A premiada atriz baiana transpõe para o palco do Teatro Molière memórias e questionamentos sobre a real natureza do ser humano
Prestes a completar 45 anos de vida artística, a atriz Rita Assemany sobe ao palco do Teatro Molière (Aliança Francesa), a partir do dia 6 de setembro, para apresentar mais uma criação original: o monólogo Surf no Caos, escrito por Aninha Franco: uma reflexão sensorial sobre a existência humana e as lutas em nome da liberdade. A peça tem direção da própria Rita e une diversas linguagens, como vídeo e fotografia, embalando o público com uma trilha sonora que remete a acontecimentos da história, batendo na nossa memória afetiva. O espetáculo fica em cartaz sempre às sextas e sábados, às 20h, até o final de setembro.
Em cena, uma humana se vê diante de suas percepções e memórias ancestrais. A símia bípede Lucy, considerada o primeiro ser humano primitivo, com mais de 3 milhões de anos, descoberta em 1974, na Etiópia, é um importante elemento dramático, que sintetiza os questionamentos da autora sobre a Humanidade e seus (des)caminhos. “Ficamos de pé! E agora, para que é que nós erguemos sobre nossas colunas?”, questiona o texto de Aninha Franco, que completa: “Por que você acordou quadrúpede e dormiu bípede? Olha a nossa situação agora! Todos sedentários, com a cabeça colada aos celulares. Que porra é essa, Lucy?! “
Escrito em 2015 e encenado virtualmente durante a pandemia da Covid 19, com esporádicas apresentações presenciais no pequeno espaço da República AF, no Pelourinho, Surf no Caos chega desta vez para um público maior. Uma oportunidade para aqueles que desejam mergulhar no universo de uma dramaturga bem-sucedida – autora de sucessos como Dendê e Dengo e Oficina Condensada – e de uma atriz fora da curva, já reconhecida nacionalmente em papeis no cinema (Abril Despedaçado e Central do Brasil), na televisão (Justiça 2) e, claro, no próprio teatro, onde mescla a função de atriz e diretora.
E Rita não está só
Surf no Caos espelha a própria experiência de vida de Rita Assemany e as conexões feitas ao longo do tempo. No palco, ela passeia por momentos emblemáticos dessa história, revelando sentimentos próprios, conflitos íntimos e questionamentos particulares que, na sua visão, podem conectar-se com a plateia do espetáculo. “Se você já se embriagou com uma poesia, viveu uma paixão estilo Piazzolla, assistiu mil vezes o filme Casablanca; se você acredita no amor, viveu os anos 70, e cantou Imagine com John Lennon; se você luta todos os dias por liberdade, toma sua dose diária de alegria, seja numa taça de vinho ou numa boa conversa filosófica; se você ainda sonha em mudar o mundo e faz da Arte a sua droga predileta, assista Surf no Caos”, depõe a atriz.
Confessadamente, a peça é uma homenagem à arte e a poesia. Com diz Rita, a montagem é também resultado de “uma pesquisa-catarse sobre as belezas e os horrores que o ser humano cria”.
– Estudei fatos, relembrei tragédias e remexi memórias. Nasci em 1962. Thimothy Laurie fazia experimentos psicodélicos com a mente humana; sutiãs eram queimados; “Roda Viva”, de Marília Pêra presa. Ao lado da Liberdade, governos ditatoriais: a repressão e a tortura em oposição à Contracultura. Busquei dentro de mim imagens do Cinema e das ruas: o horror das guerras e Ingrid Bergman pedindo “toque, San”, em Casablanca. Desenhei no papel o som dos 5 tiros que atravessaram John Lennon e seus óculos de lentes redondas caídos no chão. Bonecos pretos enforcados e pendurados numa árvore de arame, ao som de Billie Holiday em Strange Fruit misturado a Libertango, de Piazzola e O Amor, de Maiakovisk. Peço paz com um rabisco de giz colorido no palco e cabelos soltos ao som de Aquariu’s: Arembepe! Os passos para o futuro são um sapateado. E os muitos rostos projetados é porque, embora pareça que falo sozinha, não estou só”, observa Assemany.
Rita Assemany na arte
Na trajetória de Rita Assemany no cinema se destacam Abril Despedaçado e Central do Brasil (Walter Sales); O Último Cine Drive-in (Iberê Carvalho); Entre Irmãs (Breno Silveira); Pixaim (Fernando Beléns) – que lhe rendeu 4 premiações de Melhor Atriz, inclusive no Festival de Brasília –; o curta ODE (Diego Lisboa), pelo qual foi premiada na 16ª Mostra Nacional de Santa Maria/RS agora em 2024; e, por último, a série Justiça 2 (Gustavo Fernandez/Globoplay), escrita pela baiana Manuela Dias e que também lhe rendeu indicações a prêmios.
No teatro, estrelou o espetáculo Dendê e Dengo em diversos palcos pelo mundo, representando a Bahia em festivais internacionais, durante uma turnê que incluiu Marrocos (1990) e Zurique (1994). Na Alemanha, durante em 1997, fez uma pequena temporada com a tragédia Medeia, encenada pelo diretor alemão Hans Ülli Becker. Ficou em cartaz durante 16 anos com o espetáculo Oficina Condensada, com o qual viajou pelo Brasil e fez temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, recebendo comentários elogiosos de respeitados críticos teatrais da época. Recebeu quatro prêmios nacionais de Melhor Atriz pelas interpretações em Toda Nudez Será Castigada (Nelson Rodrigues); Medeia (Eurípedes); Oficina Condensada e A Casa da Minha Alma (Aninha Franco).
Como diretora artística, esteve a frente durante seis anos da Cia.Axé do XVIII – projeto que assistia jovens em situação de vulnerabilidade social e risco, egressos de um outro projeto de mesmo cunho, o Projeto Axé. Além disso, foi curadora artística do Teatro XVIII e da República AF, espaços culturais no Centro Histórico de Salvador
Ficha técnica
Interpretação e Direção: Rita Assemany
Texto: Aninha Franco
Encenação: Rita Assemany
Ass. Encenação: Jorge Vox
Sapateado: Cibele Brandão
Cenografia: Maurício Pedrosa, Maurício Pinto e Rita Assemany
Videomapping: Flora Rodríguez
Luz e som: Cauê Borges
Produção: Levina Ferraz
SERVIÇO
Espetáculo Surf no Caos
Local: Teatro Molière da Aliança Francesa Salvador
Endereço: Av. Sete de Setembro, 401, Barra
Sextas e sábados/ 6 a 28 de setembro, 20h
Ingressos exclusivamente pelo WhatsApp: (71)99921-2368
Ingressos:R$80,00/ R$40,00