No dia 14 de novembro, quando o artista faria 103 anos, evento na Cantina da Lua festeja álbum que chegará às plataformas em 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba
Com 10 faixas inéditas de Riachão, o disco “Onde eu cheguei, está chegado” será lançado nas plataformas de streaming no Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro. Antes disso, em 14 de novembro, data de nascimento deste mestre do samba, falecido aos 98 anos em março de 2020, uma celebração de sua vida, obra e deste trabalho póstumo acontece na Cantina da Lua, no Pelourinho, a partir das 19h. No evento, aberto ao público, os presentes vão testemunhar uma audição em primeira mão do álbum, seguida de uma roda de samba com músicos da Bahia. O projeto, realizado pela Giro Planejamento Cultural, tem patrocínio de Natura Musical e do Governo da Bahia, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.
Riachão estava vivo quando a proposta desta produção foi contemplada, mas encantou-se apenas quatro meses depois. O título original do disco era “Se Deus Quiser Eu Vou Chegar aos 100” – o que infelizmente não aconteceu. A obra então se tornou uma justa homenagem ao autor de clássicos como “Cada Macaco no Seu Galho” e “Vá Morar com o Diabo”. Com produção musical de Paulo Timor e Caê Rolfsen, as faixas surgem com vozes gravadas por Riachão, nunca antes utilizadas, inclusive em feats com artistas da música brasileira – e também com seu neto, Taian –, e interpretações de convidados para as letras deixadas por ele, como Roberto Mendes, Juliana Ribeiro, Enio Bernardes, Pedro Miranda e Nega Duda, entre outras grandes surpresas a serem anunciadas em breve.
A festa dos que seriam os 103 anos de Riachão na Cantina da Lua se justifica. Clementino Rodrigues – o nome de batismo – frequentava e cantava este lugar tradicional de Salvador, pertencente a seu parceiro Clarindo Silva, emblemática figura do Centro Histórico. “É lá o ponto de reunião de todos os malandros da Bahia”, já disse Riachão, que foi pioneiro e o mais longevo sambista da Bahia. Ainda criança, segundo ele próprio, cantava samba chula e samba de roda como os seus antepassados escravizados cantavam na senzala.
São mais de 500 composições, muitas delas nunca gravadas, de samba autêntico e de tradição oral, algumas interpretadas por artistas como Jackson do Pandeiro, Jamelão, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Cássia Eller, Zélia Duncan e muitos outros. Dizia ele: “Não me dá ideia de escrever nada, o samba está dentro da minha cabeça, de acordo com o que acontece ao meu redor”. Patrimônio baiano e brasileiro, de alegria e sorriso sempre estampados, foi parceiro de irmãos de samba como Batatinha, Edil Pacheco, Walmir Lima, Panela e tantos outros que fizeram da boa música baiana profissão de fé.
“Este projeto resulta de um senso de compromisso cultural com a Bahia e o Brasil no que diz respeito ao fortalecimento e prolongamento das criações musicais deste grande cantor e compositor”, diz Joana Giron, da Giro Planejamento Cultural, que contextualiza como ele havia voltado a compor após anos sem atividade: “Quando ele morreu, estava extremamente animado com o projeto e o disco estava em processo de escolha de repertório. A readequação de tudo não foi simples, mas, quatro anos depois, cremos que estamos prestando a homenagem mais à altura de Riachão possível”, completa.
O produtor musical Paulo Timor, em quem Riachão tanto confiava, comemora: “Ele estará presente no disco, mesmo após a sua partida, com quatro vozes dele gravadas anteriormente. A gente queria o Malandro cantando, e felizmente conseguimos: a voz imortal de Riachão, que é sempre o seu melhor intérprete”.
Em dezembro, junto com o disco, também vai entrar no ar um site que abrigará um amplo acervo de fotografias, reportagens, discos, fonogramas e documentos audiovisuais que apresentam a vida e a obra do sambista ao longo de mais de seis décadas. Para completar, serão disponibilizados três minidocumentários, dirigidos por Claudia Chávez, da Apus Produtora de Conteúdo, sobre o processo de realização deste projeto peculiar.