Para a endocrinologista Alessandra Rascovski, da clínica Atma Soma, a dificuldade em perder peso pode ser contornada com um cuidado multifatorial
Quando a menopausa bate na porta das mulheres, geralmente entre os 40 e 55 anos, ela não traz apenas sintomas indesejáveis – ondas de calor repentinas, ressecamento vaginal, diminuição da libido, alterações de humor, entre outros -, mas também uma série de inseguranças. Dentre elas, o ganho de peso se destaca, algo que afeta cerca de 70% das mulheres, segundo um estudo do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Mas por que isso acontece? Segundo Alessandra Rascovski, endocrinologista e diretora clínica da Atma Soma, a menopausa é ocasionada pela diminuição da produção de estrogênio. “Mudanças hormonais ao longo da menopausa influenciam a distribuição de adiposidade corporal e aumentam a adiposidade central. Ou seja, há um acréscimo relevante de gordura visceral em torno dos órgãos abdominais, assim como gordura em algumas regiões do corpo, como coxas e quadril. Isso envolve um olhar muito além da estética, pois esse acúmulo pode elevar as chances da mulher desenvolver doenças cardiovasculares”.
Alessandra ressalta que uma das principais queixas de suas pacientes que estão vivenciando esse período é a dificuldade de perder peso com facilidade, o que impacta na saúde, autoestima e qualidade de vida. “Essa é uma fase que desperta muitas percepções negativas na mulher, como ‘estou ficando velha’, ‘minha vitalidade acabou’, ‘o sexo não é mais o mesmo’, ‘estou em crise existencial’. E o aumento do peso ajuda a piorar essas sensações”.
Além da queda na produção de estrogênio, outros fatores como metabolismo desacelerado, uma das consequências naturais do envelhecimento, e perda do tônus muscular, grau de tensão ou rigidez que os músculos mantêm, que os leva a queimar mais calorias do que gordura, também influenciam no ganho de peso.
Esse processo pode levar a uma série de complicações de saúde, como hipertensão, glicose elevada, aumento do colesterol ruim (LDL) e triglicérides, assim como pode desencadear a síndrome metabólica, relacionada ao diabetes tipo 2 e ao maior risco de ocorrência de doenças cardiovasculares, como infarto e acidentes vasculares cerebrais.
É possível emagrecer na menopausa?
Apesar das adversidades, a médica da Atma Soma acredita que sim, adotando uma abordagem multidisciplinar que envolve várias frentes. Isso inclui não somente a prática regular de atividades físicas e alimentação saudável, mas também fazer a reposição hormonal, assim como a utilização de medicamentos a base de GLP-1, em casos de diabetes tipo 2 ou aumento da resistência à insulina.
A terapia hormonal é iniciada na chamada “janela de oportunidade”, que engloba um período de, no máximo, 10 anos após a menopausa, ou até os 60 anos de idade. E, na visão da especialista, é fundamental ter um olhar aproximado para essa questão, evitando assim que haja um aumento na obesidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) um bilhão de pessoas do sexo feminino no mundo – maioria entre a população do globo – estará navegando por esses mares da menopausa até 2030.
“A menopausa é um processo hormonal. Por isso, a terapia de reposição deve ser avaliada e discutida individualmente, levando em conta cada paciente e suas condições para isso. O olhar deve ser holístico, pois cada mulher tem uma condição e nem sempre o tratamento que funciona para uma é a melhor alternativa para a outra. Com os hormônios regulados, é possível gerar um ambiente mais favorável para a perda de peso”, finaliza a endocrinologista.