Você é uma daquelas pessoas que gostaria muito de adotar a meditação na sua vida, mas tem dificuldades em sentar para meditar? Meditar, na teoria, parece simples: sentar, respirar e observar, momento a momento, o corpo e a mente. Mas, na prática, essa simplicidade se revela desafiadora para muitas pessoas, trazendo sensações de desconforto, frustração e até resistência. No final, muitas pessoas podem desistir de trazer essa prática para a sua vida.
Mas por que é tão difícil meditar? A verdade é que meditar faz com que nos encontremos com todo tipo de sensações, das prazerosas às desprazerosas. A ideia de sentar em silêncio e apenas observar a mente pode parecer, para alguns, como um convite para dar de cara com uma tempestade interior, de pensamentos incessantes e agitação. Afinal, quem nunca se sentiu sobrecarregado pelas tagarelices e distrações da mente ao tentar meditar? A realidade é que nossas mentes são naturalmente ocupadas, pulando de pensamento em pensamento como um macaco hiperativo. Essa inquietação mental é normal e também esperada, e é justamente por essa razão que a meditação pode ajudar, e muito. Com o tempo, aprendemos a domar esses macaquinhos melhor.
Vou listar para você aquilo que considero, nos meus 25 anos de experiência como praticante de meditação e mais de 15 anos de trabalho como instrutor de mindfulness especificamente, os principais desafios para manter a prática da meditação na nossa vida:
- Falta de tempo: “Não tenho tempo para meditar” é uma reclamação comum. No entanto, a prática pode ser iniciada com apenas 10 minutos por dia. Inclusive, ensinamos aqui na nossa clínica que pausar por apenas 1 minuto e sentir a respiração já pode ser muito eficiente. Estudos mostram que até mesmo práticas breves e curtas de mindfulness podem ter efeitos positivos significativos na redução do estresse e na melhoria do bem-estar geral.
- Desconforto ao ficar parado: Muitas pessoas pensam que se sentarem para meditar por um longo período vai ser desconfortável. O que você precisa entender é que meditar não precisa ser feito apenas sentado; práticas em movimento, como uma caminhada consciente e meditativa, focada nas sensações do corpo andando e respirando, ou até mesmo o yoga, também são muito eficazes.
- A mente não para: Muitas pessoas desistem porque acham que não conseguem “desligar” seus pensamentos. No entanto, a meditação não é sobre silenciar a mente, mas sim sobre observar os pensamentos sem se apegar a eles. A evidência científica nos ensina que essa observação consciente, sem julgamento do pensar, pode reduzir significativamente os níveis de ansiedade e melhorar a nossa capacidade de regulação emocional.
- Muitas distrações:O barulho externo e as distrações são inevitáveis. Mas a prática da meditação ensina que a quietude procurada é interna, acumulada com o tempo e prática consistente. Estudos demonstram que, com a prática regular, o cérebro se adapta, e os meditadores desenvolvem uma capacidade aumentada de se concentrar, mesmo em ambientes barulhentos. No final, os barulhos podem ser utilizados como âncoras do presente, formas de se acalmar no meio do caos dos sons e ruídos.
- Desconfiança sobre os verdadeiros benefícios da meditação: Algumas pessoas não percebem os benefícios da meditação tão rapidamente e, por isso, desistem. No entanto, evidências científicas mostram que a meditação regular está associada a melhorias na saúde mental, incluindo redução dos sintomas de depressão, ansiedade e até mesmo dor crônica. O ideal é sentar para meditar sem expectativas dos resultados. Deixar que os resultados apareçam mais naturalmente pode facilitar esse processo.
- “Não sou bom nisso”, “Nunca faço certo”: A sensação de que é preciso “fazer certo” é um equívoco comum na meditação. A verdade é que é impossível falhar na meditação. Mesmo que você passe 20 minutos pensando em coisas aleatórias, essa atividade mental do momento faz parte da prática. O objetivo da prática é ensinar você a responder a essa agitação. Não há uma maneira única ou correta de meditar; existem tantas formas de meditação quanto pessoas que a praticam. O ponto mais importante é desenvolver um olhar de amizade e compaixão com a prática. A meditação pode ser vista como uma companheira ao longo da vida, como um velho amigo a quem recorremos em busca de apoio, inspiração e clareza.
Pesquisas destacam os benefícios da meditação para a saúde mental. Estudos realizados por instituições renomadas, como a University College Los Angeles (UCLA), indicam que práticas regulares de mindfulness podem reduzir a atividade na amígdala, a parte do cérebro associada ao estresse e à ansiedade. Além disso, estudos da neurocientista Dra. Sara Lazar comprovaram que a meditação aumenta a espessura do córtex pré-frontal, área ligada à tomada de decisões e ao fortalecimento da atenção.
Psicólogos têm sido fundamentais na introdução e adaptação de práticas de mindfulness em contextos clínicos. Figuras como Jon Kabat-Zinn, pioneiro nos programas de Redução de Estresse Baseada em Mindfulness (MBSR), trouxeram essas técnicas para o tratamento de uma variedade de condições mentais, incluindo transtornos de humor e ansiedade. Além disso, o suporte psicológico também foi crucial em momentos de crise, como nas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul este ano, onde psicólogos ajudaram vítimas a lidar com traumas e perdas. No campo dos esportes, psicólogos têm apoiado atletas como Simone Biles, ajudando-os a gerenciar a pressão mental e a ansiedade, especialmente em eventos de alto desempenho, como as Olimpíadas de Paris 2024.
Meditar pode parecer desafiador, mas é uma prática acessível a todos, independentemente de experiência prévia. Enfrentar os desafios da meditação é, na verdade, parte do processo de aprendizado e crescimento pessoal. A cada momento que você dedica para se sentar em silêncio e aterrizar no presente, você está investindo em sua própria saúde mental e bem-estar. Lembre-se de que a prática da meditação é sobre o processo, e não sobre resultados perfeitos. Faça amizade com a prática, encontre um ritmo que funcione para você e permita-se simplesmente ser.
Vitor Friary – psicólogo e mestre em psicologia pela London Metropolitan University. É autor de livros publicados no Brasil e nos Estados Unidos. Atualmente é Doutorando no Instituto Universitário de Lisboa e diretor do Centro credenciado de formação e tratamento em Mindfulness-based Cognitive Therapy (MBCT) no Brasil.