Livro de Carlos A. Lopes viaja sobre trilhos e reflete Salvador ontem, hoje e amanhã
O escritor Carlos A. Lopes lança Expresso Ver de Trem, uma obra que mescla ficção e realidade para explorar a impermanência das nossas ferrovias e seus vínculos com a cultura, meio ambiente, conquistas e instabilidades sociais. A narrativa conecta passado, presente e futuro, enriquecida por um personagem vindo de uma Salvador distópica do ano de 2222, que revisita a histórica viagem de trem realizada em 1992 entre Salvador e o Rio de Janeiro, no contexto da conferência Eco-92.
Narrada em 2022, a obra resgata o projeto Ver de Trem, uma iniciativa que uniu ativistas e artistas em um percurso ferroviário marcante, levando cultura e despertando debates pelas cidades do trajeto de dois mil quilômetros. Entre os destaques históricos, está a participação de Gilberto Gil, que acompanhou o primeiro trecho, até a cidade de Santo Amaro, e recebeu os viajantes após seis dias com um show na Estação Central do Brasil, na capital fluminense.
O cerne da obra, nas palavras do jornalista Nilson Galvão, no prefácio, é a reflexão sobre os “desdobramentos daquele happening tão bem-sucedido, entre passageiros ativistas e funcionários da Rede Ferroviária Federal e as variadas multidões ao longo de muitas paradas triunfais do Ver de Trem”. Essa experiência, que ainda reverbera no presente, leva o autor a recorrer a um leque de referências para “conferir às suas memórias um caráter de chave interpretativa”, conectando passado e futuro e oferecendo novas perspectivas sobre a importância do projeto para a cultura e diversos aspectos socioeconômicos que regem a vida da população brasileira. Para tentar entender as razões do abandono de uma rede estruturante à população brasileira, é preciso observar os ciclos de oscilações entre períodos de conquistas e de impermanências, que se repetem desde sempre, na nossa velha república, nem sempre democrática.
A obra conta ainda com os registros fotográficos de Rejane Carneiro, que cedeu um acervo que transcende o caráter documental, revelando diversidade, memórias, anseios por mobilidade e direitos, indicando haver os mesmos sinais de convergência nos comportamentos e nas reivindicações nas diferentes cidades do interior da Bahia e Minas Gerais.



O livro cruza três tempos distintos, mas mantém o foco na atualidade, rememorando a viagem do Ver de Trem à Eco 92 e analisando as consequências das decisões políticas passadas e suas repercussões no presente e no futuro. Mais do que revisitar a história, a narrativa convida à reflexão sobre necessidades estruturais em diversas áreas, cujas lutas são coletivas, destacando especialmente a preservação do meio ambiente e os impactos de decisões políticas desalinhadas das demandas sociais.
Com estilo de ensaio literário, a obra de Carlos A. Lopes presta homenagens. Gilberto Gil, reconhecido como uma espécie de embaixador do projeto Ver de Trem, tem suas obras referenciadas. José Augusto Saraiva, fundador do grupo Germen e idealizador desta saga ferroviária, é lembrado por sua liderança carismática e também ganha vida no personagem homônimo, José Augusto, cuja jornada no tempo reflete seus ideais e personalidade. Os diálogos entre a história das ferrovias e as criações musicais populares e eruditas também estão presentes no livro Expresso Ver de Trem, com referências poéticas e depoimentos, entre eles, o do maestro Fred Dantas, que além de levar música aos palcos durante a viagem, deixa um breve histórico que tem como base o seu trabalho de reestruturação das bandas filarmônicas baianas, formadas por trabalhadores e clubes ferroviários das cidades no estado da Bahia.
A canção Expresso 2222, que parece viajar no tempo, se entrelaça à estrutura do ensaio literário e inspira o título da publicação: Expresso Ver de Trem. Carlos destaca apoios e incentivos importantes para a escrita do livro, entre eles o incentivo do professor José Roberto Severino, do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC-UFBA). Também merece destaque o apoio do magnífico reitor Paulo Miguez, que, diante dos primeiros capítulos ainda em fase de lapidação, manifestou seu encantamento ao perceber a relevância do tema para a memória e para a realidade da cidade de Salvador, da Bahia e do Brasil.
Já disponível no portal da Amazon, o livro Expresso Ver de Trem será apresentado ao público baiano no Cerimonial da Ufba no Palácio da Reitoria, no dia 2 de abril das 17 às 20:30, quando Carlos A. Lopes receberá leitores da comunidade baiana em geral, e também, mais especificamente, da comunidade Ufba, instituição onde estudou e atuou profissionalmente na área de TI e na Comunicação Institucional.