Por Doris Pinheiro
Sábado de Aleluia fui à estreia do espetáculo “Vou Te Contar”, com direção e atuação de Marcelo Praddo, no Teatro SESI Rio Vermelho. Tendo como base os textos do jornalista paulista Christian Carvalho Cruz, extraídos de sua coluna “Trombadas”, a peça coloca em cena 5 personagens brasileiros, habitantes de São Paulo capital, mas que poderiam estar em qualquer lugar do Brasil.
Parei por aqui com minha banda jornalista…
Ao entrar dei de cara com Marcelo recebendo todo mundo, vestido de calça e camisa cinzas. Olhei para o palco e haviam cinco pares de sapatos e uma cadeira, além de uma mesinha com uma taça de água lá no fundo. A fumaça cênica (sei lá como se chama isso) inundou a boca de cena, o alarme disparou, todo mundo riu, e Marcelo com um sorriso calmo no rosto recebeu a maior concentração de pessoas ilustres ligadas às artes cênicas e afins que eu vi nos últimos tempos. E olhe que cabia muito mais, o teatro é bem pequeno.
Sentada, pensei cá comigo com minha cabeça racional: “Poxa, fazer monólogo é difícil… e tão assim na cara da plateia. Mal sabia eu que era muito mais que isso. São 5 monólogos, 5 mini-peças, cinco personagens que são colocados em cena depois que o ator calça seus sapatos. São 5 almas vestidas e desnudadas por ele: o jovem paulistano artista-realista, a adolescente que morre de dor e tem uma baita surpresa/ a travesti que já abalou Paris / a doce mineira e seu mundo entre os livros / o ex-guarda de presídio que vai trabalhar no circo. Isso assim em linhas muito gerais.
A cada personagem incorporado por Marcelo emoções são remexidas em quem assiste. Eu fiquei angustiada, me revoltei, chorei, ri, senti ternura, orgulho, um monte de emoções e sensações… mas fiquei principalmente muito, muito impressionada, impactada mesmo, com a atuação de Marcelo Praddo. Então, para você que lê agora, o que eu tenho a dizer é : vá assistir “Vou Te Contar”. Se não for vai perder um dos espetáculos mais sensacionais que já pisaram na ribalta baiana. Então, só me restou conversar com Marcelo Praddo…
Doris Pinheiro – Como foi construído o texto?
Marcelo Praddo – Quando li os textos de Christian, vi que tinha monólogos prontos para serem encenados. Meu trabalho foi aparar arestas para o palco, pensando no ritmo que queria imprimir ao espetáculo e nas adaptações necessárias de um texto jornalístico/literário, que se transforma em um texto dramatúrgico, quando encenado.
DP – Como você chegou a este trabalho do jornalista Christian Carvalho Cruz?
MP – Conheci o trabalho de Christian, por acaso, num portal de notícias. O título de uma das histórias me chamou atenção e fui ver do que se tratava. Era a coluna Trombadas, um projeto lindo, que se aventurava em um texto jornalístico/literário. Fiquei completamente tomado pelas histórias e pelas personagens e comecei a ler várias delas. São dezenas de histórias reais, de pessoas que o autor foi encontrando nas ruas de São Paulo. Como digo no início do espetáculo ” histórias reais de um Brasil surreal”.
DP – Como é fazer 5 monólogos…
MP – Fazer 5 monólogos significa, praticamente, fazer 5 pequenas peças. É um exercício de concentração e de habilidades corporais e vocais, para um ator. É sempre um desafio e um grande deleite, porque esse é o ofício de quem está no palco, se entregar às personagens, para criar um elo de comunicação direta com o espectador. Não é um trabalho fácil, mas é muito prazeroso!
DP – Imagino que deva ter tido tantas outras histórias. Por que estas?
MP – Sim. São dezenas de histórias e o trabalho de garimpagem para o espetáculo foi muito difícil, porque todas aquelas vidas são todas muito especiais. A princípio, pensei em escolher apenas personagens nordestinos, habitantes da capital paulista…depois pensei em outro viés…e depois, mais outro…rs… aos poucos, a minha relação com cada uma das histórias foi ficando mais íntima, até chegar aos 5 monólogos que enceno. Num mundo em que valorizamos e monetizamos tanta bobagem, acredito que por em cena essas personagens é essencial, pra colocarmos em perspectiva o valor de nossas vidas e o que criamos aqui, em nossa passagem por esse mundão.
DP – O que tem de fazer para a peça continuar em cartaz
MP – Esse espetáculo foi patrocinado pela minha família, amigos, conhecidos e desconhecidos que amam o teatro. A vida dele, agora, depende do interesse do público, pra que a gente consiga ter casa cheia e seguir por conta própria, já que não conseguimos patrocínio.
O que dizem sobre “Vou Te Contar”:
Christian Carvalho Cruz – jornalista e autor dos textos – “Acho que o espetáculo do Marcelo reforça a minha crença na palavra escrita, nas histórias, na singeleza das coisas, na solidariedade, na imaginação, na criatividade e em tudo que é humano, belo e resiste a esse mundo medíocre de influencers e ChatGPTs.
João Guisante – Ator, diretor e dramaturgo – “Amigo, muito obrigado pela noite de ontem. Saí muito feliz do teatro e acordei hoje ainda com a peça. Parabéns demais pela realização. Um trabalho tão honesto, cheio de sutilezas e uma interpretação brilhante. E pautado numa simplicidade, que eu particularmente adoro. A imagem de calçar os personagens é uma maneira poética tão bonita de conduzir a gente a também calçar junto com você e se colocar no lugar do outro. Vida longa ao espetáculo. Beijo grande”
Edvana Carvalho – Atriz e poetisa – “Adorei ver o solo de Marcelo, personagens reais, que surgem através de um sapato, boas histórias contada no palco. É sempre muito bom ver teatro bainano, tem vigor, dá gosto sair de casa para ver. Marcelo é um grande artista e um ser humano joia rara. Evoé!”
Andrezão Simões – Realizador artístico, terapeuta Junguiano e comunicador – “Praddos verdejantes. Pessoas de natureza encantadora. Marcelo e suas personagens em “Vou Te Contar” , textos de escuta do jornalista paulista Christian Carvalho, que estão sendo encenados em um solo de Marcelo Praddo, ator que empresta sua alma encantadora para gente diversa que narra suas histórias de vida. Arrebatador espetáculo. Construído com um fim exuberante de passos e calçados pela aventura da caminhada de cada um pela vida. Agradecido pela oportunidade de lhe assistir, queridíssimo. Que o espírito da Páscoa ressuscite o desejo de estarmos juntos lotando as casas de arte da Bahia, com nossos aplausos a seres do teatro deste nosso lugar. Evoé, Marcelo. Parabéns pela aula e pelo desafio de realizar, do jeito que realizou, algo que nos convoca a refletir sobre os nossos movimentos individuais e coletivos. O movimento da vida…
Frank Menezes – Ator e dramaturgo – “Neste mundo que tem ficado cada vez mais vazio, oco, sem alma, pois vive de consumir virtualmente a frivolidade, a sensibilidade de Marcelo de mostrar cenicamente a história de pessoas “comuns”, é um presente para nossos corações carentes de beleza e significados. Marcelo Praddo é um ator brilhante, que se dirigindo, subiu no palco para emprestar sua alma para vestir a pele daqueles que a internet não vê e o resultado é um espetáculo de rara beleza, que emociona, nos faz rir e nos deixa encantados. Viva Marcelo Praddo, Viva o Teatro!”
Bertrand Duarte – Ator – “Parece que o alarme de incêndio – que disparou por conta do efeito “fog” antes da peça começar – já enunciava que Marcelo Praddo iria mais uma vez incendiar a cena com seu enorme talento e versatilidade. Com Celo em cena, tudo do seu repertório especial é esperado. Mas um grande ator sempre terá um coelho de cor diferente pra tirar da cartola. Em “Vou te Contar”, com a extraordinária façanha de apenas um adereço, Praddo ilumina a cena de cada personagem, entregando sutileza e humanidade, com um humor muito especial. Imperdível!”
Evelin Buchegger – Atriz – “Que invenção dos deuses esse negócio de teatro !!! Ontem fui a estreia do espetáculo “Vou te Contar”, com Marcelo Praddo, num sábado de Aleluia. Teatro essencial como (diz nossa mestre Denise Stoklos), o ator todo instrumento para as palavras nos tocarem, onde as notas são as vidas de seres humanos que “vivem” ou sub vivem em São Paulo! Histórias reais de um povo brasileiro que sofre principalmente pela parca administração governamental que insiste em manter esse modus operandi… Marcelo dá passagem a essas vidas que fazem um golaço na nossa empatia e, se rirmos, é de nervoso, é para não chorar, é instinto de sobrevivência nosso, ”humor muitas vezes para não sucumbir” … Eu só fico pensando nos ensaios, quantas vezes ele deve ter chorado, ou dentro de si mesmo abraçado uma parte sua como para chegar neles, e conseguir seguir em frente na realização desse projeto tão importante, simples e profundo! Somos nós ! A vontade que dá é conhecer todos eles, visitar, mandar mensagem! Desejar feliz ano Novo… Marcelo Praddo pariu de novo essas vidas para nós criarmos da melhor maneira dentro e fora de nós! Não deixem de ir visitar esses seres, e ver nosso gigante Marcelo Parddo
Mário Edson – Artista visual e fotógrafo – O espetáculo Vou te Contar que tem direção e atuação de @marcelo_praddo com texto de @christianccruz teve estreia essa noite. O espetáculo nos brinda com cinco cenas, cujo protagonismo do Marcelo nos encanta e arrebata da primeira à última … Com um cenário de rara beleza franciscana que permite ao Marcelo usar todo seu talento emoldurado por um trabalho de corpo espetacular dando vida e voz aos cinco personagens de brilho próprio e histórias profundas e de pertinente reflexão… Nele é possível mergulharmos nas profundezas dos sentimentos mais nobres, belos e edificantes da existência humana, conseguindo ainda equilibrar com humor inteligente e eficaz… Mérito dos grandes mestres em cena. A iluminação aliada a criativa sonoplastia arrematam com louvor um espetáculo que já nasce sucesso! BRAVO Marcelo !!!”
Na equipe do espetáculo : Ana Paula Prado, Nanda Behrens, Bárbara Barbará, Jarbas Bittencourt, Guilherme Hunder, Eduardo Tudella, Núbya Guimarães, Belmiro Neto e Pat Simplício, Diney Araújo, Sarai Reis e Marinalva Nascimento
Vou te Contar – Em cartaz no Teatro do SESI-Rio Vermelho, todos os sábados e domingos até 05 de maio, sempre às 20h. O ingressos custam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), e podem ser adquiridos no Sympla, ou nos dias de espetáculo, na bilheteria do teatro, a partir das 18 horas.