Grupo de 11 artistas abre mostra no dia 5 de outubro no Ativa Atelier Livre
De pinturas em papéis, tecidos e telas, em aquarela e acrílico, passando por bordados e pontilhados, desenhos em caixas recicladas de papelão, fotografias em backlight até uma instalação em frutos da Sapucaia, a exposição Cartografias imprecisas: entre o acúmulo e a criação traz a diversidade como marca. Resultado do trabalho realizado por um grupo de 11 artistas, orientados pela artista visual e curadora Lanussi Pasquali, a mostra será aberta no dia 5 de outubro, às 16 horas, em A Galeria, no Ativa Atelier Livre, no Rio Vermelho, e permanece até o dia 2 de novembro.
Com idades, experiências, estudos, áreas de atuação, necessidades e interesses distintos, o grupo é formado pelos artistas visuais Alzira Fonseca, Bleiikur, Claudia Giudice, Carolina Kowarick, Cassandra Barteló, Chico Baldini, Jusce Barreto, Fátima Tosca, Lú Bittencourt, Regina Miranda e Rosemari Sarmento. “O que une as pessoas é a necessidade de criar e experimentar suas potências artísticas. São mundos particulares que encontram na criação um mundo em comum, um mundo compartilhado, mas mesmo assim próprio, onde as diferenças são bem-vindas e acolhidas”, relata a curadora da exposição.
A artista Alzira Fonseca, após fazer sua primeira mostra individual, participa da coletiva com seus seres inventados. Agora, apresenta a obra “Todo eu é um esquecimento”, uma sequência de trabalhos produzidos em óxido de ferro sobre tecido, em diferentes dimensões, sobrepostos e expostos pendurados em espécies de varais. Inspirada na natureza, a artista cria personagens que percorrem suas pinturas e o imaginário do espectador. Instigada pelo desejo de sugerir possíveis visões de mundo e modos de existir, ela não hesita em treinar o olhar para o sonho e a estranheza.
Já Bleiikur expõe a série “Respostas que não tenho”. São seis pinturas em aquarelas, com inserções de acrílica aguada. A artista conta que os quadros refletem questionamentos que marcam sua jornada pessoal, com destaque para a dor e o processo de cura. O trabalho revela uma investigação sobre a vida e o que habita no silêncio das perguntas não respondidas. Sua busca constante por essas respostas se desdobra nas formas e cores dos seus quadros, criando uma estética que lembra sonhos.
Quem também tem um trabalho com imagens oníricas é a artista Claudia Giudice. Ela faz uma homenagem para sua mãe na série “Marina tinha o mar no nome e morria de medo”, aquarelas que têm o mar como paisagem. A artista, que passou a morar em Arembepe, localidade do Litoral Norte baiano, na pandemia, conta que a obra é uma homenagem para sua mãe Marina e ainda um exercício cotidiano de como aprender com a natureza, que se impõe permanentemente pela potência e surpresa.
Imagens do próprio mar, além de montanhas e planícies, são presenças nos horizontes de Carolina Kowarick. As paisagens da artista são pintadas em tecidos e telas de diferentes formatos e espessuras, em tonalidades suaves, como nuances de terra, rosa e azul, sugerindo transições naturais. O desgaste e as marcas sutis das camadas ressaltam a passagem do tempo, criando um diálogo íntimo entre o efêmero e o perene. Sobrepostas, em uma composição fluída, as imagens formam a obra “Onde era, só de longe; a abstrata linha”.
Cassandra Barteló apresenta caixas de backlight, produzidas a partir de imagens de bonecas, redescobertas após quase 50 anos. A série “A vida adulta é imensidão” é composta por seis imagens dos rostos das bonecas, com olhos fechados e abertos. ‘Aprisionadas’ em pequenas caixas, elas aparecem vitrificadas para os espectadores, buscando o contraste entre vida e morte, novo e velho, brilho e opacidade, pensamentos inerentes ao envelhecimento, das bonecas e o da própria artista. O trabalho deixa caminhos abertos para as lembranças de encantamentos e dores, características das diferentes infâncias.
As enchentes no Rio Grande do Sul, ocorridas entre abril e maio deste ano, motivaram Chico Baldini a vender ilustrações e reverter o dinheiro arrecadado para seus conterrâneos vítimas da tragédia. Os “Cavalos”, símbolos do povo gaúcho e uma marca na infância do artista, estimularam os desenhos do trabalho solidário e foi o tema escolhido para a exposição em A Galeria. Desta vez, os cavalos foram desenhados em caixas recicladas de papelão e de remédios em seus formatos originais. O artista reforça que desenhar os cavalos é mais do que uma expressão artística, é uma forma de honrar os animais como símbolos universais de força, liberdade e resiliência.
Jusce Barreto apresenta a série “Pequena Enciclopédia Infinita” na exposição coletiva do Ativa Atelier Livre. Um trabalho que explora formas orgânicas, especialmente sementes, flores e raízes, como representação dos ciclos de vida e transformação. Utilizando aquarela, bordado e perfuração, as peças ganham uma dimensão tátil e fluida. A união entre os elementos da natureza e os abstratos busca refletir a interconexão entre os seres vivos.
A tela única “Quando pulsa o sagrado” traz toda a força do trabalho de Fátima Tosca. As texturas e ranhuras são marcas da artista que encontra nas cores e em formas ‘esculpidas’ uma maneira de provocação, e, simultaneamente, um momento de descanso e mergulho em um imaginário lúdico. Produzido em óleo e acrílica sobre tela, o quadro apresenta seu mais novo estudo sobre o sagrado, um trabalho que atravessa o barroco brasileiro, buscando recriar sensações em um tempo que nunca para, mas sempre encontra o silêncio, a liberdade e a pulsação.
Lú Bitencourt faz do fruto da Sapucaia, árvore com folhas rosas e flores roxas e brancas, originária da Amazônia brasileira, sua matéria-prima. A instalação “O Olho que salta” é composta por um conjunto de seis trabalhos. Cada fruto apresenta elementos que procuram provocar os sentidos do espectador, como o áudio do farfalhar das folhas da mata, o simbolismo da água, constantemente desperdiçada, e o monóculo para olhar e pensar na perspectiva do próprio fruto. Tudo é relacionado à planta e tem como proposta alertar para a necessidade de preservação da espécie, ameaçada pela ação do garimpo e pelos incêndios, intensificados ao logo deste ano.
A artista Regina Miranda produz uma obra ímpar, apresentando para o mundo, em cores vibrantes e com formas características, sua herança cultural afrodiaspórica. Na série “O tempo não se conta por medida”, reinventa, reelabora e ressignifica símbolos e aspectos da cultura afro-brasileira. Ela recicla tecidos, como o brim e o americano cru, e telas retiradas do chassi, para apresentar os deslocamentos do povo negro e mostrar a riqueza da circulação cultural brasileira, com o trânsito de pessoas, símbolos e objetos.
Rosemari Sarmento apresenta objetos do dia a dia, como abajur, bisnaga de tinta, caneca, lápis, sapatos e livros, pintados em acrílica sobre tela. Na exposição do Ativa, uma das telas da sua série anterior intitulada “Lilith” abre caminho para a nova obra “Objetos mínimos e a relevância da desimportância”, composta por 19 quadros. A artista traz o olhar do afeto, da memória ou do simples convívio estético com os objetos como um registro minucioso destes elementos unitários e solitários, mas que se complementam, em uma espécie de crônica do cotidiano.
SERVIÇO
Exposição: Cartografias imprecisas: entre o acúmulo e a criação – II Mostra de processos criativos do Ativa Atelier Livre
Local: A Galeria, Ativa Atelier Livre, rua Tupinambás, 423, Rio
Vermelho
Abertura: 05/10, às 16h
Visitação: até 02/11
De quarta a sexta das 15h às 19h
Sábados das 9h às 12h
Para outros dias e horários agendamento pelo e-mail: ativa.atelier@gmail.com