Todo ano a indústria produz uma espécie de azarão que é lançado sem maiores pretensões, começa a ser falado aqui e ali a boca miúda, e de repente cai no gosto popular, começa a ganhar prêmios e torna-se uma revelação…
Eis que essa é a trajetória de “Os Rejeitados”, que acabou de sair do Globo de Ouro com duas premiações de peso: Melhor ator comédia/musical e melhor atriz coadjuvante comédia/musical. Um feito para uma pequena produção…
Com um roteiro de simplicidade franciscana, onde algumas questões nem tão simples assim são sutilmente abordadas, o filme nos pega pelo coração… Poderia ser um típico filme do Natal.
A partir das férias numa escola em função dos feriados do Natal e Ano Novo, um professor velho e estilo caxias que não é bem visto pelos alunos, nem tão pouco pela diretoria, é designado para tomar conta de alunos que, em função de problemas diversos, não passarão Natal com as respectivas famílias, continuando portanto no internato… Com ele, a cozinheira do refeitório que acabara de perde seu único filho na guerra.
Está montado o tripé de uma narrativa que aborda a rejeição, o luto, a solidão e, sobretudo, a ausência de uma vida verdadeira e compartilhada… Nesta inusitada situação três alunos conseguem voltar pra casa, ficando apenas o nerd inteligente, mas rebelde, trocado no Natal pelo novo namorado da mãe.
A princípio a narrativa nos remete a “Clube dos Cinco“(quem não lembra?), mas na sua primeira meia hora o filme dá um salto ganhando contornos próprios e mostrado a realidade dos três pequenos grandes personagens: O professor rejeitado e seus traumas ao longo da vida, o garoto e sua crise existencial e a cozinheira enlutada…
Esse caldo daria o maior drama rasgado não fosse a expertise do diretor Alexander Payne, que nos deu Sideways, diga-se de passagem com o mesmo ator, o ótimo Paul Giamatti, que com leveza e poesia intercala momentos de rara contemplação e beleza com outros de um humor sutil e inteligente.
Ele mantém o equilíbrio necessário para boa e crescente narrativa do filme. As atuações são excelentes, vide as premiações justas e pontuais… O garoto escolhido, Dominic Sessa, foi encontrado de fato em um internato, uma cara nova talentosa que promete. Nos brinda com grandes momentos e possui um potencial dramático pouco visto em garotos de sua idade, uma promessa.
A atuação do Paul nos encanta em cada fala de seu texto. Suas tiradas são de uma inteligência e ironia que são de fato o ponto alto do roteiro e por consequência da narrativa.
Da’Vine Joy Randoph nos brinda com uma cozinheira sofrida, angustiada, mas nem por isso menos irônica e ousada.
Como vemos, os três em seus bons momento batem um bolão.
E a história é emoldurada por uma sonoplastia muito bacana dos anos 70. “OS Rejeitados” é de uma nostalgia a toda prova, um fazer cinema meio que artesanal, com poesia, alma e sobretudo com amor, muito amor ao cinema…
Um descanso para nós passarmos duas horas embalados por uma narrativa desprovida de celulares e toda a parafernália digita.
Encontros e desencontros de vidas que se olham nos olhos, dividem espaços, choram, riem e principalmente VIVEM.
Para os amantes do bom cinema é a pedida obrigatória!
Ficha Técnica:
Título: “Os Rejeitados”
Direção: Alexander Payne
Elenco: Paul Giamatti. Dominic Sessa, Da’Vine Joy Randoph, entre outros
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