Leite, frutas ácidas e pratos gordurosos, por exemplo, podem comprometer a eficácia de tratamentos
Saber como e quando ingerir um remédio, além da dosagem correta, é indispensável para o resultado do tratamento de saúde. Isso porque a interação medicamentosa com certos tipos de alimentos e bebidas pode diminuir, aumentar ou impedir a absorção dos princípios ativos, comprometendo a ação e até gerando interações adversárias.
Biomédico e professor do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Salvador (UNIFACS), Gustavo Costa explica que o efeito de um medicamento depende de vários fatores, entre eles questões genéticas, perfil de alimentação e doença prévia. “Uma pessoa com diarreia, por exemplo, apresenta trânsito intestinal mais acelerado. Com isso, o efeito do medicamento é reduzido ou anulado, pois há uma baixa absorção”, afirma.
O mesmo acontece nos casos de vômito. Nestes quadros, o recomendado é o uso por outras vias de administração, como intravenosa (diretamente na veia) e sublingual (embaixo da língua). “No entanto, uma vez que nem todas as opções disponíveis possuem essas formulações, é preciso consultar o médico ou farmacêutica após a prescrição”, alerta.
Interferências
Algumas misturas podem atrapalhar a atuação de analgésicos, antibióticos, anticoagulantes e reguladores. O biomédico ressalta que alimentos gordurosos, ricos em proteínas, muito ácidos ou alcalinos impactam diretamente na forma como o organismo processa a medicação. Carnes, leite e derivados, laranja, toranja, melão e melancia compõem essa lista.
“Os medicamentos têm grandes camadas de proteínas do nosso sangue, como a albumina. Contudo, não sabemos as diferenças entre a albumina, cuja função é o transporte de substância, e a caseína (proteína do leite), por exemplo. Por isso, ao tomar certos medicamentos junto com o leite ou alimentos ricos em proteínas, é provável que o efeito seja limitado. Para evitar tantas interferências do líquido quanto da alimentação, o ideal é o consumo em tabelas distintas”, diz Gustavo Costa.
Outro risco envolve a combinação com cafeína, presente no café, chás, refrigerantes e energéticos. Além de interferir na metabolização, o composto com ação estimulante tende a cortar o efeito ou elevar a concentração dos medicamentos no sangue, provocando intoxicação.
A utilização de dois ou mais remédios de maneira simultânea também pode anular ou potencializar o desempenho. “Muitas vezes, a mesma enzima é responsável pela metabolização dos fármacos. Quando isso acontece, a capacidade de produção dessa enzima pode ser inferior, fazendo um ser metabolizado em detrimento do outro. Como consequência, ocorre o aumento ou a diminuição da concentração de uma das medicações no sangue”, esclarece.
Armazenamento inadequado
Guardar remédios em casa exige cuidados, principalmente para manter seu poder de ação. Segundo as instruções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é importante estar atento ao prazo de validade, seguir as orientações da bula e deixar longe o alcance de crianças e animais.
“Assim como a perda do efeito, produtos vencidos ou mal armazenados elevam as chances de intoxicação. Não é por acaso que algumas embalagens são escuras, a fim de evitar a distribuição apresentada à luz. Comprimidos e drágeas também são acompanhados de sachês de sílica para amenizar a umidade dentro dos francos”, pontua o professor da UNIFACS.