Depois de uma primeira temporada bem sucedida, com casa cheia em todas as apresentações, volta a cartaz no Espaço Cultural Casa 14, no Pelourinho, “A História do Zoológico” (The Zoo Story), um dos mais importantes textos clássicos do teatro mundial. As apresentações acontecem nos dias 21 e 28 de setembro e 05, 12, 19 e 26 de outubro (sábados), sempre às 19h30. Os ingressos custam R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) e podem ser comprados no local, pelo telefone (71) 98631 3242 ou pelo Sympla.
Para a nova temporada, a montagem ganha uma pitada do humor baiano, “levemente apimentada e recheada no dendê”, revela o diretor Adson Brito do Velho, que conta que incorporou elementos da cultura da Bahia, como citações de bairros soteropolitanos, programas televisivos, a musicalidade, a culinária e personagens folclóricos da nossa cidade, “mas sem comprometer a essência do texto original”, reforça ele.
Uma outra novidade é um novo olhar para a construção dos personagens Peter e Jerry, que na primeira temporada, foi baseada nas leituras e debates, mas também a partir do método de interpretação de Constantin Stanislavsky. Para a a nova temporada Admilson Vieira (que faz o papel de Peter), e Alexandro Beltrão (que interpreta Jerry ) e o diretor Adson Brito do Velho foram à campo conversar e entender um pouco mais o mundo solitário dos moradores em situação de vulnerabilidade social. “Durante dois dias conversamos com moradores em situação de rua, que encontram-se na Cônego Pereira, na Sete Portas e na Praça da Piedade”, revela o diretor.
Absurdo… A peça A História do Zoológico, classificada como Teatro do Absurdo, estreou em 1959 em Berlim, na Alemanha e depois nos Estados Unidos e a partir daí ganhou o mundo. Em Salvador já foram feitas seis montagens, sendo quatro delas com produção da Universidade Federal da Bahia (UFBa), contando no elenco, ao logo dos tempos, com grandes nomes de cena teatral baiana, como Harildo Deda, Geraldo Del Rey, Jorge Gáspari, Geraldo Cohen, dentre outros.
Com apenas um ato, em uma seqüência de ações que prendem o público do início ao fim do espetáculo, a trama se passa em pleno outono de 1959, em um banco de jardim do Central Park de Nova Iorque, onde os dois personagens, Peter e Jerry, encontram-se acidentalmente. Na verdade trata-se de um encontro de duas almas solitárias, mergulhadas no vazio existencial, que travam um diálogo denso, seco e frio, acerca de vários temas como solidão humana, incomunicabilidade, isolamento, rejeição e tantos outros que em pleno século XXI continuam a afligir o ser humano.
A temática da peça, que retrata dois seres humanos fragilizados, desamparados de si mesmos, “enjaulados” nos seus sentimentos de solidão, não fazem de “A História do Zoológico” um texto melancólico, mas um convite para uma reflexão sobre o estar no mundo, aqui e agora. O final é surpreendente, pegando todo o público de surpresa.
O personagem Peter, interpretado por Alexandro Beltrão é a alegoria do próprio zoológico, um homem enjaulado nos seus ideais de um típico cidadão norte-americano, conservador, leitor da Time, executivo bem sucedido financeiramente, que apresenta sinais de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), e como ele mesmo se autodenomina, “casado, pai de duas filhas, dois gatos e dois periquitos”. Ainda assim, durante anos, isoladamente, senta-se no banco do jardim e sempre com seu companheiro inseparável, o livro. Mas sua tradicional família nunca se faz presente.
Jerry, vivido por Admilson Vieira, está desesperado à procura de alguém para desabafar as suas dores emocionais, e devido à sua dificuldade em dividir sua angústia com outro ser humano, vai ao zoológico na tentativa de entender a dinâmica da relação entre animais e humanos. Homossexual, possui poucos recursos financeiros e vive mergulhado na solidão, pois não possui família, mora sozinho, apresenta um comportamento manipulador, autodestrutivo e com fortes traços narcisistas.
Sobre o autor
Edward Albee, nasceu na Virgínia, nos Estados Unidos, no ano de 1928, e integra o quarteto dos maiores dramaturgos do teatro do século XX, ao lado de Eugene O’Neill (Longa Jornada Noite Adentro), Arthur Miller (A Morte de um Caixeiro Viajante) e Tennessee Williams (Um Bonde Chamado Desejo).
Sua peça mais famosa, “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”, escrita em 1962, foi levada ao cinema pelo diretor Mike Nichols no ano de 1966 e teve nos papéis principais Elizabeth Taylor e Richard Burton. Albee foi três vezes vencedor do prêmio Pulitzer, na categoria de Melhor Drama pelas peças “Um Balanço Delicado” (1967), “Seascape” (1974) e “Três Mulheres Altas” (1994), sendo também vencedor do Prêmio Tony (2005), pelo conjunto da obra, destinada a premiar as produções da Broadway.
Com mais de 20 peças de teatro de caráter psicológico, suas obras são verdadeiras críticas ácidas e corrosivas à sociedade americana, rompendo a linguagem tradicional do teatro e assim mudando os rumos do teatro norte-americano moderno através do chamado “Teatro do Absurdo”, ao lado das obras de Samuel Beckett, Eugène Ionesco e Jean Genet. Edward Albee morreu em setembro de 2016, aos 88 anos.
Sobre o diretor
Adson Brito do Velho é ator e diretor teatral, com diversas montagens no currículo, como o clássico infantil “Chapeuzinho Vermelho”, texto atribuído ao escritor francês, Charles Perrault (1628-1703), e a peça “A Falecida”, texto escrito em 1953, da autoria de um dos maiores dramaturgos do país, Nelson Rodrigues (1912-1980), que foi encenada na Escola de Teatro da UFBa (1988). Dirigiu também textos da sua própria autoria como “A Vingança do Padre”, “Almas Acorrentadas”, “A Mulher de Roxo” e “Outras Histórias da Bahia”, dentre outras.
Professor de Filosofia e formado em Psicologia com especialização em Neuropsicologia, é vice-presidente da Academia de Letras, Música e Artes de Salvador, autor dos livros “Salvador Tem Muitas Histórias” e o recém lançado, “Quem Tem Medo da Mulher de Roxo?”
Concepção cenográfica – Assinada por Bel Aguiar, artista plástica formada na Escola de Belas Artes da UFBa. A artista optou por um cenário minimalista, com apenas um banco de jardim em madeira rústica e metal trabalhado em ouro velho, uma luminária de praça pública com traços clássicos e folhas de amendoeiras espalhadas pelo palco, nas cores vermelha-alaranjadas, típicas do outono.
Concepção de figurino – Beatriz Silveira, arquiteta e urbanista pela UCSal e pelo Instituto Superior da Universidade de Lisboa, criou as peças tendo como pano de fundo o fim dos anos 50 nova-iorquino. A concepção do figurino levou em conta, além das classes sociais distintas dos personagens, também a alma de cada um deles, traduzidas em cores sombrias e elementos cênicos desgastados pelo tempo.
Concepção de iluminação – A iluminação com pouca variação de tonalidades, que remete ao outono de Nova Iorque, foi concebida pelo físico, engenheiro e arquiteto Paulo Marcos Santiago.
SERVIÇO
Peça A História do Zoológico
Texto Edward Albee
Direção Adson Brito do Velho
Elenco Alexandro Beltrão e Admilson Vieira
Local Espaço Cultural Casa 14, Rua Frei Vicente, 14, Pelourinho (próximo do Theatro XVIII)
Dias 21/09 a 26/10 (sábados)
Horário 19h30 (45 minutos de duração)
Valor 30,00 (inteira) e 15,00 (meia). Ingressos no local, pelo (71) 98631 3242 ou pelo Sympla.