As famosas receitas podem causar infecções e reações alérgicas no local que já está sensibilizado
Em meio às comidas típicas, danças e decorações, dois elementos tradicionais dos festejos juninos estão associados a acidentes: fogueira e fogos de artifício. Com o aumento de ocorrências envolvendo queimaduras nesta época do ano, volta a circular receitas caseiras para o tratamento de lesões. Embora pareçam alternativas para o rompimento rápido da dor, elas podem agravar a situação.
“Algumas receitas provocam reações inflamatórias devido ao contato com componentes que geram resistência ou alergia. Também podem levar à infecção da pele e dos tecidos subcutâneos, transformando uma queimadura superficial em uma profunda”, alerta Letícia Braz, enfermeira e professora do curso de Enfermagem da Universidade Salvador (UNIFACS).
Popularmente conhecidas, essas soluções incluem desde pasta de dente e manteiga a borra de café, clara de ovo e água sanitária. Quando não são especificamente destinados ao tratamento, mesmo produtos como pomadas, cremes e loções tendem a interferir na recuperação e no processo de cicatrização.
Intervenção inicial
Dependendo da gravidade, a intervenção deve acontecer o mais rápido possível, pois as complicações também variam conforme o grau das queimaduras. A enfermeira lembra que, no caso das superficiais, a camada externa da pele geralmente fica vermelha, inchada e dolorida. Já os mais graves podem resultar em deformidades, problemas de mobilidade e quadros sistêmicos, a exemplo de choque térmico e insuficiência renal ou respiratória.
“Apesar das bolhas, pele branca ou carbonizada, as queimaduras de 3º grau são menos dolorosas porque há danos aos nervos. E, conforme a complexidade, demandam até intervenção cirúrgica”, explica.
Independentemente da profundidade da lesão, os primeiros socorros envolvem o resfriamento da área afetada, proteção a fim de evitar infecções e busca por atendimento médico. Segundo um profissional, os cuidados iniciais são simples:
- Se a queimadura for leve ou moderada, resfrie o local com água corrente fria por cerca de 10 a 20 minutos. Isso ajuda a reduzir a dor, o inchaço e, muitas vezes, a limitar a extensão da lesão. Não coloque gelo, pois pode causar mais danos ao tecido.
- Depois de resfriar a queimadura, cubra-a com um curativo estéril ou pano limpo e seco. Se houver bolhas, não estoure. Isso costuma aumentar o risco de infecção e prolongar o tempo de recuperação.
- Caso as roupas fiquem grudadas na pele queimada, não tente removê-las. Em vez disso, corte cuidadosamente ao redor das peças e deixe um profissional de saúde se aposentar.
- Evite o uso de algodão ou produtos aderentes, uma vez que grude e intensifique a dor durante a remoção. O ideal é utilizar gaze esterilizada ou protetora específica para queimaduras.
Dicas de segurança
A maioria dos incidentes ocorre por algum tipo de negligência. Letícia Braz ressalta que uma das principais medidas preventivas é a escolha do local, uma vez que é recomendada a soltura de fogos e a presença de fogueira apenas em espaços abertos e afastados de árvores, edifícios, fios e demais estruturas. Outra orientação é manter a distância de qualquer vegetação seca ou material inflamável.
“Além disso, vale usar dispositivos de fogo seguros, como fósforos longos ou acendedores de churrasco, e evitar líquidos inflamáveis. Também é importante ter uma balde de água ou um extintor de incêndio por perto e supervisionar as crianças, mantendo-as afastadas do fogo”, completa o docente.