Por Gina Marocci
Os navegantes, em suas aventuras pelos mares, venciam o medo das tormentas e das criaturas marinhas, seres míticos ou não. Porém, maior temor era provocado pelos piratas e corsários, que a partir das Grandes Navegações começaram a atacar navios que saíam do Novo Mundo para a Europa, além de saquear vilas e cidades costeiras.
Os filmes hollywoodianos marcaram gerações de cinéfilos com aventuras, romances e alguma história. O primeiro filme de piratas, O Pirata Negro, ainda era mudo, mas foi A Ilha do Tesouro (1934), terceira adaptação do romance de Robert Stevenson (1883, quem consolidou o gosto popular pelo tema. Nele, o terrível Long John Silver era um pirata perverso, com um papagaio sobre o ombro, e vivia em busca de um cobiçado tesouro. A série de filmes da franquia Piratas do Caribe, capitaneada pelo excêntrico pirata Jack Sparrow, rivaliza com os melhores filmes de piratas de todos os tempos. Sparrrow é traiçoeiro, ladrão, mentiroso, oportunista e tem um ego gigante, mesmo assim consegue atrair pessoas de bem para o seu lado. Ele não serve a ninguém, apenas aos seus interesses.

Nos mares do Novo Mundo, as batalhas e encontros foram terríveis! Isso porque os reinos que não tinham colônias, ou queriam expandir o domínio sobre as Américas, como Inglaterra, França e Holanda, incentivavam os ataques aos navios portugueses e espanhóis. E para dar um sentido diferente para a pirataria, usavam a Carta de Corso, outorgada a um capitão de navio, e à sua tripulação, para assaltar embarcações que tivessem bandeira de qualquer país inimigo. Os corsários, então, se diferenciavam dos piratas por ter apoio de reinos e, mais para o século XVII, das companhias de comércio organizadas por grandes investidores. Afinal, as rotas marítimas que os portugueses e espanhóis faziam eram cheias de navios negreiros, como também, embarcações com toneladas de açúcar e tabaco, enviados para a Europa. Do mesmo modo, ricas eram as especiarias e materiais produzidos na Europa, necessários às colônias americanas.
No litoral brasileiro, os primeiros foram os franceses, piratas ou corsários, não tenho certeza, mas eles logo fizeram contato e escambo com os povos que habitavam a costa. Madeiras nobres, animais silvestres e plantas medicinais serviram como primeiras mercadorias, enquanto não se descobriram metais preciosos. No sul do Brasil, os franceses, comandados por Binot de Gonneville, aportaram na baía da Babitonga (Santa Catarina) em 1504, e conviveram com os Carijós durante meses, com o objetivo de conseguir produtos para levar à França.
Apesar de não ser reconhecido como pirata, Diogo Álvares Correia, o famoso Caramuru, naufragou na Bahia (1510 ou 1511), possivelmente o único sobrevivente de um navio francês. Ele rapidamente se adaptou aos tupinambás, inclusive casou-se com uma nativa, filha de um dos chefes, que recebeu o nome cristão de Catarina. Durante cerca de 40 anos, ele foi o principal elo entre os nativos e os franceses que aqui aportavam para fazer escambos. Essa ligação entre Caramuru, os franceses e os nativos, é apontada como um dos problemas enfrentados por Francisco Pereira Coutinho, único donatário da Capitania da Bahia.

O povo tupinambá, gravura de Theodor de Bry, século XVI (Reprodução/Os primeiros brasileiros, Museu Nacional UFRJ)
Estima-se que entre 1500 e 1534, cerca de 350 navios portugueses tenham sido assaltados por piratas ou corsários franceses. Até meados do século XVI, os franceses praticavam apenas o escambo com os nativos, contudo as ações mais ousadas deles aconteceram nas capitanias do Rio de Janeiro e do Maranhão e Grão-Pará. Em 1555, eles invadiram a baía da Guanabara, ocuparam a cidade do Rio de Janeiro para fundar a França Antártica, primeira colônia francesa no Brasil, comandados pelo francês calvinista Nicolas Durand Villegagnon. Eles foram expulsos em 1567 durante o governo do terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá. Em 1597, o corsário francês Jacques Riffault aportou no litoral do Maranhão para conquistar terras em nome da França. Ele preparou o caminho para o militar Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, que fundou a França Equinocial em 1612, e fundou, também, a cidade de São Luís em homenagem ao rei francês.

Mapa da França Equinocial.
Em três anos eles expandiram o território francês, que se estendeu para os atuais estados do Pará, Amapá e Tocantins. Nesse período o Brasil estava sob o poder de Felipe III de Espanha, portanto foi um exército de portugueses e espanhóis quem expulsou os franceses em 1615.
Os franceses, contudo, não desistiram de se fixar na América do Sul, pois em 1637 fundaram Caiena, que hoje é a Guiana Francesa. Aliás, as três Guianas foram fundadas pelas três nações que tentaram se fixar no Brasil colonial: França, Inglaterra e Holanda.
A carência de recursos para a manutenção das capitanias, principalmente para a construção de fortificações, a manutenção de homens com armas e munições, aliados à falta de pólvora, transformavam as vilas e cidades litorâneas, bem como as rotas comerciais mais utilizadas pelos negociantes, alvos fáceis para os piratas e corsários ao longo de todo o período colonial.
Não nos enganemos, o objetivo da maioria dos piratas e corsários era obter mercadorias, metais e pedras preciosas. Para isso, tudo era permitido: assaltar, saquear, queimar vilas e cidades, violentar mulheres e matar. Os mercenários chegavam primeiro, faziam o trabalho sujo, e depois chegavam aqueles que tinham títulos militares ou de nobreza.
Havia entre os invasores alguns letrados, capazes de relatar nos diários os fatos, mas, também, as fragilidades defensivas dos lugares ocupados. Outros, em menor número, mas de grande importância, tinham formação militar ou eram engenheiros militares capazes de elaborar mapas das vilas, cidades ou de uma região. Assim, dados populacionais, topográficos, de estruturas urbanas e produção agropecuária regional eram fundamentais para se tirar maior proveito da terra conquistada.
REFERÊNCIAS
MESQUITA, J. L. Piratas que atormentaram o litoral do Brasil. Publicado em 30 de novembro de 2018. Disponível em: https://marsemfim.com.br/piratas-que-atormentaram-o-litoral-do-brasil/. Acesso em: 9 jun. 2025.
MEDEIROS, G. G. de. Da segurança da doca à boca do canhão: a Bahia as voltas com piratas e corsários nos séculos XVII e XIX. 52 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) — Universidade de Brasília, Brasília, 2021. Disponível em: https://bdm.unb.br/handle/10483/30385. Acesso em: 8 jun. 2025.