Por Matheus Spiller
“Otaku” é um termo de origem japonesa usado para descrever pessoas que se interessam pela cultura pop do Japão. Dentro desse universo figuram, por exemplo, os animes, mangás, vídeo games, card games, romances gráficos e muito mais. É um conteúdo vasto, com estilos, temáticas e estéticas variadas, que angaria cada vez mais público ao redor do mundo.
Originalmente, chamar alguém de“otaku” tinha uma conotação negativa, sugerindo que a pessoa seria tão obcecada por seus hobbies a ponto de se isolar socialmente. Mas essa é uma questão a ser debatida – e a gente traz um pouco disso aqui neste material. Fora do Japão, especialmente no Ocidente, o termo “otaku” foi adotado com uma conotação positiva para identificar os entusiastas ou fãs dedicados desses gêneros.
Aqui em Salvador, claro, tem otaku, sim! Com suas características próprias de comportamento. E, para não ficar um papo de tiozão que não entende do riscado, nada melhor do que dar voz a quem está por dentro e tem propriedade para falar. Nós conversamos com o casal Jade Oliveira, 27, e Eric Delgoffe, 26, – ambos apaixonados pela cultura japonesa, sobre alguns aspectos desse universo vibrante, que vem lá do outro lado do mundo.
Confira!
Eric Delgoffe, otaku, 26 anos:
Matheus Spiller – O que é ser um otaku? Conta quais são as características de um otaku, o que faz com que você se identifique com essa cultura…
Eric Delgoffe – Ser otaku, eu acho até que é uma coisa meio imposta a você. Porque é basicamente um rótulo pra pessoas que gostam de cultura japonesa, gostam de uma forma da “nerdice” japonesa, digamos assim. O otaku é aquele que consome desde animações japonesas, como são os chamados animes ou até os quadrinhos japoneses que são chamados de mangá…a cultura em si…culinária, cinema, hábitos, acho que engloba muito mais do que as pessoas acreditam. Mas o termo otaku é um rótulo pra qualquer um que se identifica e que tem o interesse acima da média por essas coisas.
MS – Quando você começou a se interessar pelo “universo” otaku?
ED – Eu me interesso por essas coisas desde muito jovem. Desde criança mesmo. Eu sou um jovem que nasceu no final da década de noventa, então eu cresci assistindo muita coisa, muito anime, Pokémon, que todo mundo conhece, entre outras coisas, até os próprios Power Rangers, que são coisas mais ocidentais, mas são baseadas em cultura japonesa. Super Sentai… então, eu cresci consumindo muita coisa do Japão, sem nem mesmo entender que era de um lugar do outro lado do mundo, sabe? Até na TV Globinho que sempre passou, tipo Dragon Ball, depois Naruto, essas coisas. Então minha experiência foi muito televisiva, eu acho que de maior parte foi de consumir animações, mas tem também a questão dos jogos. Eu sempre gostei muito de videogame, joguei muita coisa relacionada à cultura japonesa, jogos de luta, personagem japoneses.
Agora eu sinto que, por exemplo, a parte de leitura, como mangá, foi uma coisa que eu adquiri muito mais tarde, pelo ensino médio, eu comecei a acompanhar mangás. Mas a porta de entrada pros próprios mangás foram as animações, os animes.
Teve coisas que eu consumi totalmente em forma de anime e eu fiquei tipo “nossa isso é muito interessante, eu quero continuar acompanhando…” eu fui pegando gosto por ler mangá, por conhecer novas histórias a partir do mangá, não só por animação. Posso até dizer que hoje em dia eu prefiro ler do que assistir. Mas a porta de entrada pra esse universo, com certeza, foram as animações a partir da minha infância.
MS – É um segmento que tem uma gama de interesses ampla. Tem os games, romances gráficos, anime, mangá, música e etc…o que te chamou mais atenção para hoje se considerar um otaku? Isso varia? Muda o alvo de interesse com o tempo?
ED – Eu sinto que meus interesses, meus gostos em relação ao que eu acompanhava, mudaram sim, ao passar do tempo. Eu fui envelhecendo e hoje tem coisas que eu me pergunto porque eu gostava tanto…Mas eu acho que também tem que se entender que todo material, especialmente audiovisual e leitura, sempre tem um público-alvo.
Então, tem coisas que é natural que como criança eu vá gostar muito e depois que eu envelheço fica um pouco infantil demais, ou se trata de um tema que não me interessa mais tanto.
Então, com certeza, o interesse muda, mas eu sinto que dá pra ter um carinho especial pelas coisas que a gente aproveitou na infância! Pokémon, Digimon, essas coisas que eu assisti muito quando eu era pequeno, hoje em dia eu sinto que não é algo que eu queira mais acompanhar. Mas eu tenho um carinho muito grande porque foi importante na minha infância, sabe? Era a minha companhia, digamos assim. Era meu momento de conforto. Eu sentava na frente da TV e assistia superanimado!
MS – Como é ser um otaku em Salvador especificamente? Tem uma comunidade grande? Vcs se reúnem, como é a convivência?
ED – Quanto a Salvador, eu acho que não é o melhor lugar pra ser um otaku. Pra consumir esse tipo de conteúdo. Ainda que o Brasil seja um país muito interessado na cultura japonesa…
Até porque, o Brasil é o lugar no mundo que tem mais japonês fora do Japão, né? A gente teve uma imigração muito forte especialmente na segunda guerra, de japoneses pro Brasil pra fugir da guerra então a gente tem uma comunidade muito grande especialmente no sudeste. Especialmente em São Paulo.
Mas Salvador não tem muito hábito, essa tradição. Então… tem eventos aqui, rola o Bon Odori, que é um evento de cultura japonesa, tem Anipólitan e outros eventos, mas eu sinto ainda que é um lugar fraco, sabe? Eu acho que você, em Salvador, você consome muito, você é otaku dentro de casa e com seus amigos e, enfim… nesse aspecto de eventos e lugares que proporcionam essa experiência eu acho que é muito escasso.
MS – E os estereótipos? Tem muita bobagem que as pessoas falam dos otakus por não conhecerem a cultura?
ED – Bom, os esteriótipos sempre existem, né? Eu acho que atribuem esse interesse a pessoas introvertidas, ou pessoas que não tem muito tato social, sabe? Pessoas que não conseguem se relacionar muito bem com outras pessoas, né? Esse tipo de estereótipo, de preconceito que leva a entender que pessoas otakus são estranhas, pessoas que não sabem se relacionar com as outras de diversas maneiras…o que é complicado como qualquer estereótipo, porque eu acho que inclusive, muitas vezes, consumir esse tipo de conteúdo te ensina coisas!
Você consegue absorver muito conteúdo dessas histórias, desses personagens. Eu sinto que, por exemplo, eu aprendi muita coisa com o eu acompanhei. Eu me tornei uma pessoa mais ideal pra mim mesmo, digamos assim. Então eu sinto que é um conceito equivocado dessas pessoas, mas estereótipos sempre vão existir e é isso aí…
MS – E para as pessoas que querem se inteirar mais sobre o assunto, deixa algumas dicas de material para ler, ouvir, séries sobre o tema…etc…
ED – Eu acho que se inteirar sobre esse assunto é uma coisa que não pode ser muito forçada. Eu sinto que se a pessoa se interessa por alguma coisa, eu acho que tem espaço pra se interessar por diversas desse universo.
Mas se existe uma resistência inicial, eu acho que é complicado a pessoa se inserir nisso. Existem várias diretrizes desse universo. Desde os animes, os mangás, jogos, os card games…eu trabalhei muito tempo com card game…Pokémon é muito é muito legal, a criança adora! Criança gosta muito de Pokémon!
Então eu acho que é um universo que dá pra entrar por diversas portas. Os pais também conseguem fazer parte da experiência dos filhos…
Meu conteúdo audiovisual e literário preferido é One Piece. Pra mim é uma coisa que me ajudou muito a passar por um momento muito difícil durante o meu ensino médio, foi meu conforto, minha estabilidade emocional era parar e acompanhar a história. Os personagens e tudo… eu sinto que salvou muito minha vida inclusive.
Mas eu sinto que tem todo um mundo, sabe? Tem conteúdo pra todo mundo. É achar e se divertir com isso, sabe? Se ver nos personagens, admirar os personagens, odiar personagens…(risos).
Eu eu gosto muito, eu me expresso de várias formas com isso. Eu tenho muitas tatuagens dos personagens que eu gosto, das histórias que eu gosto, eu coleciono itens das histórias…então eu sinto que dá pra você aproveitar esse universo de muitas formas, com jogos, com visual, com revistas, com mangás.
É uma coisa que já é muito parte da minha vida. Está literalmente na minha pele. E é isso cara, eu acho que é você não ter vergonha das coisas, ou sentir que deve explicação sobre as coisas que te fazem bem.
Tem muitas histórias incríveis que te tocam. Que mudam a sua forma de pensar e eu acho que é só celebrar isso da maneira que você puder e se sentir confortável. Eu acho que essa é a parada, sabe? De você, por você e da sua maneira. Porque na minha experiência mudou muito minha vida e minha cabeça.
Jade Rodrigues de Oliveira, otaku, 27 anos:
Matheus Spiller – O que mais te atrai nesse segmento? Quando você passou a curtir a cultura japonesa e porque você se identifica como otaku?
Jade Oliveira – Durante a infância minha mãe me incentivou porque eu era uma criança muito ligada a arte, eu desenhava, e mangás e anime tinha uma estética muito parecida com o que eu gostava de desenhar. E eu acho que foi assim que se iniciou o meu contato e o meu apreço pela cultura.
Questão de se identificar como ‘uma coisa’ é muito difícil, né? Porque te coloca numa caixinha…mas eu acho que porque eu gosto de mídia japonesa, conteúdos ligados a cultura japonesa em si. Eu gosto da estética.
MS – É muito diferente o universo otaku feminino? As mulheres, de modo geral, se interessam por um material específico dentro da cultura japonesa ou não tem muita diferença em relação ao que os homens curtem?
JO – Bom, tem a questão de que normalmente garotas, mulheres gostam de animes mais fofinhos, com a temática mais romântica. Geralmente tem isso…não é o meu caso. Agora tá uma moda assim, num hype, de animes que tratam de romances entre garotos, e muitas meninas tem gostado desse tipo de e material, mas eu não curto. Eu gosto de coisas mais que envolvem ação do que romantismo.
MS – As mulheres também sofrem com estereótipos relacionados à cultura otaku?
JO – Sim! Sim! Mulheres sofrem com estereótipo de qualquer forma, independente do que você se identifica ou não. Mas assim…rola uma fetichização da mina que curte coisas japonesas, porque geralmente o estilo delas é diferente, os lugares que elas frequentam são diferentes, elas acessam um mundo diferente na internet, tem contato com outras pessoas, um público mais nichado.
MS – O que você considera que a cultura japonesa agregou de positivo na sua vida depois que você passou a acompanhar com mais atenção?
JO – Bom… eu definitivamente aceitei meu lado esquisitona, o meu lado que gosta de coisas que nem todo mundo gosta. E é isso aí! Eu aprendi a ser mais segura com a minha personalidade um pouco mais diferente. E definitivamente trouxe um uma parte mais colorida pra minha vida assim, com toda estética japonesa!
MS – E para as pessoas que querem se inteirar mais sobre o assunto, deixa algumas dicas de material para ler, ouvir, séries sobre o tema…etc…
JO – Eu sou muito fã de Sailor Moon, mas Sailor Moon já está um pouco datado… virou algo nostálgico, pra quem curte…Mas eu amo! É maravilhoso! One Piece é maravilhoso…definitivamente um must to watch. E eu acho que Jujutsu Kaisen é um dos maiores animes da temporada e eu acho que todo mundo deveria assistir porque o plot é incrível, os personagens são muito cativantes e a qualidade da produção também é muito boa!
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