Espetáculo Ana e Tadeu explora a subjetividade em meio à violência urbana
Texto inédito de Mônica Santana, com direção de Diego Araúja estreia no Teatro Goethe-Institut no dia 8 de maio e faz curta temporada até 18 de maio
Pode o amor resistir a violência que atravessa a vida de uma família, alterando completamente as existências? Com estreia no dia 8 de maio, às 20h, no Teatro do Goethe-Institut (Vitória), o espetáculo Ana e Tadeu lança essa e outras perguntas para o espectador ao contar a história de um casal que está se separando, em meio a um tiroteio em seu entorno. A montagem encena texto inédito de Mônica Santana (dramaturga indicada ao Prêmio Bahia Aplaude 2025) e conta com direção de Diego Araúja (vencedor do Prêmio Braskem de Teatro 2019, na categoria texto).
Vividos pelos atores Antônio Marcelo (Candomblé da Barroquinha) e Mônica Santana, os personagens se encontram numa situação limite – cada vez mais comum e cotidiana nas grandes cidades brasileiras. Mais que discutir uma temática social, a peça promove um mergulho na subjetividade de duas pessoas que têm suas existências atravessadas pela violência. A personagem Ana é uma socióloga e ativista, que tem uma forte relação com o bairro em que cresceu e deseja resistir ali, mesmo diante das mudanças gradativas no território. Seu ex-marido, Tadeu, é um músico, retomando sua carreira artística depois da separação.
DRAMATURGIA – Para a dramaturga e idealizadora do projeto, Mônica Santana, “a obra quer discutir sobre a condição entrincheirada de duas pessoas negras, que têm uma vivência rica de experiências, de trajetórias, mas que habita uma comunidade periférica e lida com o entrincheiramento imposto nesse território”. Para autora, a peça parte do olhar íntimo para duas personagens, cheias de suas particularidades, falhas e singularidades, compreendendo como são afetadas pelas violências. “Qual é a subjetividade que se constitui a partir das perdas, dos constrangimentos, das derrotas impostas sobre pessoas negras? É uma pergunta que motivou a construção de Ana e Tadeu” acrescenta.
Além de assinar a direção do espetáculo, Diego Araúja também concebeu a cenografia, ao lado do cenógrafo Erick Saboya, trazendo uma proposta de uma casa que se desaba, dissolve – tanto pelos ataques externos quanto pelas agressões mútuas que se dão no contexto íntimo. Para o diretor, “Observo que Ana e Tadeu promove uma conversa, por vias cênico-performáticas, sobre os afetos no seio das relações comunitárias/familiares afro-brasileiras. Por isso mesmo, trata-se de um estudo do como se agencia no sujeito negro, entre sujeitos negros, esses afetos”. Ele propõe na cena um jogo de visibilidades entre a dimensão sensível e imaterial das personagens, em contraponto a uma estilização daquilo que poderia ser concreto (essa casa que desaba, esse tiroteio que se converte em música, essa realidade que se dissolve. “Depois do amor e do luto, a peça se entrelaça entre solilóquios, conversações, palavras e agressões; uma verborragia que afirma a falta pelo excesso” aponta o encenador.
Ana e Tadeu conta ainda com direção coreográfica de Neemias Santana, que propõe movimentações não convencionais para os corpos dos atores e permitem tornar material a dimensão interna de seus conflitos. A trilha musical é composta por Andrea Martins e Ronei Jorge, que contarão com a DJ Nai Kiese nas operações durante as apresentações. O figurino é assinado por Alexandre Guimarães e a iluminação é de Caboclo de Cobre, fechando a equipe artística do projeto, que conta com a realização da Crioula Arte e Cultura e Produtora Árvore.
O espetáculo Ana e Tadeu fica em cartaz de 8 a 18 de maio, de quinta a sábado, às 20h e domingos, às 19h. Os ingressos estão disponíveis à venda no Sympla, com valores entre R$40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia entrada). Todas as sessões contarão com tradução em LIBRAS e às sextas-feiras, com audiodescrição. Na sessão do dia 9 de maio, após o espetáculo, acontecerá um bate papo com nomes convidados sobre os temas enfrentados pela obra.
Este projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.
SINOPSE
Ana e Tadeu tinham 15 anos de casamento, mais um filho, o menino Jorge. A violência urbana trouxe uma sucessão de acontecimentos que mudaram irreversivelmente a vida e a subjetividade destas personagens. Com o casamento arruinado, Tadeu volta para pegar suas coisas e levar sua mudança. Contudo, encontra a casa cercada por um tiroteio. Confinados, Ana e Tadeu aparam as últimas arestas de uma relação cercada de afeto, dor e da própria violência, que os atravessa e limita.
Serviço
Ana e Tadeu
Espetáculo teatral – Estreia, dia 8 de maio, às 20h e temporada de quinta a sábado, às 20h e domingos, às 19h, até 18 de maio
Teatro do Goethe-Institut (Av. Sete de Setembro, Vitória)
Ingressos disponíveis exclusivamente pelo Sympla (colocar aqui o link)
Valor: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada)
Classificação indicativa: 16 anos
FICHA TÉCNICA
Idealização e Texto | Mônica Santana
Direção|Diego Araúja
Atriz | Mônica Santana
Ator | Antonio Marcelo
Assistência de direção | Neemias Santana e Quemuel Costa
Direção coreográfica | Neemias Santana
Cenografia | Diego Araúja e Erick Saboya
Cenotecnia | Felipe Cipriani (Oxe Arte)
Trilha Sonora e direção musical | Andrea Martins e Ronei Jorge
DJ e operação de som | Nai Kiese
Técnica de Som | Acelino Costa e Nai Kiese
Desenho de luz | Caboclo de Cobre
Operação de Luz | Caboclo de Cobre e Almir Gaiato
Técnico de luz | Almir Gaiato
Figurino | Alexandre Guimarães
Costura | Maria de Lourdes
Produção | Fabiana Marques
Assistente de produção | Lucas Oliveira
Gestão Administrativa e Financeira | Thayná Mallmann
Comunicação | Mônica Santana
Identidade visual e Design Gráfico | Duna (Lia Cunha e Isabella Coretti)
Fotografias (Design gráfico) | Priscila Fulô
Fotografias (Imprensa/Divulgação) | Caio Lírio.
Minibios
Mônica Santana
MONICA SANTANA é dramaturga, atriz, professora, comunicadora. Doutora e mestre em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente é Professora no Mestrado Profissional em Artes da Cena, na Célia Helena Centro de Artes e Itaú Cultural. Atualmente está indicada no Troféu Bahia Aplaude, na categoria Melhor Texto, por seu trabalho como dramaturga em Sr. Oculto e foi vencedora da Categoria Revelação, em 2015, por seu solo Isto Não É Uma Mulata. Por esta obra, a artista se destacou nacionalmente, sendo considerada uma das mulheres negras e artistas mais influentes tanto pelo Coletivo Blogueiras Negras, quanto pela ong Think Olga.
Diego Araúja
DIEGO ARAÚJA é artista natural de Salvador-BA, Brasil, e produz arte de modo expandido. É bacharel em artes cênicas pela Escola de Teatro da UFBA e tem 14 anos de carreira. Suas mídias são cênico-performáticas, visuais, literárias e audiovisuais; nas funções de diretor, cenógrafo, dramaturgo, roteirista e escritor. Fundou com Laís Machado a Plataforma ÀRÀKÁ, território de criação e pesquisa sobre a memória afrodiaspórica enquanto espaço tecnológico, experimental e performático. Participou de eventos nacionais e internacionais nas áreas de artes cênicas (FIAC-Ba, Theatertreffen [GER], ADELANTE – Festival Iberoamericano de Teatro [GER], FIT-Bh, IC, Encontro de Artes-BA, Melanina Acentuada-BA); e artes visuais (FRESTAS – Trienal de Artes e EFIE – The Museum is Home [GER]). Foi membro fundador, colunista e editor da Revista BARRIL, revista de crítica em artes. Venceu o Prêmio Braskem de Teatro da Bahia (2019) na categoria “melhor texto”, pelo trabalho “Prontuário da Razão Degenerada”. Sua obra “QUASEILHAS – 1ª crioullage” (2018-2020) venceu o “5º Prêmio Leda Maria Martins”. Em 2018, colaborou com o artista britânico Isaac Julien, em seu trabalho “A Marvellous Entanglement”, sobre a arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. Seu mais recente trabalho, criado em colaboração com a artista Laís Machado (a instalação “Sumidouro nº 2 – Diáspora Fantasma”) foi exposto na 35ª Bienal de Arte de São Paulo – “Coreografias do Impossível” (2023).