Procurador de Justiça Marcio Sergio Christino mostra no livro “Pós-verdade e Fake News” como sempre foram usadas táticas de manipulação
Por Cássia Reuter
Você já se perguntou como e por que as pessoas acreditam em fake news por mais absurdas que elas pareçam? A psicologia tem algumas respostas. A busca pelo viés de confirmação, o efeito de falso consenso, a exploração de lembranças seletivas e a dificuldade em avaliar a confiabilidade da fonte, são algumas das explicações psicológicas sobre como as informações falsas afetam a percepção e o comportamento das pessoas.
Segundo o Procurador de Justiça Marcio Sergio Christino, pesquisador no assunto, e autor de Pós-verdade e Fake News”, os princípios da psicologia cognitiva e social nos ajudam a entender como notícias falseadas influenciam crenças, atitudes e decisões.
Embora o termo “fake news” seja amplamente utilizado hoje e soe como algo novo, a propagação de informações falsas, deturpadas ou enganosas não é um fenômeno recente. Em Pós-verdade e Fake News” , lançamento da Matrix Editora, o procurador de Justiça Marcio Sergio Christino revela como a opinião pública foi manipulada ao longo da história em diferentes cenários com propósitos distintos.
Ao explorar como as técnicas de psicologia e comunicação foram empregadas para influenciar pontos de vista desde a antiguidade, o autor elucida o caminho percorrido pela humanidade até a atual “era da pós-verdade”. Para isso, resgata as estratégias desonestas adotadas por governos, líderes e movimentos políticos em prol de seus próprios interesses.
Christino discute o papel da propaganda na formação de opiniões e reflete sobre como ela direciona atenção a fatos e necessidades específicas. Ele rastreia seu uso pela Igreja Católica, responsável por cunhar o termo “propaganda” em meados de 1600. Além disso, destaca a influência de figuras proeminentes como Adolf Hitler e Joseph Goebbels no uso de conteúdo propagandista para manipular e controlar a comunicação massiva.
Referenciando a obra de Freud “Psicologia das Massas e a Análise do Eu”, o procurador analisa o impacto psicológico das fake news. Para ele, mais do que ampliar a desinformação, as falsas notícias podem resultar numa mudança de crenças, semelhante às conversões religiosas, e provocar mudanças no comportamento das pessoas, induzindo estresse e medo para moldar atitudes.
Munidos desse contexto histórico e cientes das estratégias desonestas, os leitores terão novas perspectivas sobre temas como o conflito Israel-Palestina, a invasão russa na Ucrânia, as tensões entre EUA e China e a explosão de movimentos ultradireitistas no mundo. O uso da internet e das redes sociais em um contexto de guerra de informações também são explorados, garantindo uma base sólida para maior desenvoltura em debates e conversas cotidianas. Nós conversamos com Márcio Sérgio Christino.
Cássia Reuter- Como Funciona a psicologia por trás das Fake News?
Márcio Sérgio Christino – As Fake News são informações falsas ou manipuladas cujo objetivo é sustentar uma pós-verdade. A grande questão é definir o que é verdade e o que é pós-verdade. Há muita discussão sobre o tema, cuja definição acabou sendo dada por Hannah Arendt no texto “Verdade e Política”. Verdade é o que acontece no mundo físico, a única coisa que qualquer pessoa pode ter em comum. Pós-verdade é simplesmente uma opinião, sua opinião, aquilo que está em seus pensamentos. Em que você vai acreditar?
CR- Porque as pessoas acreditam em Fake News?
MSC- Porque as Fake News são criadas ou para confirmar um viés que te agrada ou para confirmar um viés que te desagrada, ou os dois. Quando você recebe algo que confirma seus pensamentos, sua crença, sua tendência e aceitá-lo sem críticas, quando ao contrário confirmam seu desagrado com alguma coisa, sua tendência também é aceitá-lo. As pessoas acreditam simplesmente porque querem e assim deliberadamente deixam de procurar uma confirmação.
CR- É preguiça de procurar as fontes? Ou é maldade mesmo? Nem um e nem o outro, é a manipulação de suas emoções.
MSC- Nem um e nem o outro, é a manipulação de suas emoções.
CR- Porque sempre desmentida a Fake News, ela ainda se torna real e crível?
MSC- Pelo mesmo motivo, não importa se foi desmentida ou não, o indivíduo quer acreditar nela, precisa acreditar nela e quando encontra algum obstáculo simplesmente o rejeita, para confirmar seus próprios pensamentos. Caso contrário traria um sofrimento emocional muito grande.
CR- As influências políticas e de religião induzem ao erro de praticar a Fake News?
MSC- As influências políticas e religiosas influem diretamente os valores morais do indivíduo e formam muito do que ele acha certo ou errado. É a partir destes conceitos, de certo ou errado, que a manipulação se dá.
CR– Em seu novo livro o que você traz de verdade sobre este assunto sombrio?
MSC- O livro mostra primeiro antecedentes históricos, depois o mecanismo de manipulação emocional usado em larga escala e depois a proposta de reconhecer este tipo de manipulação através de dois exemplos: o Brexit e a eleição de Trump/2016.
CR– Temos como comprovar às Fake News?
MSC– As fake news são constatadas na medida em que as definimos como um instrumento de confirmação de uma pós-verdade. A constatação deriva da simples observação. Mas a grande pergunta não foi feita, independentemente de existir uma tecnologia de testes psicológicos que revelam suas tendências emocionais predominantes, como poderiam aplicá-lo em massa a ponto de interferir ou manipular o resultado de uma eleição? Seria preciso examinar milhões de pessoas. Como isto foi feito? A empresa que criou a tecnologia, a Cambridge Analytica conseguiu acesso ao ambiente interno do Facebook e acesso a todos os usuários do mundo. Usando palavras chave e algoritmos, estabeleceu a tendência de cada um através de um software e daí em diante foi apenas uma questão de marketing. Resultado: Brexit e Trump.
O AUTOR
Marcio Sergio Christino é procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo. Foi membro do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gecep), participou da criação do SEC – Setor de Estatísticas Criminais, órgão de inteligência das Promotorias Criminais da Capital (SP), que dirigiu, foi membro do SAI – Serviço de Análise e Informação das Promotorias Criminais da Capital (SP). Formado em Procedimentos Básicos de Inteligência pela Agência Brasileira de Inteligência – ABIN e secretário executivo da 3ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital (SP).
É professor de Direito Penal, Direito Processual Penal e Prática Jurídica Penal da UNIP – Universidade Paulista. Cursou extensão em Ciência Política na FESP – Fundação Escola de Sociologia e Política. Foi um dos coordenadores do curso “História da Democracia no Brasil” da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo. É, ainda, autor dos livros “Por dentro do crime”, sobre o crime organizado, e “Laços de sangue”, em que explora a história e atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital), publicado pela Matrix Editora.
O LIVRO – “Pós-verdade e Fake News” não apenas resgata a história da propagação de informações distorcidas ao longo do tempo, mas também oferece um olhar crítico sobre como tais práticas impactam as relações geopolíticas atuais. Ao revelar os métodos utilizados para falsear a realidade, o autor Marcio Sergio Christino convida à reflexão e aponta para a necessidade de trazer à tona a verdade por trás da pós-verdade.
Serviço:
Livro: Pós-verdade e Fake News – Como técnicas de psicologia e de comunicação são usadas para manipular o mundo
Autoria: Marcio Sergio Christino
Editora: Matrix Editora
ISBN: 978-65-5616-402-1
Páginas: 312
Preço: R$78
Onde encontrar: Matrix Editora, Amazon