Curso Processos Criativos na Cozinha ensina jovens a buscarem uma fonte de renda, por meio da preparação de alimentos, e a compartilharem o aprendizado entre familiares e comunidades de origem
Receitas de família, passadas por mães e avós, e compartilhadas entre jovens que almejam ingressar na Educação Superior, foram o ponto de partida para o curso Processos Criativos na Cozinha, que terá uma segunda turma a partir de setembro.
A ideia começou em 2021, quando foi possível retomar o contato presencial interrompido por conta da pandemia de Covid-19. Nesta época, jovens integrantes do Núcleo de Estudos e Ação Mundo da Juventude (NEAM) participavam, de forma remota, do projeto Jovens do presente antecipando futuros desejáveis, apoiado pela Faperj,coordenado pela então diretora do departamento de Artes e Design, e atual vice-reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica, profa. Jackeline Farbiarz, que promovia formação complementar com ênfase no ingresso na Educação Superior e no primeiro emprego para jovens vulnerabilizados, com a participação de professores e estudantes de graduação e pós-graduação da PUC-Rio.
Com a volta ao presencial, o Centro Loyola de Fé e Cultura, na Estrada da Gávea, 1, Gávea, foi cedido pelo então vice-reitor e atual reitor da PUC-Rio, Padre Anderson Antônio Pedroso, S.J., que também fazia parte da equipe do projeto, para ser o ponto de encontro para as formações e também um local para os jovens frequentarem.
“A PUC é uma universidade comunitária, que tem como missão inovar no ensino, na pesquisa e na extensão. O acolhimento a estes jovens foi muito importante, tanto para eles quanto para nós. Estávamos passando por uma fase muito difícil, a fome era um problema real e estava muito próxima de nós. As conversas sobre a realidade destes jovens, a possibilidade de compartilhar o alimento e gerar renda, tudo isso despertou, no grupo, o desejo de contribuir de alguma forma para mudar a situação”, lembrou Pe. Anderson Pedroso.
Logo a cozinha se tornou o lugar das conversas mais próximas, onde os participantes começaram a trocar receitas resgatando histórias de família.
“Não era incomum ver um jovem trazendo uma receita ditada por uma avó e se articulando com outro para que a receita se tornasse a comida a ser elaborada na semana seguinte. Bolo de cenoura, pão de queijo, cachorro quente, macarronada, muito era feito entre os jovens, muito era partilhado, mas a convivência dos jovens, que lá estavam, com pessoas em situação de extrema fome, no entorno do Centro Loyola, rodeava os encontros”, recorda Jackeline Farbiarz.
No início de 2022, a partir do reconhecimento das demandas dos jovens, novas formações foram oferecidas, nas áreas detecnologia, criatividade, autocuidado e sustentabilidade/ empreendedorismo. Além disso, os jovens passaram a ser incentivados a participar do pré-vestibular comunitário, oferecido pela Pastoral Universitária.
Nos últimos seis meses, com o apoio de bolsas do Programa Santander Universidades, o projeto foi redesenhado e, atualmente, recebe cerca de 350 jovens, oriundos de 42 bairros, que se dividem entre a preparação para o Enem, ofertada pela Pastoral, e os cursos livres que compõem as formações, entre os quais o de Processos Criativos na Cozinha, que carrega a essência do projeto.
“É ele nosso ponto de encontro, de troca e de reconhecimento da necessidade de ação em um percurso que se alinha com a missão humanista de nossa universidade”, afirma Lucas Brazil, coordenador administrativo do projeto, no âmbito da Vice-reitoria de Extensão e Estratégia Pedagógica, que escreveu sobre o tema em sua tese de doutorado.
A primeira turma do curso Processos Criativos na Cozinha contou com 20 alunos, que aprenderam sobre panificação e massas utilizando outros itens e alimentos como complemento. “O objetivo é que os alunos possam utilizar o que aprendem no curso para gerar uma fonte de renda e buscar formas alternativas de cozinhar, reaproveitando alimentos e multiplicando o aprendizado com seus familiares e amigos”, explica Lucas Brazil.
Para o segundo semestre, a PUC recebeu mais de 600 inscrições para participação no projeto, sendo mais de 200 jovens selecionados para os cursos. As aulas terão um ciclo básico que começa em agosto, com formação voltada para a gestão de imagem, inovação empreendedora e gestão financeira. Em setembro, começarão as aulas dos cursos específicos.
“O jovem tem a oportunidade de aprender um ofício, como a cozinha, e também de se preparar para o trabalho, transformando seus objetivos em realidade”, explicou Lucas Brazil.
O projeto também está cumprindo seu papel de compartilhar conhecimento: muitas mães e responsáveis de alunos, que participaram da oficina no primeiro semestre, inscreveram-se para este. Além disso, o projeto alcança jovens de várias localidades: no primeiro semestre, a PUC recebeu jovens deSanta Cruz, Mangueira, Tijuca, Camorim, Cascadura, Senador Camará, Cidade de Deus, Estácio, Comendador Soares, além dos bairros no entorno da universidade.
Para a realização do curso Processos Criativos na Cozinha, houve a colaboração de diferentes parceiros, como o Zona Sul e a ASA, que disponibilizaram azeite de oliva; o hortifruti Chico, contribuindo com vegetais, folhas e ervas; a Rio Nata Brasil, a Capril Deville e a Troço Bom, colaborando com laticínios artesanais; a Slow Bakery, com fornecimento de farinha; o Café Jurumirin, com oferecimento de café artesanal; assim como a Casa Maranguape, com a doação de utensílios de cozinha para o curso.
A iniciativa também contou com a participação dos profissionais de cozinha Julia Dalle; José Nascimento; Vinnicius Lima; Aline Pereira e Gabriel Stefano, passando suas experiências e ministrando aulas.
“Essas parcerias fazem parte do conceito de cozinha ensinado nas aulas, o trabalho em rede e em comunidade, base para a organização do curso realizado pela Chef Ellen Gonzalez, aluna da PUC, e equipe”, concluiu Lucas Brazil.