De acordo com a PNAD 2023, mais de 90% das crianças e adolescentes no país entre 10 e 13 anos têm acesso a internet diariamente; dessas, 54,8% possuíam um aparelho celular do tipo smartphone. Cada vez mais mais expostos à tecnologia, crianças e adolescentes usam o eletrônico de maneira excessiva, afetando o desenvolvimento cerebral e o desempenho escolar. A Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) afirma que o uso excessivo de smartphones ou tablets por crianças e adolescentes na escola impacta o aprendizado. Na visão da entidade, o uso desta tecnologia digital deve ser empregado como uma ferramenta auxiliar, não servindo para substituir a interação humana.
O documento ‘Relatório de monitoramento global da educação, resumo, 2023: a tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?’, a Unesco enfatiza a necessidade de uma “visão centrada no ser humano”. O órgão da também recomenda que os países estabeleçam suas diretrizes para o uso da tecnologia para garantir que ela complemente o ensino presencial, que continua sendo crucial para o aprendizado, além do estabelecimento de padrões para conectar as escolas à internet até 2030 e que o foco do uso da tecnologia digital permaneça nos alunos de baixa renda.
O publicitário e poeta Marcelo Caettano, 49 anos e pai de Márcio Caettano de 10 anos, estabeleceu regras rígidas para o uso do eletrônico pelo garoto, com o objetivo de proteger a saúde da criança e o desempenho escolar.
“Nada de telas antes da escola. Isso é para não atrasar as coisas do dia a dia, para chegar no tempo certo e até para não criar o hábito e ansiedade de acordar de manhã e já querer ir para o celular. Nós estipulamos duas horas de uso por dia, porque na época da pandemia o tempo na tela ficou muito grande. Ele desenvolveu um certo grau de miopia e a gente viu que era por causa dessa questão de concentrar a visão em telas pequenas. Nós impusemos as regras para preservá-lo, para a saúde dele. Nós temos essa preocupação”, diz o Marcelo.
Além disso, a criança só assiste a canais no Youtube conhecidos pelos pais e que não mencionam palavrões; ao usar o celular no quarto, a porta deve estar sempre aberta. Não são permitidos chats com pessoas que não sejam da família ou do colégio e nada de eletrônicos na escola ou no banheiro. Aos finais de semana, o tempo de uso do smartphone é flexibilizado, sendo somente permitido usá-lo após as 9 horas e após o café da manhã e de escovar os dentes.
Caettano enfatiza que conversa muito com o filho para fazê-lo entender a importância de preencher o tempo com atividades lúdicas. “Eu e minha esposa Marta somos do interior, tivemos uma infância diferente. A gente prioriza que ele aproveite o tempo livre com brincadeiras, andar de bicicleta, de estar com os amigos. Ele faz capoeira, gosta da atividade. Ele pode até ser ligado em eletrônicos, mas desfruta de outras atividades também”.
Apesar de ser um menino, Márcio Caettano é maduro para idade e concorda com as regras impostas pelos pais. “Eu acho elas muito boas porque são importantes para mim. Eu preciso,senão atrapalha minha miopia e também corre o risco de eu ficar viciado e eu não querer brincar com outras crianças , fazer minhas atividades e só ficar grudado no celular”, revela o garoto que utiliza o smartphone para jogar. “Gosto [dos jogos] por causa da interatividade e eu me divirto bastante”.
A administradora Verônica Santa Bárbara, 35 anos, possui uma filha de 4 anos de idade. A criança usa o aparelho para assistir desenhos. Ela gerencia o uso do smartphone para preservar a saúde da criança.
Ela usa o meu celular para assistir desenhos. Aqui regulamos o uso. Se a gente vai no restaurante a prioridade é que ela faça outras coisas, procuramos lugares que tenham diversão, né? Tenham um parquinho, que ela possa fazer coisa de criança e não ficar sentada no celular. No entanto, há certos lugares que não tem espaço infantil, aí dou [o celular], porque sei que ela vai ficar entediada, mas chamando a atenção que vai ter um limite. Às vezes o celular ajuda, é preciso recorrer ao telefone para acalmar a criança”,diz.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) faz recomendações sobre o uso de celulares por crianças na era digital. A entidade desaconselha o uso de telas por parte dos bebês. No entendimento de especialistas, o limite de tempo para crianças estarem em contato com os smartphones ou tablets são determinados pela faixa etária, sempre com supervisão dos pais:
– Menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
– Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;
– Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
– Dos 11 aos 18 anos: entre duas e três horas por dia.
Em 2020, a sociedade publicou a atualização do Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde com a intenção de promover o bem-estar de crianças e adolescentes em contato constante com tecnologias digitais (smartphones, computadores e tablets). O documento, que foi idealizado pelo Grupo de Trabalho sobre Saúde na Era Digital da SBP, complementa as recomendações lançadas em 2016 sobre a temática.
O manual é enfático ao demonstrar que “as novas mídias preenchem vácuos – ócio, tédio, necessidade de entretenimento, abandono afetivo ou mesmo pais ‘ultra ocupados’, muitas vezes, com seus próprios celulares. As consequências, tanto do acesso a conteúdo inadequado quanto do uso excessivo, têm sido constatadas nos relatos de acidentes, abusos de privacidade, distúrbios de aprendizado, baixo desempenho escolar, atrasos no desenvolvimento, entre outros”.
Entre as principais orientações estão: nada de telas durante as refeições; desconectar uma a duas horas antes de dormir e criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família, incluindo momentos de desconexão e mais convivência familiar. A íntegra do Manual de Orientação pode ser acessada neste link (https://encurtador.com.br/gyzS4).
Dicas para diminuir o uso do smartphone
Tenha consciência: Você necessita reconhecer que usa o smartphone em excesso. Monitore o tempo que passa na tela do aparelho utilizando ferramentas disponíveis no próprio sistema operacional ou aplicativos específicos (Forest, Space, Freedom, Moment, OffScream e AppBlock são exemplos. Esses aplicativos estão disponíveis para o sistema Android e iPhone – iOS). Essa etapa importante te dará uma dimensão do problema e auxilia a definir metas realistas.
Veja quais são os gatilhos: Fique atento em quais situações impulsionam o uso do smartphone com frequência. É durante o transporte público? Antes de dormir? Nas redes sociais? Ao identificar esses gatilhos, comece a evitá-los ou encontre alternativas para lidar com eles.
Desative as notificações: As notificações constantes são um grande convite para o uso do smartphone. Desative as notificações de aplicativos que não sejam essenciais, como redes sociais, jogos e e-mails. Assim, você só será alertado quando realmente precisar.
Imponha limites: Defina horários livres de celular, como durante as refeições, momentos em família e antes de dormir. Estabeleça um “ritual” para deixar o aparelho de lado nestes horários, colocando-o em uma gaveta ou em outro cômodo da casa.
Encontre alternativas: Substitua o uso do eletrônico por outras atividades. Leia um livro, pratique um esporte, ouça músicas (de preferência no rádio), faça meditação ou converse com amigos ou familiares. Explore novos hobbies e interesses que te afastem por completo da tela do celular.
Procure ajuda de um profissional: Se você perceber que não consegue controlar o uso do smartphone por vontade própria, procure ajuda de um especialista. Um psicólogo ou terapeuta podem auxiliar a identificar as causas do problema e desenvolver estratégias para lidar com o vício.
O smartphone é uma ferramenta útil, mas não deve dominar sua vida. Ao seguir essas dicas, você poderá desenvolver um relacionamento mais saudável e inteligente com a tecnologia, sem se tornar refém dela.