Por Doris Pinheiro
Carlinhos Brown chega na sua terra realizando tudo que tem direito. Faz Enxaguada bombada, coloca todos os seus blocos na rua e abre as portas do seu camarote para o mundo. Ele falou com a gente e contou quase tudo (risos). Confira na entrevista especial que fizemos com ele.
Doris Pinheiro – A Enxaguada vai ser um momento muito especial com você recebendo Luiz Caldas, Saulo Fernandes, Daniela Mercury e Margareth Menezes. Muitas estrelas no mesmo palco. É seu presente para Yemanjá?
Carlinhos Brown – Ter Luiz, Saulo, Daniela e Margareth no mesmo palco é mais do que um encontro, é uma afirmação de que Yemanjá já nos presenteou com axé, afinal o axé é dela, ela é a mãe dos orixás e nós a reverenciamos. A ela dedicamos os ‘não pedidos’, apenas agradecimentos.
DP – Carnaval chega com uma grande conquista, o seu camarote. Coração batendo forte?
CB – Coração batendo muito forte. Porque é necessário ter um ponto convergente que deixe mais explícito que o Carnaval é um grande negócio para as marcas. Nós artistas que somos oriundos do Nordeste, muitas vezes deixamos a desejar um corpo a corpo mais cotidiano com grandes marcas, que se concentram principalmente no eixo Rio-SP. Aqui temos a possibilidade de mostrar como somos, mostrar a força comercial que o Carnaval tem, não apenas dentro da sua alegria. E isso fortalece para que os Carnavais melhorem a sua qualidade de atendimento para o público.
DP- Moro no Cidade Jardim e vi os Zárabes passando na minha porta para ir ao Bonfim, enormeeee, lindo. Teremos também no Carnaval?
CB – Sim, estou preparando para que os Zárabes venham no Arrastão. Os Zárabes ainda são um grupo incompreendido com as chamadas marcas, mas tem um aproach e um poder de difusão midiática que só os números podem deixar isso firme. Só o faço quando realmente tenho alguma condição de levar de 250 a 300 componentes em um grupo que é um grupo de estudos, mas é um grupo de percussionistas que eu venho formando ao longo do tempo e que precisam ter algum retorno também e isso é feito em seus cachês. Não é fácil produzir um grupo desse tamanho.
Nós temos 3 regentes, mais de 20 produtores, figurinistas e preparações. E como é correndo, a produção se esmera para não faltar água no caminho, ter um bom café da manhã no início do dia. É uma coisa muito boa de se fazer, mas é difícil sair em uma maratona musicada pela cidade, com alegria, cantando e mostrando a força da música através de uma catarse coletiva. A gente ainda não foi entendido com esse olhar. E esse continua sendo um olhar de vanguarda, porque eu não conheço nenhuma maratona que os participantes não queiram ganhar, e sim chegar juntos. Neste momento os Zárabes podem oferecer essa ideia de que todo mundo chega junto e ganha algo por isso.
DP – E as Timbaladies? Vai ter perfume feminino do Candeal na grande festa?
CB – Sim, a Timbaladies foi um levante mais forte do que imaginávamos. Porque remexeu em toda postura feminina que já estava evidente e que precisava surgir com força. E assim aconteceu, surgiu a Yayá Muxima e surgiram muitos outros grupos que já estavam bem organizados e preparados, só estavam precisando da praça. Isso mostra o fôlego da capacidade das mulheres em retomar o seu papel na percussão, afinal, nós homens nos inspiramos na percussão feminina para sermos o que somos, e isso trouxe estrutura e organização social para o mundo como um todo.
DP – E… a Timbalada? O que vai mostrar na avenida?
CB – A Timbalada traz um hit do coletivo, que é “Recua”. Recua deixa claro que às vezes é necessário dar dois passos para trás para dar dois à frente. E a Timbalada está com toda a força com o canto líder de Denny Denan e Buja Ferreira. Maravilhoso, é uma das grandes apostas de música para esse Carnaval.
DP – E você, com seus sete fôlegos, o que traz para a folia?
CB – Eu não gosto muito de contar o que eu vou fazer na folia (risos), embora já tenha falado sobre o Arrastão de Cinzas, que vai ser o ‘Arrastão dos Arrastões’, afinal, cinquenta anos do movimento afro Ilê Ayê, o que mais temos é repertório a ser cantado de gogó aberto. O trio elétrico vai ser uma amplificação disso, mas tenho certeza que a gente vai ser muito forte, unido, o Olodum, o Ilê Ayê, os Zárabes, junto com mais percussionistas do tradicional Arrastão da Timbalada. Nós teremos 500 percussionistas tocando e claro que vai aparecer mais gente. Nós estamos abertos, pois uma coisa que existe na Bahia é um grande entrosamento de percussão entre homens e mulheres
DP – E o que está preparando para depois do carnaval?
CB – Depois do Carnaval é continuar sendo feliz, mas deixo já um gostinho aqui que eu tenho uma surpresa gigantesca que vai unir a força do canto popular baiano. Não vou dizer agora, mas devo contar no Arrastão o que vai acontecer. Posso dizer que estou apostando nesse hit.