Mesmo não sendo uma doença neurodegenerativa, está relacionada a alterações em áreas do cérebro. Neurologista explica diferenças em relação ao Parkinson
O tremor essencial é o transtorno de movimento mais comum e atinge cerca de 20% da população brasileira com idade acima de 65 anos. Embora ainda não se saiba exatamente suas causas, estudos o relacionam com alterações genéticas que geram o mau funcionamento do cerebelo e tronco encefálico. Normalmente, está presente nas mãos, mas pode afetar a cabeça, cordas vocais e até membros inferiores. A depender da intensidade dos sintomas, acaba dificultando a execução de tarefas simples, a exemplo de segurar um copo ou colher, escrever, escovar os dentes e fechar botões ou zíperes.
Neurologista e professor do curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS), Moisés Correia Dantas explica que esse tipo de transtorno é simétrico, de pequena amplitude – entre 6 e 12 Hz – e cessa quando os pacientes estão em repouso e totalmente relaxados. Além disso, é frequente a manifestação em mais de uma pessoa da família. “O chamado tremor de ação também surge antes dos 40 anos, resultado de uma penetração genética significativa. Por isso, se começa nesta faixa etária, a chance de uma parente direto desenvolver é em torno de 80%”, ressalta.
O neurologista lembra que um estilo de vida sedentário e alimentação inadequada influenciam no quadro, uma vez que a prática de atividades físicas, controle da dieta e saúde mental ajudam a minimizar os impactos. Assim como sono ruim e ansiedade, o uso de álcool, nicotina, cafeína e energéticos também pioram os sintomas.
Diferenças entre tremores
Existem doenças, neurológicas ou não, que provocam tremores. Em razão disso, o médico esclarece quadros que costumam ser confundidos. Ele pontua que, enquanto o tremor essencial é mais rápido e ativado quando o braço é sustentado contra a gravidade, o provocado pelo Parkinson é mais lento e assimétrico (prevalência muito mais de um lado do que do outro do corpo). Outra distinção é que, em casos de Parkinson, os tremores aparecem em momentos de repouso.
“Todo mundo treme, só que uns mais e outros menos. Essa condição é conhecida como tremor fisiológico, uma vez que apresenta curta duração e surge quando enfrentamos situações que envolvem nervosismo, estresse, falta de sono e até mesmo excesso de atividade física. Então, somente com o exame físico é possível analisar as características e detectar os tremores”, diz o docente.
Diagnóstico e tratamento
De acordo com Moisés Dantas, o diagnóstico depende de avaliações clínicas. Além da localização dos tremores, observa-se o histórico do paciente e seus familiares, se há uso de substâncias que agravam os sintomas, entre outros fatores. Sobre o tratamento, além das intervenções com medicamentos e voltadas para a melhora da qualidade de vida, em alguns casos é recomendada neurocirurgia para colocação do chamado “marcapasso do tremor”. A abordagem ainda pode incluir a aplicação de toxina botulínica.
“O tremor essencial não tem cura definitiva, mas nem todos os pacientes vão precisar de tratamento. Isso só será feito quando houver intervenções na capacidade de realizar tarefas cotidianas. Se tiver impactos, é indicado o uso de medicamentos como os betabloqueadores”, finaliza o professor da UNIFACS, cujo curso de Medicina é parte integrante da Inspirali.