Ré Volução no país do Carnaval, segundo romance do renomado cientista, combina humor mordaz, crítica social e uma visão aguda das contradições brasileiras
“Foi assim, então, que, depois de quase cinquenta anos de espera, Ré Volução ganhou a sua tão esperada alforria; de repente, liberta das profundezas das minhas tantas gavetas, ela emergiu, tão real e ainda tão atual, de páginas quase totalmente apagadas, mas jamais esquecidas, de um texto datilografado por um adolescente amargurado e angustiado com tudo aquilo que ele via, ouvia e lia sobre o que se passava nos porões do seu amado país.” Miguel Nicolelis na apresentação de Ré Volução no país do Carnaval (p. 11)
Após o sucesso de Nada mais será como antes, sua estreia na ficção científica, e de inúmeras publicações sobre neurociência que conquistaram leitores por todo o mundo, o neurocientista Miguel Nicolelis lança Ré Volução no país do Carnaval – O julgamento final de uma nação fantasiada de democracia, seu segundo romance pelo selo Planeta Minotauro, da Editora Planeta. Escrito originalmente em 1977, durante a ditadura militar brasileira e quando Nicolelis tinha apenas 16 anos, a publicação foi revisada ao longo de quase cinco décadas para finalmente chegar ao público em 2025, num momento de acontecimentos políticos relevantes para a história do país, tal qual o tribunal distópico que está no centro da nova narrativa. Em meio a sambas, fantasias e marchinhas, o enredo combina humor mordaz, crítica social e uma visão aguda das contradições brasileiras.
Com ritmo vibrante e linguagem irônica, a história se inicia em plena sexta-feira de Carnaval, quando um Tribunal do Júri é montado às pressas para julgar os crimes de um regime autoritário, cuja mentora, Ré Volução – ou Ré Detentora –, é colocada de forma inédita no banco dos réus. “Naquele sorridente país tropical, sem sombra de dúvida, a sexta-feira de Carnaval era o dia ideal para se iniciar uma insurreição, um golpe de Estado, um genocídio, uma hecatombe, uma invasão, ou até mesmo, pasme você, caro leitor, um julgamento, reduzido agora a um ato de rebeldia contra o regime” (p. 18).
Presidido pelo juiz Fato Consumado, o julgamento reúne um elenco de personagens caricatos – como o promotor Acuso Nascerta, o advogado de defesa Sempre Passional e os jurados Deustodo Poderoso e A. Mando de Carlos Marques – que satirizam figuras dos poderes político e judiciário e da sociedade civil. O Tribunal se estende pelos cinco dias de Carnaval, entre acusações e defesas, depoimentos de testemunhas inusitadas e da própria Ré. Na plateia, foliões arrebanhados compulsoriamente pelo juiz convivem com ambulantes que transformam o anexo do Fórum em um verdadeiro mercado paralelo, onde se vendem lanches, bebidas e até apostas sobre o desfecho do julgamento. A tensão entre todos é crescente à medida que se aproxima o fim da festança (e do papel higiênico – em um Fórum já sem condições sanitárias para tantas pessoas). Na quinta-feira, o regime concebido pela Ré e comandado pelos generais **Cinco*Estrelas** ameaça retomar a ordem no país, silenciando a rebelião que ousou transformar a maior manifestação popular brasileira em palco de resistência.
“No entorno do Fórum, a gigantesca massa humana começou espontaneamente a cantar. Não o Hino Nacional ou algum samba, sucesso desse ou de outros carnavais. Sem que ninguém pudesse explicar, era um chorinho que o coral de milhares de vozes agora entoava, numa gigantesca serenata para os jurados que carregavam nas mãos os anseios de todos” (p. 213).
Dividido em treze capítulos, que se organizam por meio de alegorias carnavalescas – o abre-alas, a bateria, a apoteose –, a publicação reforça a tradição da sátira na literatura brasileira, propondo uma reflexão atual sobre justiça, memória e liberdade. Mais do que uma ficção política, Ré Volução no país do Carnaval é um testemunho literário de resistência, que dialoga com acontecimentos do passado e do presente, convidando o leitor a refletir sobre os limites da nossa democracia.
EVENTOS
Porto Alegre: Dia 15 de novembro às 17h30 na Feira do Livro de Porto Alegre
São Paulo: Dia 18 de novembro às 19h na Livraria MArtins Fontes (Paulista)
FICHA TÉCNICA
Título: Ré Volução no país do Carnaval – O julgamento final de uma nação fantasiada de democracia
Autor: Miguel Nicolelis
ISBN: 978-85-422-3841-9
Páginas: 240 pp.
Preço livro físico: R$ 62,90
Editora Planeta | Selo Planeta Minotauro
SOBRE O AUTOR
Miguel Nicolelis é um dos neurocientistas mais respeitados no mundo. Professor Emérito da Universidade Duke (EUA), fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra e, mais recentemente, do Nicolelis Institute for Advanced Brain Studies, Nicolelis pesquisa há quarenta anos os mistérios do cérebro humano. Durante a carreira, suas pesquisas foram capas das mais importantes revistas científicas, bem como dos maiores jornais do mundo. Pela Editora Planeta, lançou uma trilogia formada por Muito além do nosso eu, Made in Macaíba e O verdadeiro criador de tudo. Nada mais será como antes foi sua estreia na ficção científica, e Ré Volução no país do Carnaval é seu segundo romance.
SOBRE O SELO
Uma das marcas de maior sucesso do Grupo Planeta, o selo Planeta Minotauro chegou ao Brasil em 2018 para apresentar títulos de ficção especulativa, que engloba ficção científica, fantasia e horror. O selo equilibra clássicos do gênero, como As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, Em busca de Watership Down, de Richard Adams, a coleção História Universal, de Isaac Asimov, e A Metamorfose, de Franz Kafka, com novas tendências desse gênero, como O poder, de Naomi Alderman e A canção de Aquiles, Circe e Galateia, de Madeline Miller. Os livros da coleção oferecem uma experiência de leitura ampliada, a partir da inclusão de títulos adaptados para o audiovisual, como os do Grishaverso, de Leigh Bardugo, e Mickey7, de Edward Ashton. A série O Empyriano, fenômeno mundial de Rebecca Yarros, também é publicada no Brasil pelo selo.















