Por Dr. Carlos Alberto, cardiologista com especialização em hipertensão arterial e Saúde Pública. Apoiador institucional da Atenção Básica na Secretaria Municipal da Saúde de Campos do Jordão
Em aproximadamente três décadas, o número de pessoas hipertensas dobrou para 1,2 bilhões² no mundo, atingindo 30% de toda população adulta¹. Apesar de grandiosos, os dados podem não parecer tão assustadores, já que o problema é familiar para muitas pessoas e clinicamente tratável, além de contar com uma série de políticas de atenção básica bem estabelecidas.
O que pouca gente sabe – e vale ressaltar – é que a hipertensão é a maior causa de mortes precoces no mundo e, também, um agente importante no aumento do risco de doenças cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC)¹. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, no mundo, mais de 7,5 milhões de pessoas morrem por hipertensão anualmente³. No mesmo intervalo, no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a doença mata 300 mil brasileiros4.
Agora, você deve estar se perguntando como uma condição relativamente comum é capaz de fazer tantas vítimas. E a resposta está no modo silencioso pelo qual a hipertensão se manifesta: quando muito alta, a pressão sanguínea pode causar sintomas como dores de cabeça, no peito, tontura, náusea, entre outros, mas, na maioria das vezes, o problema se apresenta de forma assintomática, sem dar sinal algum. Desta forma, quase metade dos hipertensos (46%) não são diagnosticados, correndo riscos graves de saúde5.
Quando não tratada, a hipertensão pode causar um impacto negativo significativo na qualidade de vida das pessoas, limitando atividades físicas cotidianas e afetando o bem-estar emocional. Para evitar esta condição, é preciso estar atento aos fatores de risco genéticos, como histórico familiar de doenças cardiovasculares, e aos hábitos de vida, como a prática regular de atividades físicas e a adoção de uma dieta balanceada. Uma vez diagnosticado com a hipertensão arterial, o acompanhamento médico e a adesão ao tratamento prescrito pelos profissionais de saúde são fundamentais.
No âmbito social, para combatermos esta epidemia silenciosa, é preciso que invistamos em soluções multisetoriais, entre agentes públicos e privados, promovendo a conscientização sobre a doença; incentivando a rotina de consultas médicas para melhorarmos as taxas de detecção precoce; investindo em pesquisa e desenvolvimento para promoção de tratamentos cada vez mais personalizados e adequados às rotinas dos pacientes; e definindo planos de ações e metas específicos para a hipertensão arterial, como fez a Organização Mundial da Saúde, que pretende reduzir em 25% a prevalência de hipertensos até 2025, em relação ao nível de 20106.
Não podemos nos apoiar na suposta popularidade da hipertensão para tratar o assunto com trivialidade. A hipertensão é uma condição grave, que exige discussão, informação, diagnóstico e tratamento responsáveis e contínuos. Vamos elevar este debate para caminharmos, juntos, por uma sociedade mais saudável.
Referências bibliográficas:
1. Mills KT, Stefanescu A, He J. The global epidemiology of hypertension. Nat Rev Nephrol. 2020 Apr;16(4):223-
237. doi: 10.1038/s41581-019-0244-2. Epub 2020 Feb 5. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7998524/> Acesso em 22 maio 2023.
2. OPAS. Organização Pan-Americana de Saúde. Mundo tem mais de 700 milhões de pessoas com hipertensão não tratada. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/noticias/25-8-2021-mundo-tem-mais-700-milhoes-pessoas-com- hipertensao-nao-tratada> Acesso em 19 maio 2023.
3. WHO. World Health Organization. Blood pressure/hypertension. Disponível em:
<https://www.who.int/data/gho/indicator-metadata-registry/imr-details/3155> Acesso em 19 maio 2023.
4. UFPEL. Universidade Federal de Pelotas. Hipertensão arterial: doença silenciosa. Disponível em: < https://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2022/05/17/hipertensao-arterial-doenca- silenciosa/#:~:text=De%20acordo%20com%20os%20dados,milh%C3%B5es%20de%20indiv%C3%ADduos%2C
%20t%C3%AAm%20hipertens%C3%A3o.> Acesso em 22 maio 2023
5. WHO. World Health Organization. Hypertension. Disponível em: <https://www.who.int/news-room/fact- sheets/detail/hypertension> Acesso em 22 maio 2023
6. WHO. World Health Organization. Prevalence of Raised Blood Pressure. Disponível em: < https://www.paho.org/en/enlace/prevalence-raised-blood- pressure#:~:text=Reduce%20the%20prevalence%20of%20raised,of%20Noncommunicable%20Diseases%202013
%2D2020.> Acesso em 22 maio 2023