tratamento interdisciplinar de pacientes com cânceres urológicos, o 16º Congresso Internacional de Uro-Oncologia, realizado de 2 a 5 de abril, em São Paulo, contou, em sua programação científica, com o Encontro da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), atividade que se destacou por trazer as mais atuais evidências e perspectivas do uso de radioterapia no câncer de próstata, rim, bexiga, outros tumores urológicos e metástases.
O destaque ficou por conta das discussões em torno do resultados do estudo PACE-A, um ensaio clínico randomizado, aberto, de fase 3, que evidenciou a eficácia da radioterapia estereotáxica corpórea com ultrahipofraciomento, em apenas cinco doses, quando comparada com a cirurgia robótica para pacientes com câncer de próstata localizado de baixo a intermediário risco. O trabalho, publicado recentemente na revista European Urology, analisou qualidade de vida relacionada à saúde relatada pelos pacientes.
O estudo analisou 123 pacientes, dos quais 63 receberam radioterapia e 60 foram submetidos à prostatectomia (cirurgia). Após dois anos, a taxa de incontinência urinária, definida como necessidade de uso de absorventes, foi menor nos pacientes submetidos à radioterapia: 6,5% versus 50%, demonstrando benefício significativo neste aspecto.Além do benefício urinário, a radioterapia comprometeu menos a função sexual, quando comparada à cirurgia. Porém, o funcionamento do intestino se apresentou melhor nos pacientes submetidos à prostatectomia.
De acordo com o radio-oncologista Elton Trigo Teixeira Leite, diretor científico da SBRT e coordenador do Encontro da Sociedade Brasileira de Radioterapia no 16º Congresso Internacional de Uro-Oncologia, o estudo reforça a indicação segura de radioterapia para esse perfil de pacientes com câncer de próstata. “A radioterapia ultrahipofracionada tem se apresentado como uma das principais inovações no tratamento do câncer de próstata, sendo capaz de tratar tumores localizados em apenas cinco frações, com resultados comparáveis aos da cirurgia robótica. Com essa abordagem, pode ainda se manter a eficácia terapêutica e oferecer mais comodidade ao paciente, com menos idas ao hospital e menor impacto na sua rotina”, afirma o especialista.
Essa foi uma das principais abordagens discutidas na reunião organizada pela SBRT, que pela segunda vez promoveu um espaço dedicado às novidades na área no Congresso. Outro destaque foi o papel do bloqueio androgênico — terapia hormonal que reduz os níveis de testosterona — como estratégia complementar à radioterapia. Essa combinação tem mostrado bons resultados tanto no tratamento primário quanto na radioterapia de resgate, indicada para pacientes que apresentaram recidiva após a cirurgia. “O bloqueio hormonal torna as células tumorais mais sensíveis à radiação, o que aumenta a eficácia da radioterapia. Mas é importante ressaltar que este bloqueio causa efeitos colaterais consideráveis impactando na qualidade de vida, e nem sempre deve ser indicado. Cada paciente deve ser avaliado individualmente, e deve participar desta decisão. Este foi um tema amplamente discutido no congresso”, explica Elton Leite. Além disso, os especialistas debateram as estratégias de delimitação do campo de tratamento, discutindo se a radiação deve ser direcionada exclusivamente ao leito prostático — área onde a próstata foi removida — ou se também deve incluir as regiões de drenagem linfonodal, que podem abrigar células neoplásicas microscópicas.
Avanços no tratamento dos cânceres urológicos
O uso da radioterapia estereotáxica ablativa para o tratamento de tumores renais primários também foi um ponto alto do encontro. “Os estudos apresentados demonstraram taxas de controle local que chegam a quase 100%, reforçando o potencial dessa abordagem como uma das principais alternativas quando o paciente não pode ser submetido à cirurgia por limitações clínicas ou por possuir rim único”, reforça Elton. A radioterapia ablativa também foi discutida no contexto de metástases provenientes do câncer renal. Dados recentes sugerem que o tratamento direcionado a essas lesões pode adiar ou até evitar a necessidade de terapias sistêmicas mais agressivas, contribuindo para a preservação da qualidade de vida.
O tratamento conservador da bexiga também ganhou espaço no congresso. A combinação de radioterapia com quimioterapia tem se mostrado uma alternativa eficaz à cistectomia radical em casos selecionados de câncer de bexiga músculo-invasivo. “É fundamental que os pacientes saibam que existem alternativas à cirurgia, e participem da decisão terapêutica”, completa.
Referência bibliográfica
van As N, Yasar B, Griffin C, Patel J, Tree AC, Ostler P, van der Voet H, Ford D, Tolan S, Wells P, Mahmood R, Winkler M, Chan A, Thompson A, Ogden C, Naismith O, Pugh J, Manning G, Brown S, Burnett S, Hall E. Radical Prostatectomy Versus Stereotactic Radiotherapy for Clinically Localised Prostate Cancer: Results of the PACE-A Randomised Trial. Eur Urol. 2024 Dec;86(6):566-576.
Disponível em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0302283824025685?via%3Dihub
Sobre a Sociedade Brasileira de Radioterapia
A Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), fundada em 1998, é uma associação civil, associativa e científica, sem fins lucrativos, que representa os médicos radio-oncologistas registrados no Brasil. Mais informações em: https://sbradioterapia.com.br/