O programa de residência artística Escutar o Paraguassu, que acontece neste mês de setembro, propõe diferentes atividades para os selecionados e uma Mostra de Processos Artísticos. A abertura pública será na segunda-feira, dia 09, na cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano.
Na segunda-feira, 09 de setembro, acontece a abertura do programa Residência Artística Escutar o Paraguassu, projeto que selecionou seis artistas de quatro Estados do Nordeste do Brasil para participarem de uma residência artística durante o mês de setembro na cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano. Durante o projeto, os artistas participam de encontros com lideranças quilombolas, pesquisadores de arte contemporânea e instituições socioambientais do estuário do Rio Paraguassu para entender as relações socioambientais que se estabelecem entre o rio e os habitantes daquela região. A partir daí, cada artista apresentará uma proposta de obra em processo, que tem a realidade do local como matéria de criação e discussão. A abertura acontece na residência e ateliê coletivo do projeto, na casa 08 da Praça da Aclamação, a partir das 09h.
O projeto também fará uma Mostra de Processos Criativos dos participantes, a partir do dia 16 de setembro. Foram selecionados três artistas da Bahia, uma de Sergipe, uma do Piauí e um de Pernambuco (as minibio dos seis estão após o Serviço deste documento).Todos os eventos do programa têm entrada gratuita.
Na manhã da abertura, dia 09, o seminário Existimos Porque o Paraguassu Existe promove o encontro dos artistas com lideranças da região. “Pensamos em propor este encontro logo no começo porque os habitantes destas comunidades tradicionais têm muito a trocar com os participantes, principalmente no que se refere aos saberes de pescadores e marisqueiras, por exemplo. Pessoas intimamente ligadas à realidade do rio e às particularidades ambientais da região”, comenta Selma Santos, uma das curadoras do Programa e líder comunitária quilombola do Engenho da Ponte.
Ainda no dia 09, às 14h, acontece uma apresentação da Esmola Cantada, um festejo típico de comunidades do Vale de Iguape, que se organizam anualmente para homenagear São Roque, que no sincretismo religioso representa Obaluaiê ou Omolu, o Orixá da saúde e da cura no Candomblé.
E a partir do dia 16 de setembro a casa/ateliê da Praça da Aclamação recebe visitantes para ver e discutir os processos artísticos em andamento durante a Residência.
Rede de alianças – “O programa nasce de um interesse em estabelecer alianças entre nós, do campo da arte, com comunidades tradicionais e instituições ligadas à proteção ambiental, que vivem uma relação mais específica e detida com o rio”, comenta Lucas Lago, artista e pesquisador em artes visuais que também é curador do Programa. Ele acrescenta ainda que, além do estabelecimento desta rede de alianças locais, o projeto permite alianças com outros territórios através dos artistas selecionados e da bagagem de práticas e experiências que estes artistas podem oferecer uns aos outros e as discussões que o Programa pretende visibilizar.
“O projeto tem este perfil, este desejo de criar alianças entre territórios distintos e conectar artistas que estão produzindo em diferentes lugares, enfrentando diferentes questões socioambientais através de seus trabalhos”, complementa Joyce Delfim, curadora e coordenadora da Residência Artística. Ao todo, a chamada aberta para a seleção recebeu 70 inscrições de artistas dos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte.
“A gente ficou muito feliz com a diversidade de abordagens e com a qualidade da grande maioria dos projetos inscritos, que atendia às solicitações de nossa chamada, o que incluía a ligação dos projetos e seus autores com práticas artísticas e estratégias vinculadas às questões de território, em seus locais de origem”, pontua Lucas Feres, artista visual e o quarto curador do grupo responsável por pensar e estruturar a iniciativa. Durante os 17 dias de Residência os artistas habitarão a casa-ateliê na praça da Aclamação, onde vão dormir, se alimentar e conviver comunitariamente. “A gente aposta nessa possibilidade de experiência cotidiana e mais informal e sua potência para promover diversas formas de troca de saberes”, destaca Lucas.
Para Raoms Soares, gravador, gravurista e realizador audiovisual de Sirinhaém, em Pernambuco, participar da Residência é poder conectar através de sua pesquisa, “as águas do rio Sirinhaém com as do Paraguassu, num processo de ampliação em escala, significados e possibilidades nessa jornada molhada, imaginando futuros em que nossas existências sejam possíveis”. Já Mariana Isla, fotógrafa e produtora de audiovisual que vive e trabalha em Aracaju (SE) acredita que a experiência será rica em bons encontros, “e eu aposto nos encontros como força motriz em qualquer processo de criação”, afirma.
E a baiana Barbara Manuela Silva, que mora em Cachoeira, trabalha com escrita, fotografia e é também mestranda em História da África e dos povos na UFRB/BA espera que o tempo na Residência, “traga contribuições para a minha pesquisa, tanto artística quanto acadêmica. Sendo eu também uma marisqueira, que ao longo da vida vem ouvindo sobre as marés, sobre como era e como está o Paraguassu, encaro o projeto como uma possibilidade de compreender os múltiplos olhares da cidade de Cachoeira sobre este rio”, acredita.
Embora a abertura da Residência para o público da cidade aconteça na segunda-feira, 09, os artistas chegam a Cachoeira já na sexta-feira, dia 06 de setembro e durante o final de semana visitam a comunidade quilombola do Engenho da Ponte e a Reserva Extrativista Marinha (RESEX) da Baía do Iguape. Nesta atividade na Reserva os artistas serão acompanhados por técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental que apoia o projeto. “Estas são ações importantes no início da Residência porque permitem diálogos e descobertas a partir das vivências de pessoas e instituições que têm uma relação de estreita proximidade com o Paraguassu e que podem nos ensinar como chegar de forma adequada nesse território”, comenta Feres.
A Plataforma Guará é uma iniciativa que articula arte e ecologia para o estabelecimento de ações e parcerias entre artistas, pesquisadores, lideranças quilombolas e instituições ambientais como o ICMBio, a partir do estuário do Rio Paraguassu, maior rio genuinamente baiano, que nasce na Serra do Sincorá, na Chapada Diamantina, atravessa 81 municípios do estado e deságua na Baía de Todos os Santos.
Para acompanhar as atividades da Residência e os eventos que ela promove, é possível seguir a Plataforma Guará nos perfis do projeto no Instagram @guaraplataforma e no Facebook(perfil Plataforma Guará).
O Programa de Residência Artística Escutar o Paraguassu é patrocinado pelo Banco do Nordeste, através da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, Governo Federal.
Gil Maciel Rocha, Assessor de Imprensa (MTb 589 / AL)
Contato 71 991603088 (WhatsApp) ou guaraplataforma.imprensa@gmail.com
SERVIÇO
Programa de Residência Artística Escutar o Paraguassu
DIA 09 DE SETEMBRO.
Abertura oficial do Programa, das 09h às 16h, na Praça da Aclamação, número 08, em Cachoeira/Bahia. Entrada gratuita
09h – Seminário/Mesa Existimos porque o Paraguassu existe*
Mediação da curadora Selma Santos (Comunidade Quilombola do Engenho da Ponte). Com Mãe Juvani (Comunidade Quilombola do Kaonge), Janete Barbosa (Comunidade Quilombola do Guaí) e Ananias Viana (Comunidade Quilombola do Kaonge)
14h – Apresentação da Esmola Cantada da Comunidade Quilombola do Engenho da Ponte
*Haverá um ônibus (ida e volta) para os moradores das comunidades quilombolas da Bacia e do Vale do Iguape participarem do evento, com saída às 07h
DIA 16 DE SETEMBRO
Abertura da Mostra de Processos Artísticos da Residência Escutar o Paraguassu.
A partir das 17h, na Praça da Aclamação, número 08, em Cachoeira/Bahia. Entrada gratuita.
A Mostra acontece até dia 21 de setembro. E os detalhes de sua programação ainda serão combinados com os artistas selecionados. Os horários das apresentações serão publicados no Instagram da Plataforma Guará em @plataformaguara e no perfil Plataforma Guará, no Facebook.
OS ARTISTAS
Alex Oliveira (Jequié/Bahia)
Atua como fotógrafo e artista visual, desenvolvendo pesquisas artísticas que buscam relacionar fotografia, performance e intervenção urbana. Em 2022, foi um dos artistas premiados nos Salões de Artes Visuais da Bahia. Em 2021 foi indicado ao Prêmio Pipa (uma das mais importantes premiações de arte contemporânea do Brasil) e finalista do 1° Prêmio Adelina de Fotografia. Em 2019, foi selecionado na Bolsa Pampulha (BH) dando início ao projeto Fotoperformance Popular.
Barbara Manuela Silva dos Santos (Cachoeira/Bahia)
Jovem negra, marisqueira da Comunidade Quilombola do Engenho da Ponte em Cachoeira, é apaixonada pelo afeto de narrar histórias dos povos tradicionais com escritas e fotografias. É criadora do projeto Prosas Literárias, brincante de cultura popular quilombola e arte-educadora comunitária. Atualmente é Mestranda em História da África e dos povos e cursa a Especialização em História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, graduação em Licenciatura Interdisciplinar em Artes, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB/BA). Integra o Coletivo de Jovens do Engenho da Ponte (CQBVI).
Marcos da Matta (Cachoeira/BA)
Marcos da Matta é natural de Conceição do Almeida (BA). Vive e trabalha como artista visual em Cachoeira/Bahia, onde se tornou Bacharel em Artes Visuais em 2019, pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB/BA). É integrante do grupo de artistas Práticas Desobedientes. Suas obras têm influência do cotidiano vivido na cultura do Recôncavo, suas religiões, trabalhos informais e como essas questões compõem tanto sua identidade como as identidades dos outros sujeitos.
Mariana Isla (Aracaju/SE)
Criada no estado do Acre, na capital Rio Branco, Mariana Isla tem 28 anos e é aluna do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe (UFS/SE). Mora em Sergipe desde 2018, quando se mudou do Acre para ingressar no curso. O interesse por cinema nasceu ainda em 2012 quando passou a participar de cineclubes e produções independentes. Apaixonou-se primeiro pela fotografia, depois pela foto-movimento. No percurso, se encontrou na luta política e faz do audiovisual um aliado de combate.
Railane Raio (Teresina/Piauí)
Filha de mãe piauiense e pai paraense, carrega consigo saberes e afetos do campo, da floresta e da cidade. Artista multilinguagem, residente do Memorial Esperança Garcia e curadora do Espaço Artístico Quintal do Curiólogo. Circula entre as artes cênicas e visuais. Tem carreira solo e colabora com quatro coletivos culturais no estado do Piauí: Salve Rainha, Latinas, Voragem e Trupe de Mulheres Esperança Garcia, além de participar da Rede de Mulheres Negras do Nordeste.
Raoms Soares (Sirinhaém/Pernambuco)
Raoms Soares, 34, é artista visual, e realizador audiovisual, exerce suas atividades a partir do município de Sirinhaém (PE), com trabalhos voltados para a preservação das comunidades tradicionais da Zona da Mata e Litoral Sul do Estado. Atua como ilustrador, gravurista, criador e produtor de cinema de animação, documental e de álbuns visuais. Integra a Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e da NYAMA animação negra.
A EQUIPE CURATORIAL
Joyce Delfim – Coordenação e curadoria geral
Joyce Delfim atua como pesquisadora, curadora e educadora em arte. Vive em Cachoeira, no Recôncavo baiano. É bacharel em História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Estudos Avançados em História da Arte pela Universidade de Salamanca (Espanha) e doutoranda em Artes Visuais, na linha de História e Teoria da Arte, pela Universidade Federal da Bahia. Trabalhou como curadora independente em diversas exposições, das quais destaca: Limiares no Paço Imperial (RJ, 2017, curadoria coletiva); Transformar, Deformar, Dissipar na Casa Fiat de Cultura (BH, 2017) e no Centro Cultural Correios (RJ, 2018); Sutur|ar Libert|ar no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (RJ, 2019); Figurar o impossível no Palácio das Artes (BH, 2020/21) – curadoria pela qual ganhou o Prêmio Décio Noviello de Artes Visuais 2020; Aos pés do Caboclo, luta no Centro de Cultura Manoel Querino (BA, 2022) e Língua vegetal na Galeria do Ativa Atelier Livre (BA, 2023). Em suas pesquisas acadêmicas e curatoriais recentes, investiga os modos de se relacionar com a terra na arte contemporânea brasileira; a tese do Antropoceno e seus desdobramentos; e os ecofeminismos.
Selma Santos – Curadora convidada
Mulher negra quilombola, educadora popular, marisqueira e moradora e liderança da Comunidade Quilombola do Engenho da Ponte (Cachoeira/BA). Integra o Conselho Quilombola da Bacia e Vale do Iguape e é coordenadora do Coletivo de Jovens do Quilombo Engenho da Ponte e da Associação Mãe da Reserva Extrativista Marinha Baía do Iguape.
Lucas Lima Feres – Curador/tutor
Atua como artista interdisciplinar, pesquisador e produtor. É doutorando em Artes Cênicas (PPGAC/UFBA), mestre em Artes Visuais (PPGAV/UFBA) e bacharel em Artes Interdisciplinares (IHAC/UFBA). Trabalhou como produtor em diversos festivais e exposições, dos quais destaca: Festival Palco Giratório (2014-2016), Aldeya Yacarepaguá (2015-2016) e Concurso Jovens Dramaturgos (2013-2016) no Espaço Cultural Escola Sesc (RJ), Exposição e Festival Conquista Ruas (2017-2018) no Centro de Cultura Camillo de Jesus (BA), 100 Encuentro de Acción en Vivo y Diferido (2018 – BR/CO), Encontro Arte Cidade e Urbanidades (2018-2022) na Galeria Canizares (BA). Em sua atuação recentemente se destaca o Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural (FGM, 2021), pelo qual desenvolveu o projeto Memórias Situadas: Casa do Benin na Bahia; a realização de residência artística junto ao AND_Lab (Lisboa, 2022) apoiada pelo Edital de Mobilidade da Secult-BA; a participação com obra coletiva na 14a Bienal de Dakar (Senegal, 2022) e a participação na exposição coletiva A Parábola do Progresso (Sesc Pompéia, 2023).
Lucas Brito Lago – Curador/tutor
Doutorando em Arquitetura e Urbanismo (PPGAV/UFBA) e Mestre em Artes Visuais (PPGAV – UFBA), na linha de História e Teoria da Arte. Bacharel Interdisciplinar em Artes pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Pesquisador do Laboratório Urbano (FAU – UFBA). Tem experiência na área de Artes, atuando principalmente nos seguintes temas: arte e etnografia, memória e arquivos, arquitetura, cidade e questões urbanas. Interessa-se pelas práticas artísticas suas ramificações transdisciplinares, explorando linguagens artísticas como vídeo, instalação, performance e intervenção urbana, bem como os imbricamentos entre processos de criação artística e produção de conhecimento.