Por Cássia Reuter
Com a explosão do Axé nos anos 90, a música baiana passou a experimentar uma constante transformação nas décadas seguintes, agregando novas influências e importando ritmos estrangeiros. Foi nesse cenário de reinvenção que nasceu a Motumbá, banda que completa 20 anos de estrada neste ano e continua conquistando espaços, sendo fiel à sua identidade e renovando a sua linguagem musical.
Fundado em 2004 pelo cantor, compositor e instrumentista Alexandre Guedes, o grupo se destaca pela sua estética original, incorporando elementos da cultura africana e afro-brasileira – a expressão ‘motumbá’, inclusive, é uma saudação iorubá e significa pedido de benção e boas energias –, integrando no conjunto instrumental o atabaque, djembê e malacacheta fundida com ritmos latinos como a salsa, merengue e zouk, denominando-se, por fim, como um autêntico conjunto afro-pop-caribenho.
A história da Motumbá se confunde com a do seu vocalista, contudo, o band leader Alexandre Guedes soma em sua trajetória passagens por outros projetos. Nascido e criado no bairro do Candeal, em Salvador, Alexandre iniciou o contato com a música ainda na infância, sendo o samba a sua primeira influência. Como diz o cantor “o samba vem de berço“, tornando-se, inclusive, um dos grandes defensores do tradicional samba junino.
Profissionalmente iniciou sua carreira no grupo Vai Quem Vem e em 1991, a convite de Carlinhos Brown, integrou a primeira formação da Timbalada, ao lado de Ninha, Xexéu, Patrícia, Denny, Fia Luna e Augusto Conceição. O cantor gravou quatro álbuns com a banda, entoando a voz no clássico ‘Canto pro Mar‘. Guedes deixou a Timbalada em 1997, porém, como o próprio Brown costuma dizer: “não existe ex-timbaleiro“, eternizando, assim, o artista no seleto elenco desse importante grupo percussivo.
A visibilidade e experiência que ganhou na Timbalada culminaram no reconhecimento de grandes expoentes da MPB, sendo requisitado para trabalhar como músico em projetos memoráveis como ‘Brasileiro‘ (1992), álbum de Sérgio Mendes, vencedor do Grammy Latino; ele também compôs o corpo de instrumentistas de Caetano Veloso e Gilberto Gilno álbum ‘Tropicália 2’, em 93; retomou a parceria com Brown em 98 na turnê do disco ‘Omelete Man’; e colaborou com Marisa Monte no álbum ‘Memórias, Crônicas e Declarações de Amor’, de 2000.
Após sua saída da Timbalada, Guedes decidiu aprofundar os conhecimentos na música e foi estudar percussão em Copenhague, na Dinamarca. Seguindo os passos do cacique, fundou o “laboratório sonoro” Baianada, com Xexéu e Wesley. A banda chegou a emplacar ‘Carimbó do Bom‘ – música autoral em parceria com Pito – entre as mais tocadas nas rádios, entretanto o vocalista ainda não estava satisfeito com a concepção final e sentia falta de algo inovador.
Foi quando, finalmente, em 2004, lançou a Motumbá, grupo com identidade sonora e visual única e que leva a proposta de abrigar diversos ritmos e estilos, saudando a ancestralidade, a cultura baiana e o intercâmbio musical entre Brasil e África.
Segundo o vocalista Alexandre Guedes “a Motumbá é resistência desde sua concepção. Criei com base em tudo que experimentei. Juntei ideias e ações para achar nossa sonoridade Afro Pop Caribenha e seguir a encantando e alegrando as pessoas mudo a fora. Essa é a função de nossa música. E para além disso, nossa existência nos coloca em lugar de resistir. Resistir ao tempo, as adversidades e, sobretudo, tendo a poesia de viver esses e os próximos 20 anos com leveza e sabedoria artística e humana”.
Agora os 20 anos da Banda Motumbá apontam para o respeito à história e um futuro promissor de fortalecimento identitário através da arte. Em entrevista ao site dorispinheiro.com, Alexandre Guedes falou livremente sobre suas influências, sua trajetória na banda e seus principais desafios. Acompanhe a entrevista na íntegra abaixo:
Cássia Reuter: 1 – Quais são as suas referências musicais?
Alexandre Guedes: Uma das minhas grandes referências é o samba. O samba é onde começa tudo. Tudo passa pelo samba. Aí vem meus ídolos né? Gilberto Gil, Riachão, Bethânia, Zeca Pagodinho, Marisa Monte, com quem já trabalhei no disco ‘Memórias, Crônicas e Declarações de Amor’, Carlinhos Brown, de quem sou amigo e ajudei na fundação da Timbalada, além de ser parte da primeira formação.
CR: 2 – A percussão na banda é o que principalmente representa a Motumbá?
AG: Sim! A percussão é nossa base. Minha base! Sou cria do Candeal, e tirar som do tambor é originário para mim. Faço isso desde que me entendo por gente, e trouxe toda essa energia ancestral para a Motumbá.
CR: 3 – Quais serão os novos desafios da banda?
AG: Resistir sempre! Com arte e amor! Respeitando sempre os que vierem antes de nós e ajudaram a pavimentar nosso caminho. Artisticamente falando, temos música para lançar em maio e até o próximo verão, outro single autoral. Estamos avaliando outras propostas comemorativas aos 20 anos, mas, ainda embrionário.
CR: 4 – Nestes 20 anos, muitas dificuldades a superar?
AG: Acredito que todo artista passa por dificuldades sempre, né? Mexer com cultura e arte no Brasil é sempre desafiador. A gente precisa ser persistente e seguir superando-as. Tem que ter gana e força artística. A música, vejo com uma grande flecha pra você se apegar e atravessar as dificuldades.
CR: 5 – O que esperar nos próximos 20 anos com a Motumbá?
AG: Força, fé, foco e música. A Motumbá mescla, divinamente, modéstia à parte, o sagrado e o profano. Suco de Bahia total rsrsr Então, seguir firme em nosso propósito para continuar tento boas entregas nos palcos. #motumbaxé
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Motumbá lança single em homenagem às mães
“Mão de Mãe” estará disponível nas plataformas digitais da banda a partir de 06 de maio
O cantor e compositor baiano Alexandre Guedes presenteia às mães com uma música inédita, de sua autoria, que está sendo lançado nesta segunda-feira, 6 de maio. Intitulado “Mão de Mãe”, no novo single o artista expôs de forma crua e delicada seus sentimentos e observações sobre a maternidade. Inspirado pelas mulheres que o rodeiam, em especial a sua mãe, Dona Lizonete Guedes, que faleceu em fevereiro deste ano. A relação de afeto e cuidado que mantinha com ela, encorajou, então, Alexandre a acessar esse espaço – para ele sagrado – de ser filho e exaltar os gestos e predicados maternos.
“Há dois anos, no dia das mães, vieram à mente alguns trechos de música em homenagem à data, em especial a minha mãe e minha avó. No ano seguinte dei continuidade a poesia, e, neste momento que venho atravessando, senti a necessidade de concluir a melodia e gravá-la. A letra é materna e singela e faz com que a gente se sinta acolhido e volte para o nosso ponto de partida. Por fim, é uma canção que surgiu de um momento particular e diferente e dá sequência ao que a Motumbá traduz: do sagrado ao profano, mas sempre com amor”, disse Guedes.
Ouça “Mão de Mãe” – @motumbaoficial no Instagram e /BandaMotumbaOficial no YouTube.