Condição médica requer tratamento especializado e pode estar diretamente associada a outros transtornos mentais
Considerado um objeto de uso indispensável e importante meio de comunicação da atualidade, o telefone celular é utilizado por cerca de 163,8 milhões de brasileiros de forma pessoal, o equivalente a 87,6% da população com 10 anos ou mais, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023. Contudo, o uso desenfreado do celular tem preocupado os especialistas que, nos últimos anos, analisam a nomofobia, dependência do dispositivo.
Psiquiatra e professor do curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS), Vinicius Pedreira reforça que, quando o hábito de utilizar o celular passa para uma condição de dependência, gerando medo, angústia e até irritabilidade, é sinal de que a pessoa pode estar desenvolvendo a nomofobia. “Quando o pensamento de não poder conferir ou ter acesso ao aparelho causa mal-estar, sufocamento, irritabilidade, alterações do sono e ansiedade é um alerta sobre o desenvolvimento dessa condição”, complementa.
Vinicius Pedreira explica que a nomofobia pode estar diretamente associada a outros transtornos mentais, a exemplo da depressão e da ansiedade, além de contribuir na piora em quadros fóbicos ansiosos como também pode associar a episódios de alterações de humor, como irritabilidade e tristeza patológica. Isso ocorre por causa do sentimento de dependência e sofrimento ao estar sem o dispositivo. São fatores de risco: transtornos psiquiátricos prévios, vulnerabilidade com falta de suporte social-familiar, conflitos, pressão constante, problemas de autoestima e transtornos de personalidades.
“A longo prazo, as consequências dessa condição são muito ruins, pois a pessoa perde a capacidade de gerir suas atividades para passar a viver em circunstância de dar conta dessa dependência, perdendo momentos de lazer e descanso e aqueles com socialização presencial. Isso interfere na saúde física e mental e pode provocar palpitações, suores, mal-estar e nervosismo, alterações do sono, cansaço, irritabilidade, indisposição e alterações persistentes do humor. É um desgaste grande ao organismo e uma consequente perda funcional diária da saúde”, alerta o professor da UNIFACS.
Como tratar
O médico psiquiatra afirma que o primeiro passo para o tratamento eficaz da nomofobia é identificar que há dependência e prejuízo funcional persistente e procurar ajuda especializada. “A psicoterapia pode auxiliar nos casos leves, mas alguns casos podem requerer intervenção farmacológica e até internação”, explica o especialista.
Dentre as dicas para auxiliar no tratamento dessa condição, Vinicius Pedreira destaca:
- Exercitar a paciência e estabelecer limites diários ou semanais de uso do celular;
- Lembrar que não precisa ter receio sobre ter um tempo de espera para conferir o celular;
- Ter a prática de saber aguardar, exercitando a paciência e manter a atenção focada no seu dia a dia ou no que realmente importa na sua vida e não em atividades ou demandas sociais através de um dispositivo.
“A nomofobia é uma condição médica e requer tratamento, não é o simples hábito de olhar o celular ou um costume corriqueiro, mas algo que gera sofrimento e disfuncionalidade para a pessoa e há casos graves. Por isso, é importante haver avaliação profissional caso identifique um uso de dependência do celular ou conflitos causados por conta disso”, finaliza o psiquiatra e professor da UNIFACS, cujo curso de Medicina é parte integrante da Inspirali.