“Uma ocupação artística em defesa da vida criativa, da beleza, da verdade, das liberdades e da justiça”. Essa é uma das definições para a exposição ‘Desexílios: passado presente’ do artista visual baiano, além de escritor, jornalista e ativista dos direitos humanos, Jean Wyllys, que o Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BAHIA) abre nesta segunda-feira (8), às 18:15. O MAC é um dos museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBa) e está localizado na Rua da Graça, n°284, no bairro de mesmo nome, em Salvador. O acesso é livre e a exposição fica aberta para visitação de terça a domingo, das 10h às 18h.
A mostra abre exata e propositadamente quando se completa um ano de quando aconteceram, em Brasília, os ataques aos três poderes da República brasileira em 8 de janeiro de 2023. “Os ataques em Brasília foram atos antidemocráticos que merecem ser punidos e lembrados para a preservação da memória na luta pelo pensamento republicano e pela garantia da democracia plena no país”, diz a diretora geral do IPAC, Luciana Mandelli. Ela explica ainda que a exposição é mais uma atração que integra um amplo programa de readequação e melhoramentos por que passam os principais museus estaduais. Algumas ações já foram implementadas como a inauguração do MAC no final de setembro do ano passado, além de reformas no Centro Cultural Solar Ferrão (Pelourinho), ou a ampliação e o novo prédio para o Museu de Azulejaria e Cerâmica Udo Knoff, que acontecem em 2024, dentre outros investimentos.
DESENHOS, PINTURAS e COLAGENS – ‘Desexílios: passado presente’ chega ao Brasil depois de temporada no Palau de La Virreira, em Barcelona (Espanha), sob a curadoria de Valentim Roma. A escolha de Salvador para a mostra não é por acaso. Para Daniel Rangel, diretor do MAC_BAHIA e um dos curadores da exposição ao lado do carioca Fernando Salis, “os desenhos, pinturas e colagens de Jean são de beleza e conteúdos singulares, estão ligados à sua vontade de se encontrar e se reencontrar no exílio; sendo assim, Salvador, lugar em que ele floresceu como cidadão e jornalista antes de se tornar internacionalmente conhecido, deveria mesmo ser o primeiro lugar no Brasil a acolher a sua exposição, a lhe servir de recomeço”, conclui Daniel.
Em relação ao dia 08 de Janeiro, Rangel relata que se tratou de uma escolha do artista, que queria ver a data ganhando um contraponto em termos de memória que fosse o oposto deles: “criação em vez de destruição; beleza em vez de feiúra; diálogo em vez de violência física; estímulo ao pensamento em vez de burrice; verdade e informação em vez de mentiras; festa em vez de seita”, acrescenta Jean. Os temas da desinformação e das fake news são um dos pontos principais da arte de Wyllys. Utilizando jornais estrangeiros como suporte para desenhos e pinturas que dialogam com as notícias estampadas, o artista propõe um debate sobre as mídias e sobre como estas moldam nossa forma de ver mundo e muitas vezes nos manipulam politicamente.
ARTE CONTEMPORÂNEA – Jean Wyllys comenta que as suas atividades artísticas estão dentro do que os especialistas chamam de arte contemporânea. Contudo, ele diz não estar preocupado com os rótulos e prefere dizer que é um intelectual público que se expressa também por meio da pintura e do desenho. Daniel Rangel o chama de “artivista”, um tipo de artista contemporâneo que não separa arte de ativismo político e vice-versa.
O curador Fernando Salis destaca que o trabalho artístico de Wyllys é autodidata, incluindo diversas técnicas e usando-as de maneira singular e criativa para intervir politicamente no mundo. “Com sua subjetividade imersa na dimensão trágica da solidão, sua arte surgiu como amor à vida, como conexão com os seus mais altos valores, como o combate simbólico ao fascismo, como impulso lúdico de revisitar as suas mitologias pessoais, e principalmente de enfrentar a tirania dos algoritmos das Big Tech, a arte de Jean Wyllys já nasce principalmente e sobretudo para ocupar o espaço digital, mas não só este. Daí sua originalidade na arte contemporânea”, completa Fernando.
VIOLÊNCIAS – “Essa exposição brota do esforço pessoal em curar todas feridas que as mentiras e as violências políticas da extrema-direita me infligiram de 2016 até 2022, ano em derrotamos eleitoralmente os fascistas, mas também nascem do exercício de enfrentamento dos males que afligem ao humanidade como um todo neste momento: as guerras nacionalistas que não poupam nem as crianças inocentes; o terrorismo; os eventos extremos das mudanças climáticas; o racismo, a misoginia e a LGBTfobia que ceifam vidas ou limitam destinos; a pobreza e a desigualdade social; e o uso da mentira na política. Contra todos esses horrores, eu construo um universo de beleza, inteligência e solidariedade, valores sem os quais o mundo voltará à guerra de todos contra todos e à paz dos cemitérios”, define Jean Wyllys.
A ocupação ‘Desexílios: passado presente’ é a primeira do projeto Rizomas, em que o museu abrigará artistas contemporâneos cuja arte busque interver politicamente em favor das diversidade, das liberdades e da democracia. Mais informações sobre o MAC_BAHIA via telefones (71) 3117-6987 e 3117-6986, e no instagram @mac_bahia.
BIO – Jornalista formado pela FACOM/UFBA e com uma carreira que passa pela Tribuna da Bahia, Correio da Bahia, TV Globo, G Magazine, Carta Capital e UOL, além de ter ministrado aulas de Teoria da Comunicação em diferentes Universidades dentro e fora do país, Jean Wyllys sempre se mostrou preocupado com os impactos da comunicação de massa nas democracias e nos comportamentos das pessoas, mesmo quando deputado federal pelo Rio de Janeiro. Wyllys coordenou a Frente Parlamentar pela Democratização da Comunicação e o Direito à Informação, além de ter sido membro das comissões de Cultura e Direitos Humanos e Minorias por dois mandatos. Eleito para um terceiro, Wyllys teve de renúncia-lo em razão de ameaças de morte que lhe obrigaram ao exílio por cinco anos. Além de se dedicar às artes visuais, atualmente o baiano trabalha no portal de jornalismo londrino openDemocracy.