Por Matheus Spiller
Um mestre reverenciado por muitos, um artista provocador, um gênio controverso. Raul segue emocionando seguidores de sua obra, mesmo 36 anos depois de ter pego o metrô linha 743 para outras paragens astrais.
Este texto não é um apanhado da trajetória dele. Não vamos aqui recontar a história. Até porque, quase todo mundo que gosta de Raulzito já tem sua versão lida, ouvida, assistida e uns até vivida pessoalmente a respeito do que ele aprontou por aqui. E quem sou eu para tentar mudar isso? Só vim fazer um textinho pessoal e do jeito antigo – pra não ter perigo de assustar ninguém.
Raul entrou na minha vida por influência do meu pai. Sempre tinha coletâneas de Raulzito nas fitas K7 que ele ouvia no carro. Eu era criança e já tinha coisa ali, no som daquele cantor, que me chamava atenção. Com o perdão do clichê, mas “O Carimbador Maluco” era irresistível para um guri dos anos 80. Ainda que, obviamente, eu não sacasse a mensagem da letra, era capturado pela forma. Pluct Plact Zum…uma proposta para voar…experimentar aventuras…clipe colorido na TV…não tinha como passar por uma música como aquela sem ser afetado de alguma maneira.
Na adolescência, lembro de ouvir meu pai dizendo que Raul Seixas sempre desafiou as normas do mercado fonográfico, pervertendo tendências. Quando o legal era ser brega, ele lançava um rock. Quando o rock tava em alta, ele vinha com um forró. Quando o forró fazia a cabeça da galera, ele aparecia com um Brega. Isso quando não misturava tudo numa onda só e surpreendia geral.
O tempo passou e eu, ainda bem, vim morar em Salvador. Gurizão jovem, encontrei outros roqueiros da mesma faixa etária e estabeleci amizade. Era um tempo no qual costumávamos ir às casas uns dos outros para ouvir música e trocar impressões sobre o mundo. Entre goles e fumaça, cada um apresentava uns 3 ou 4 álbuns de Raul Seixas – muitas vezes herdados de pais, tios e primos mais velhos. Não raro rolavam debates sobre as mensagens das letras, duplos sentidos, protestos, pretextos e viagens metafísicas daquele ser iluminado. Com razão ou não, debatíamos. Cada um dava um pitaco e Raul servia de guia nessa estrada sem saída. Não tinha google para assassinar a imaginação. Podíamos divagar pelas propostas sem uma resposta exata para fechar questão e mente. Raul era trilha e ponto de fuga para novos horizontes.
Entrei em banda que tocava Raul, tive camisa de Raul, livros que contavam a história de Raul – cada um com uma versão diferente. Assisti a filmes contando os passos de Raul. Conheci um monte de gente que conviveu, conversou, estudou, bebeu, fumou e brigou com Raul. Fui a shows de cover e defendi Raul Seixas de ataques de gente babaca que nunca entendeu uma linha do que ele escreveu e cantou. E eu? Será que eu entendi? Sei não. Minha cabeça só pensa aquilo que ela aprendeu.
E hoje, que seria aniversário de Raulzito, eu fico daqui me perguntando como estaria um Raul Seixas octogenário neste mundo pós humano, automatizado, artificial de tudo. Um cara que previu que a Terra ia parar muito antes de qualquer pandemia…Acho que o melhor é deixar ele descansar disso tudo mesmo! Ele não mereceria estes nossos dias maquinais e sem alma. Além do mais, é bom lembrar que Raul sempre esteve por aqui. Antes de qualquer um de nós nascer, Raul já tinha 10 mil anos! E não tem Pepsi Cola que sacie a vontade de ouvir um som dele neste instante. Para aquele que provar que eu tô mentindo, eu tiro meu chapéu!
Viva a obra de Raul Seixas!