Comum entre mulheres, uma síndrome provoca desde intensas dores pelo corpo até quadro de depressão
Os fãs de Lady Gaga já estão preparados para o show gratuito da cantora em maio, nas areias da Praia de Copacabana. Uma das grandes manifestações da música pop, a nova-iorquina já precisou cancelar uma outra apresentação no país, que deveria ter ocorrido em 2017, por causa de uma doença crônica caracterizada pela dor generalizada no corpo, principalmente nos músculos e tendões: a fibromialgia.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), essa síndrome afeta 3% da população adulta, sendo mais comum entre mulheres de 30 a 55 anos. “A grande sensibilidade ao toque, gerando intenso desconforto mesmo diante de estímulos leves, leva um ciclo de dor constante que exige a disposição física, o sono e as capacidades de memória e concentração, tornando-se um desafio para a qualidade de vida dos pacientes”, explica Emanuela Pimenta, médica reumatologista da Clínica Ceder.
Como causas da condição ainda não são totalmente conhecidas, mas estudos apontam relação com alterações no sistema nervoso central capaz de amplificar a percepção da dor. Problemas reumáticos, como osteoartrite, artrite reumatóide e lúpus, e eventos físicos e emocionais, a exemplo de experiências traumáticas e estresse prolongado, são alguns dos fatores associados ao desenvolvimento da doença.
O especialista ainda lembra que a fibromialgia costuma medir a saúde mental, pois o conjunto de sintomas vai além das dores persistentes. “Estima-se que cerca de 50% das pessoas que convivem também apresentam quadros de ansiedade ou depressão. As limitações diárias, motivadas pelo cansaço excessivo, dificuldades em ter um sono reparador e alterações no humor, interferem no lado psicológico”, afirma.
Critérios diagnósticos
Segundo a SBR, o diagnóstico é feito com bases clínicas. Assim como a análise dos candidatos e o descarte de outras síndromes que podem surgir de forma semelhante, dois critérios importantes são observados ao longo do processo de detecção: presença de dor há mais de três meses em todo o corpo e de pontos dolorosos na musculatura.
“Sem a disponibilidade de um exame que seja padrão ouro, o diagnóstico acontece através da conversa entre paciente e médico, além de testes clínicos e laboratoriais. Também é feito a exclusão de outras hipóteses, já que condições como doenças reumáticas provocam sintomas semelhantes”, ressalta o reumatologista.
Devido aos desafios, um projeto de lei que determina diretrizes para o atendimento, assistência farmacêutica, bem como o acesso a exames complementares e modalidades terapêuticas, foi aprovado em 2024. O texto ainda prevê a necessidade de análise biopsicossocial por uma equipe multidisciplinar para que o indivíduo com fibromialgia seja equipado a pessoa com deficiência.

Formas de tratamento
Como não há cura, o tratamento é realizado de maneira multidisciplinar, em parceria entre o reumatologista, o médico da dor e o psiquiatra. Emanuela Pimenta destaca a recomendação do uso de antidepressivos e neuromoduladores, que atuam nos mecanismos envolvidos tanto na geração quanto na prevenção do dor. “O combate à fibromialgia ainda inclui abordagens não medicamentosas, uma vez que o cuidado com o estilo de vida também é determinante para o controle dos sintomas”, diz.
Conforme a SBR, também é indicada a prática regular de atividades físicas e de fisioterapia. Essas estratégias promovem o ganho de força muscular, melhoram a flexibilidade e ajudam no alívio das dores. Higiene do sono e adoção de dieta balanceada, sem presença de alimentos inflamatórios e ultraprocessados, são outros grandes aliados.