A Companhia de Teatro da UFBA coloca em cena no Teatro Martim Gonçalves, de 06 a 29 de setembro, de sexta a domingo, às 19h, a peça “A Visita da Velha Senhora”, com texto do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt, dramaturgia de Cleise Mendes, direção de Gil Vicente Tavares e no papel principal a grande dama do teatro brasileiro Ítala Nandi, que está em Salvador como professora visitante de Notório Saber da Escola de Teatro da UFBA. Além de Ítala Nandi, no elenco, nomes como Frank Menezes, Rui Manthur, Lúcio Tranchesi e Celso Jr. As sessões são gratuitas e abertas ao público, com senhas distribuídas no dia do espetáculo, uma hora antes da sessão. Sujeito à lotação da sala.
Em “A Visita da Velha Senhora” uma bilionária volta à sua falida cidade de Barro Mole, 45 anos depois de ter sido expulsa, imensamente grávida, pobre, e tratada como uma reles prostituta. Todos se preparam para receber a visita da velha senhora na esperança de que ela ajude a cidade com alguns milhões. Ela oferece mais, um bilhão, mas com uma condição extremamente cruel: que matem o homem que a engravidou e humilhou. A população, então, entra num conflito moral e tudo começa a desmoronar. A partir deste mote, um dos maiores clássicos da literatura mundial vai, cruelmente, desnudando a hipocrisia, a ganância, a maldade e a canalhice do ser humano.
Uma das maiores obras de todos os tempos, escrita em 1955, montada ao redor do mundo seguidamente, “A Visita da Velha Senhora” trata de temas como a justiça, a vingança e a culpa, abordados com humor, ironia e cinismo. Um texto atemporal, segundo o diretor Gil Vicente Tavares, que na adaptação batizou a cidade com o nome de “Barro Mole”, numa alusão ao nome original que remetia às palavras estrume e esterco.
“Salvador sempre foi vanguarda na montagem de grandes clássicos do teatro, com grandes atores em cena. Ítala Nandi está aqui como professora de Notório Saber. Um dia encontrei com ela na Escola de Teatro e perguntei se ela topava a interpretar a velha senhora. Ela ficou emocionada, me disse que sempre adorou o texto e aceitou e eu fiquei muito honrado, revela Gil Vicente que conta que leu este texto há mais de 20 anos e ficou encantado na época, mas que achava a possibilidade de monta-lo muito remota. “Cada dia de ensaio vou vendo a complexidade do texto e fico mais encantado”, completa ele
Ítala Nandi – Vivendo na Bahia desde o começo deste ano, Ítala Nandi é uma das grandes atrizes brasileiras de sua geração. Para ela, interpretar a Velha Senhora está sendo uma experiência maravilhosa, inesperada também, já que ela não imaginava ser intérprete deste personagem grandioso. “O texto é de uma atualidade absurda, inacreditável, parece que o tempo retrocedeu e não avançou, porque as questões que se colocam sobre a justiça, sobre os direitos humanos, como tratar das pessoas, o que significa uma cidade pequena, como ela é conduzida, isso é uma coisa inacreditável. A atualidade desse texto é muito grande… e eu diria… tragicamente… o nosso tempo regrediu”, conclui a atriz.
Personagens
Alfredo Schill – Rui Manthur – Alfredo Schill é um homem comum da Cidade de Barro Mole, que goza de uma boa reputação junto aos habitantes, inclusive indicado a sucessão do atual do prefeito. Casado com Matilde e pai de uma filha, comerciante falido, devido a atual situação econômica desastrosa, pela qual passa toda a cidade. No passado, um jovem rapagão, fogoso, ele cometeu um crime 45 anos atrás, ao negar a paternidade e jurar falso testemunho, num julgamento, colocando a sua ex-namorada, Clara Zahanassian, numa situação humilhante, diante de toda a cidade. É ele quem deve morrer para que a cidade receba a quantia de 1 bilhão …
Para Rui Manthour, interpretar este personagem é um desafio para qualquer ator que já tenha uma relativa caminhada nos palcos. “A própria dramaturgia, ainda que adaptada em nosso caso, considerada como um clássico mundial, já aponta para a complexidade da execução, pois a estrutura do texto transita pela comédia, passando pelo drama até a tragédia. A troca com os colegas e a seta indicada pela direção, tem contribuído bastante para atingir um resultado bem interessante”, afirma ele.
Prefeito – Frank Menezes – “Gil Vicente tem visão tão bela do recado artístico que o texto tem de passar, esse clássico suíço escrito 11 anos após término da Segunda Guerra Mundial, que trata da decadência, das questões do comportamento humano”, diz Frank Menezes que interpreta o Prefeito de Barro Mole, cidade decadente, falida que se prepara para receber com festa a Velha Senhora que promete salvar a cidade e os seus moradores, contanto que alguém mate seu ex-amante, Alfredo Schill. Segundo Frank, o espetáculo atravessa a comédia, a farsa e se encerra em drama. “O personagem não é algo que eu escolhesse fazer”, revela, “mas é um exercício lindo, onde me joguei de corpo e alma, completa, celebrando também o fato de estar contracenando com um elenco de 14 pessoas e cheio de grandes artistas.
O Professor – Celso Jr – O professor faz parte da elite de Barro Mole e está ansioso pela chegada da Velha Senhora que promete salvar a cidade da ruína, explica Celso Júnior que diz que entretanto, quando ela apresenta a condição (matarem o ex-namorado dela), seu personagem tem uma crise de consciência. “O Professor é a reserva moral da cidade. E não aceita a condição imposta pela Senhora” conta ele, que celebra neste espetáculo seu 100° trabalho entre direção e interpretação, nos palcos e em audiovisual e reencontra num trabalho o diretor Gil Vicente após 20 anos.
Padre e Koby – Lúcio Tranchesi – “Farei dois personagens, o padre, o representante da catedral de Barro Mole e Koby, uma das testemunhas que voltam à cidade para dar cabo ao plano de vingança da velha senhora”, conta Lucio Tranchesi que revela que para ele a peça promove grandes encontros. “Estar entre novos e velhos amigos tão talentosos, num projeto da Cia de Teatro da UFBA é mais uma vez enriquecedor”, afirma.
Os 3 maridos – Cláudio Cajaíba – “O meu personagem na verdade são 3. Eu faço o papel dos três maridos da Velha Senhora e o próprio autor sugere que seja feito pelo mesmo ator. Ela é uma colecionadora de maridos. E a todos os maridos ela dá um nome similar ao do mordomo, sob o argumento de que não se deve trocar nunca de mordomo, mas de marido sim”, conta Cláudio Cajaíba, que é diretor da Escola de Teatro da UFBA e vai atuar na peça.
Para ele fazer parte do elenco é uma oportunidade de viver de perto as agruras e as delícias de se fazer teatro e como diretor, é poder também contribuir para que a comunidade da Escola tenha sempre as melhores condições possíveis para seguir com a sua produção artística e acadêmica. Além disso, parte da equipe será de artistas do corpo docente e de estudantes do corpo discente da universidade, que estão presentes na montagem como elenco, como assistentes das várias etapas e funções do processo criativo.
Na cena
Luciano Salvador Bahia é o diretor musical de A Visita da Velha Senhora. Ele conta que a trilha sonora do espetáculo é meio minimalista, pontual, entra no final dos atos e em cenas específicas. “A gente optou por fazer uma mistura muito doida, mas ao mesmo tempo, muito inusitada de situações musicais. A gente vai ter desde Tom Zé, Pink Floyd, música clássica, música erudita da Armênia, música criada em cima de efeitos de trem, revela Luciano.
Profissional de renome internacional, o cenógrafo José Dias, com grande experiência emteatro, cinema e televisão, diz que quando realiza um trabalho em teatro respeita muito o texto, a dramaturgia, o que o autor escreveu, porque no teatro, “o importante é a palavra”. “O meu trabalho responde à proposta cênica do dramaturgo, o que o dramaturgo pretende dizer”, revela. Com mais de 480 espetáculos de teatro no currículo, José Dias, que já trabalhou com todos os grandes diretores do país, elogia a inteligência e a capacidade artística do diretor Gil Vicente Tavares. “Ele fala a mesma linguagem que eu, ele é um homem de teatro, ele tem teatro na veia. É impressionante o talento desse jovem”, afirma.
Responsável pela iluminação, Eduardo Tudelladiz que a fala da “heroína” indica um imagem que o provocou a criar seu trabalho: “quem tem meu poderio financeiro pode dar-se ao luxo de criar logo uma nova ordem mundial.” Tudela diz que o cenário criado por José Dias submerge a ação num ambiente denso e agressivo, o que contribuiu enormemente para a atmosfera fria, mórbida, que ele foi buscar.
A CIA DE TEATRO DA UFBA APRESENTA ÍTALA NANDI EM A VISITA DA VELHA SENHORA
Direção – GIL VICENTE TAVARES
Autor – FRIEDRICH DÜRRENMATT
Dramaturgia – CLEISE MENDES
ATORES CONVIDADOS
CELSO JR. – O Professor
FRANK MENEZES – O Prefeito
ÍTALA NANDI – Clara Zahanassian
LÚCIO TRANCHESI – O Padre / Cego 1
RUI MANTHUR – Alfredo Schill
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
BIRA FREITAS – O Mordomo
CLAUDIO CAJAÍBA – Maridos: 7, 8 e 9
Elenco
ARTUR CARVALHO – Chefe do Trem / Jornalista
FELLIPE FRANÇA – Primeiro cidadão
GABRIEL NASCIMENTO – O Policial
GILBERTO REYS – Segundo cidadão / gangster 1
JAMILLE DIONÍSIA FERREIRA – Senhora Schill
MELISSA DAMETTO – Filha / Cego 2
RODRIGO BITTENCOURT – Terceiro Cidadão / gangster 2
Diretora assistente e direção de movimento – BÁRBARA BARBARÁ
Direção musical – LUCIANO SALVADOR BAHIA e GIL VICENTE TAVARES
Direção de produção – SELMA SANTOS
Cenografia – JOSÉ DIAS
Iluminação – EDUARDO TUDELLA
Figurinos – ZUARTE JÚNIOR
Visagismo – WILSON d’ARGOLO
Fotografia – EDIVALMA SANTANA
Designer – GUTO CHAVES
Assessoria de imprensa – DORIS PINHEIRO
Edição de textos para mídias sociais – XANDE FATEICHA
Mídias sociais – ROAMA SANTOS
Assistente de direção – ARTUR CARVALHO
Assistente de cenografia – LETÍCIA CONDE
Assistente de produção – AMANDA CERVILHO
SERVIÇO:
A VISITA DA VELHA SENHORA
Teatro Martim Gonçalves – Canela
De 06 a 29 de setembro/24
De sexta a domingo 19h
Sessões abertas ao publico
As senhas serão distribuídas no dia do espetáculo 01 hora antes da sessão.
Sujeito à lotação da sala.