Filme luso-brasileiro estreia nos cinemas em 24 de abril e retrata a tensão de um grupo isolado após naufrágio no século XIX
Após o naufrágio de um navio negro no século XIX, um grupo de sobreviventes, brancos e negros, tenta reinventar a convivência numa ilha deserta. Em torno dessa premissa, o filme SOBREVIVENTES construiu uma alegoria sobre os legados da escravidão e do colonialismo. Último longa-metragem do cineasta luso-brasileiro José Barahona, falecido em novembro de 2024, o filme estreia nos cinemas brasileiros no dia 24 de abril com distribuição da PANDORA FILMES , em um lançamento que também será homenagem à trajetória do diretor.
Formado em cinema em Lisboa, com passagens pela EICTV em Cuba e pela New York Film Academy, Barahona construiu uma obra marcada pela investigação histórica, pelo diálogo entre ficção e documentário e pelo engajamento político. Dirigiu títulos como “Estive em Lisboa e Lembrei de Você” (2016), adaptação do romance de Luiz Ruffato, e o documentário “Nheengatu” (2020), filmado na Amazônia e premiado internacionalmente. Além de cineasta, foi produtor, ensaísta e importante articulador do intercâmbio entre o cinema português e o brasileiro.
A história de SOBREVIVENTES foi criada por Barahona e desenvolvida em parceria com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, autor de livros traduzidos em mais de 30 idiomas e vencedor de prêmios como o Independent Foreign Fiction Prize, no Reino Unido, e o Prêmio Literário Internacional de Dublin.
Agualusa é conhecido por abordar em sua literatura as heranças do colonialismo, os cruzamentos entre memória e identidade e as cicatrizes deixadas pela escravidão. Entre seus títulos estão “Nação Crioula”, que imagina cartas escritas pelo personagem Fradique Mendes sobre sua vivência em Luanda e seu amor secreto pela ex-escravizada africana Ana Olímpia; “O Vendedor de Passados”, que investiga a reinvenção das memórias em uma Angola pós-colonial; e “Teoria Geral do Esquecimento”, ambientado no período da independência angolana e centrado na metáfora do isolamento como reflexo da memória coletiva.
O escritor angolano conta que o que mais lhe interessou quando o diretor José Barahona pediu para que contribuísse para a escrita do roteiro do filme “foi trazer a voz dos africanos, trazer a perspectiva desses africanos sobreviventes. Mostrar que eles nunca foram sujeitos passivos da sua história, foram sujeitos ativos dessa mesma história. Os africanos sobreviveram ao naufrágio, mas sobreviveram, sobretudo, a um processo de sequestro. Então, esse foi todo o meu esforço maior”.
A produtora do filme, Carolina Dias, também companheira de Barahona, explica que o projeto foi filmado entre maio e junho de 2022 em Portugal e que o cineasta “ sempre teve uma relação íntima com o Brasil, e se questionava sobre o passado de ‘glórias’ de Portugal. possibilidade de, na luta pela sobrevivência, escolher entre reproduzir comportamentos do passado ou criar uma nova estrutura de sociedade” .
A trilha sonora original é assinada por Philippe Seabra, da banda Plebe Rude, e contornos ainda mais emocionais com a participação especial de Milton Nascimento, que ganha sua voz a uma das faixas do filme, ampliando sua dimensão simbólica e afetiva.
SOBREVIVENTES é uma coprodução Brasil–Portugal, com passagens por festivais como IndieLisboa, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e Festival de Cinema Brasileiro de Paris. No elenco estão Miguel Damião, Allex Miranda, Anabela Moreira, Roberto Bomtempo, Zia Soares, Paulo Azevedo, Ângelo Torre, Kim Ostrowskij e Hugo Narciso.
Ficha Técnica
SOBREVIVENTES (2024) – Brasil / Portugal – 111′
Direção: José Barahona
Roteiro: José Eduardo Agualusa e José Barahona
Produção: David & Golias (Portugal) e Refinaria Filmes (Brasil)
Produção Executiva: Fernando Vendrell, Luís Alvarães e Carolina Dias
Fotografia: Hugo Azevedo
Direção de Arte: Ana Teresa Castelo
Figurino: Patrícia Domingues
Maquiagem e Caracterização: Magali Santana
Montagem: João Braz
Desenho de Som: Beto Ferraz
Mixagem: Armando Torres Júnior
Correção de Cor: Andreia Bertini
Efeitos Especiais: Jorge Carvalho
Trilha Sonora Original: Philippe Seabra (com participação de Milton Nascimento)
Elenco: Miguel Damião, Allex Miranda, Anabela Moreira, Roberto Bomtempo, Zia Soares, Paulo Azevedo, Ângelo Torre, Kim Ostrowskij, Hugo Narciso
Distribuição no Brasil: Pandora Filmes
Sinopse : Meados do século XIX. Um grupo de sobreviventes do naufrágio de um navio negro, brancos e negros, dão a uma ilha deserta, perdidos algures no Oceano Atlântico. A luta pela sobrevivência e pelo poder vai inverter os valores morais e sociais da época. Isolados, será possível que deixem de lado o passado das relações de poder e subjugação e encontrem uma nova forma de viver em harmonia?
Refinaria Filmes
Criada em 2002, a Refinaria Filmes é uma produtora independente focada em coproduções internacionais de filmes de ficção e documentário, exibidas nacionais e internacionais. Dentre suas produções recentes estão Sobreviventes (fic, 2024) e Nheengatu (doc, 2020) de José Barahona, A Bela América (fic, 2023) de António Ferrreira, Rua dos Anjos (doc., 2022) de Renata Ferraz e Raiva (fic., 2018) de Sérgio Trefaut, entre outros.
Pandora Filmes
A Pandora é uma distribuidora de filmes independentes que há 35 anos busca ampliar os horizontes da distribuição de longas metragens no Brasil, revelando cineastas outros desconhecidos no país, como Krzysztof Kieślowski, Theo Angelopoulos e Wong Kar-Wai, e relançando clássicos memoráveis em cópias restauradas, de diretores como Federico Fellini, Ingmar Bergman e Billy Wilder. Sempre acompanhando as novas tendências do cinema mundial, os lançamentos dos últimos anos incluem “O Apartamento”, de Asghar Farhadi, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional; “A Praça: A Arte da Discórdia”, de Ruben Östlund, vencedor da Palma de Ouro em Cannes; “Parasita”, de Bong Joon Ho, vencedor da Palma de Ouro e do Oscar; o tunisiano “O Homem que Vendeu Sua Pele”, de Kaouther Ben Hania, e “A Felicidade das Pequenas Coisas”, uma grande surpresa do cinema do Butão, ambos indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional; “Apocalypse Now: Final Cut”, obra prima de Francis Ford Coppola; “Roda do Destino”, de Ryusuke Hamaguchi, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim; mais os brasileiros “Deserto Particular”, de Aly Muritiba, e “Uma Família Feliz”, de José Eduardo Belmonte, dois grandes sucessos aclamados pela crítica.