Por Ildo Simões
Eis- me aqui, ovelha desgarrada.
Perdi o meu rebanho e fui pra estrada
Não me apercebo do que valho e se presto
Só sei que sou um resto
E como resto vou levando
O que me sobra: um sonho irrealizado
Um projeto nunca feito (nem desfeito)
Pois nem sequer foi projetado
Tenho cá a minha mágoa
Os olhos injetados cheios d’águas
O dente cariado
E onde estariam os outros
O espaço desdentado.
Me dói a dor da escoliose, da lordose, da cifose
E outras oses que fui colecionando
Vida a fora ou morte aos poucos
Junto na desdita com outros loucos
Que sobraram da estatística
Das tramas da política do eu primeiro
Eis- me aqui jogado ao muro
Deste lixo humano, do monturo
Deste bloco desclassificado, esfomeado, estropiado.
envelhecido
Sem necessariamente ter vivido
Eu sou enfim o pobre aposentado.