Rastro de Cobra e Couro de Lobisomem
Assisti ao filme “Homem com H”, a cinebiografia de Ney Matogrosso. Me propus a assisti-lo com uma imensa boa vontade. Gosto de Ney como artista e considero sua atuação no meio musical um fenômeno disruptivo marcante. É de impressionar até hoje o que ele apresentou ao Brasil no tempo em que o fez. Assim, fui querendo gostar.
Só que a minha chatice é de lascar em certos momentos.
Nem achei o filme ruim. A atuação de Jesuita Barbosa é boa. Apesar de ficar meio cansativa em alguns pontos. Fica mais Ney do que o próprio Ney. Mas os demais atores que interpretaram outros artistas e personagens são um problema.

Um Cazuza todo descazuzado, com todo respeito ao ator. Ficou estranho. Talvez porque Cazuza já tenha sua versão cinematográfica marcada na cabeça do público. Ainda bem que não tentaram meter um Raul – citado apenas textualmente.
Agora vem a polêmica: tem muita cena de sexo. Pronto…me odeie.
É um exagero a quantidade de cenas de putaria gratuita que eu, muito particularmente, achei desnecessárias. Não por serem chocantes ou explícitas – nem são mesmo. Mas por serem muitas! Chega um momento em que fica só monótono. Como um filme em que tudo explode o tempo todo. Só que ali é bunda na tela o tempo todo.
Sei que parece, mas você não está lendo aqui ressentimento por ofensa pudica. Quero estar o mais longe possível dessa confusão de conceitos. É que o excesso fez com que ficasse chato. E deixar sexo maçante – no cinema – é um erro fatal.
Compreendo que pode ser uma citação estética às pornochanchadas tão presentes nas nossas produções, com uma contextualização temporal inclusive. Até acho interessante por esse viés. Só achei que passou do ponto em quantidade – não em obscenidade…por favor, entenda isso.
Caretice minha à parte, o melhor do filme é fazer com que a gente conheça um pouco mais da vida deste imenso artista brasileiro.
O cara é um gigante da música, uma entidade no palco – ou várias ao mesmo tempo. Produtor de shows memoráveis, desafiador e agente de quebra de conceitos, Ney é um espetáculo em si. Carrega até hoje as cicatrizes e os louros de quem tem coragem e vive intensamente tudo o que o mundo apresenta, sem amarras.
Não me entenda mal e não me leve a mal. Assista ao filme! Ouça Ney Matogrosso