“Câncer com Ascendente em Virgem” promete inspirar o público com a história de Clara, interpretada por Suzana Pires , uma professora que, após receber o diagnóstico de câncer de mama, começa a ver sua vida e suas relações sob uma nova perspectiva. O longa-metragem dirigido por Rosane Svartman mistura comédia e drama, oferecendo uma reflexão sincera sobre o tema para toda a família. A longa destaca a importância da sororidade e de uma rede de afeto em todos os momentos da vida. O filme estreia nos cinemas no dia 27 de março , no mês da mulher.
“É um filme que celebra a vida. Clara é uma personagem que aprende muitas coisas sobre si mesma, sobre ser mãe, filha, mulher, ela aprofunda seus relacionamentos e passa a enxergar a vida com uma lente diferente. Ela descobre que tem a coragem de mudar de rota e aceita suas fragilidades, descobrindo assim sua força” , reflete a diretora Rosane Svartman.
O longa-metragem é baseado na história da produtora Clélia Bessa , que durante o tratamento que a cura de um câncer de mama em 2008, lançou o divertido blog “Estou com Câncer, e Daí?”, agora disponível no livro com o mesmo nome (Editora Cobogó). O roteiro do filme é assinado por Suzana Pires, em parceria com Martha Mendonça e Pedro Reinato, e conta com a colaboração de Ana Michelle, Rosane Svartman e Elisa Bessa, filha de Clélia.
“Acredito que a comédia e a leveza têm um alcance maior, abrindo caminhos que, de outra forma, permaneceram fechados. Desde o começo, optamos por seguir esse tom e fazer do filme uma ‘dramédia'” , afirma Clélia Bessa.
Em “Câncer com Ascendente em Virgem”, o público vai acompanhar o cotidiano real de Clara, longe do glamour e da perfeição inalcançável. Assim como tantas outras mulheres, ela concilia o trabalho – como professora de matemática e influenciadora educacional –, com a vida familiar, as amizades e as relações amorosas do presente e do passado.
“A mensagem do filme é: viva a vida com toda a sua potência, sua coragem e suas afeições. O público pode ir ao cinema esperando risadas, lágrimas e emoções, porque o filme entrega tudo isso de maneira leve. É um filme para sair do cinema com vontade de viver! No filme, optamos por mostrar a sororidade entre as mulheres de uma maneira menos romântica e mais prática. Elas se apoiam com firmeza, sem cair no melodrama” , destaca Suzana Pires, que também comenta sobre o trabalho com Marieta Severo . “Me apaixonei por ela na primeira leitura, quando me olhei nos olhos e, a partir dali, nossa conexão só cresceu. Nos tornamos uma família de maneira tranquila e fluida” .
Durante sua jornada de cura e autodescoberta, Clara aproxima-se da mãe, Leda (Marieta) , e da filha, Alice (Nathália Costa) . Leda é uma mulher mística e divertida, apaixonada pelo samba. Embora Clara seja pragmática e objetiva, Leda representa o lado mais intuitivo da família. Apesar das diferenças, elas enfrentam juntas as adversidades. “O jeito da Leda estar no roteiro é muito peculiar e engraçado. Ela é bastante mística. Eu me identifico com ela pelo lado da positividade. Quando eu tenho que enfrentar alguma situação difícil, eu sei que o meu olhar é sempre muito positivo, com uma energia externa para superar aquilo. Eu gostei da função dela dentro do roteiro e da maneira na qual a Rosane apoia” , revela Marieta.
No filme, Nathália Costa interpreta Alice, uma adolescente criativa e independente, filha de Clara e neta de Leda. Ela tem aulas de matemática com a mãe na escola e dá forças para Clara em todos os momentos do tratamento, amadurecendo ao longo dessa jornada. A personagem foi inspirada em Elisa Bessa, filha de Clélia, que acompanhou as cenas no set. As três gerações de mulheres passam a compartilhar suas vulnerabilidades e desafios mutuamente, numa troca profunda e verdadeira.
A formação de uma rede de apoio é um dos pontos centrais do longa, que coloca em evidência o protagonismo feminino e a irmandade entre amigas de longa data e novas parcerias. Clara conta com o apoio de Paula (Carla Cristina Cardoso) , amiga antiga que reforça a alegria e o amor pela vida, e de Dircinha (Fabiana Karla), com quem divida os momentos de quimioterapia. Eles mostram a importância de levar as situações da vida com positividade e bom humor.
Clara também desempenha o papel de mãe solo, lidando com as inconsistências do ex-marido Renato (Ângelo Paes Leme) , personagem que traz rompimento cômico à trama. Ele atravessa um dilema interno sobre juventude e amadurecimento. Ao mesmo tempo, diante do diagnóstico de Clara, ele procura se tornar um pai mais presente para a filha, Alice. A autoconfiança de Clara é abalada quando ela conhece Ju (Julia Konrad ), a namorada bem mais jovem de Renato. perfeita, Ju surpreende Clara ao colocar à prova os padrões de beleza aparentemente e mostrar seu lado vulnerável.
O elenco também conta com Maria Gal, Mariana Costa, Yuri Marçal, Heitor Martinez, Gabriel Palhares e Pedro Caetano . O longa é uma produção da Raccord Produções com coprodução da Globo Filmes e RioFilme, e distribuição da Downtown Filmes. O filme é patrocinado pelo Magazine Luiza e pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Oncoclínicas, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, parcerias com o Instituto Dona de Si, Femama, Oncoguia e investimento FSA/BRDE/Ancine.
Sinopse:
Clara é professora de matemática e faz o maior sucesso como influenciadora educacional em seu canal na internet. Bem humorada, sarcástica e às vezes debochada, ela gosta de manter tudo sob controle, mas vai precisar aprender a lidar com a vulnerabilidade e o imprevisível quando descobre que tem câncer de mama. Com coragem e resiliência, ela enfrenta dias ruines e outros melhores ao lado da filha adolescente, da mãe e de amigas leais. Em sua jornada de cura e autodescobrimento, Clara tem a chance de celebrar a vida e de transformar seus relacionamentos, encarando sua própria humanidade. Baseado em uma história real.
Elenco:
Clara – Suzana Pires
Leda – Marieta Severo
Alice – Nathália Costa
Dircinha – Fabiana Karla
Paula – Carla Cristina Cardoso
Renato – Ângelo Paes Leme
Ju – Julia Konrad
Dra. Carolina – Maria Gal
Dra. Mayra – Mariana Costa
Youtuber famoso – Yuri Marçal
Marcos – Heitor Martinez
Bruno – Gabriel Palhares
Guilherme – Pedro Caetano
Caê – Rafael Tannuri
Andressa – Ariane Souza
Sofia – Giovana Lima
Zé do Cavaquinho – Lucca Fortuna
Dr. Mauro – Carlos Rosário
Dra. Diana – Aline Menezes
Enfermeiro Damião – Márcio Fonseca
João – Gabhi
Repórter – Rodrigo Átila
Vendedora – Cibele Santa Cruz
Ana Maria – Kika Farias
Jussara – Prazeres Barbosa
Valdete – Claudia Barbot
Giovana – Giovanna de Toni
Ficha Técnica:
Direção: Rosane Svartman
Produção: Clélia Bessa
Roteiro: Suzana Pires, Martha Mendonça e Pedro Reinato
Colaboração no Roteiro: Ana Michelle, Rosane Svartman e Elisa Bessa
Direção de Fotografia: Dudu Miranda
Produção Executiva: Bárbara Isabella Rocha
Direção de Arte: Fabiana Egrejas
Cibele Santa Cruz e Junior Prado
Figurino: Márcia Tacsir
Maquiagem: Mari Figueiredo
Som Direto: Valéria Ferro
Edição de som: Maria Muricy, ABC
Mixagem: Armando Torres Jr.
Montagem: Natara Ney
Trilha Sonora: Flavia Tygel
Ainda: Mariana Vianna
Maquinista Chefe: Alessandro Corino
Chefe: Allan Paulo
Produção: Raccord Produções
Coprodução: Globo Filmes e RioFilme
Distribuição: Downtown Filmes
Duração: 100 min

Clélia Bessa, Marieta Severo, Rosane Svartman, Elisa Bessa, Suzana Pires e Nathália Costa nos bastidores de “Câncer com Ascendente em Virgem”. (Crédito: Mariana Vianna)
CLÉLIA BESSA | PRODUTORA

1) Câncer com Ascendente em Virgem” foi inspirado no seu blog “Estou com câncer, e daí?”, escrito em 2008, a partir de suas experiências cotidianas após a descoberta do câncer. Quando você descobre que os textos poderiam virar um filme? Como foi o processo para tirar a ideia do papel?
Sou produtora de cinema e os produtores estão sempre em busca de boas histórias. Achei que essa, por coincidência a minha própria, poderia render um filme. Quando escrevi o blog, senti uma receptividade muito grande dos leitores e uma via de mão dupla, ou seja, eu estava falando com pessoas que interagiam com o assunto. Então, percebi que todos os pensamentos contavam essa história de forma mais abrangente, e assim aconteceu. No cinema, para tirar uma ideia do papel, sempre precisamos de parcerias. Acho que minha parceria com a Rosane vem muito daí. Quando temos uma boa história e uma se empolga mais do que a outra, estamos sempre dispostos a realizar aquele projeto. Então, chamamos Suzana Pires para escrever o roteiro e, a partir dele, seguimos para a captura. Também tivemos a adesão de Bruno Wainer, da Downtown Filmes, logo no primeiro momento, pois ele achou que a história seria ótima. Esse tripé de produção, direção, roteiro e distribuição é como o audiovisual funciona: você tem uma ideia, alguém a dirige, alguém a produz e alguém a faz chegar ao público final. Acho que temos um projeto redondinho.
2) Como foi acompanhar as filmagens de uma história baseada na sua vida pessoal?
Foi estranho em alguns momentos, mas como eu já estava presente como produtor, tinha muitas questões para me preocupar. Então, tudo já foi um produtora em ação, o que me permitiu um certo distanciamento, mas confesso que “reviver” algumas situações foi muito emocionante. Eu estava revivendo algumas experiências que tinham sido muito duras para mim mas, ao mesmo tempo, senti um colapso por estar olhando para algo que já tinha ficado para trás. Ali, eu já fui como telespectadora da situação, o que é bem diferente. De certa forma, senti um certo problema por aquilo estar no passado remoto e fiquei muito aliviado por poder levar essa história para a tela, sabendo que essa situação poderia ajudar outras pessoas. Acho que isso foi mais forte do que qualquer “medinho” ou qualquer outra situação constrangedora.
3) Você voltou a trabalhar com Rosane Svartman após uma série de colaborações no audiovisual, que atravessa décadas. Como é a dinâmica de trabalho de vocês?
Minha parceria com a Rosane nunca deixou de existir. Às vezes, deixamos de filmar, porque o processo de um filme demora mais e ganha principalmente com longas metragens, mas nossa dinâmica de trabalho é uma dinâmica da vida. Rosane é uma parceira de vida. Nossa relação envolve respeito, confiança e amizade entrelaçada. Além de ser uma excelente profissional, tenho uma espécie de tê-la como amiga. É muita confiança e uma dinâmica muito voltada para a realização. Acho que isso é essencial em uma colaboração que já dura cerca de 30 anos. Rosane é uma das melhores profissionais com quem já trabalhoui, e tenho o prazer de chamá-la de amiga e comadre, é madrinha da minha única filha
4) Um dos diferenciais do filme é a trilha sonora, que conta com a interpretação de “Fullgás” de Mart’nália e de “Tudo Vai Passar” de Preta Gil, esta última desenvolvida especialmente para a produção. Como foi o processo de escolha das músicas e das intérpretes e como elas impactaram o filme?
A trilha sonora passou muito pela escolha de Flávia Tygel, uma profissional maravilhosa e experiente, que tem um papel fundamental no cinema brasileiro. A escolha dela se deu pelo fato de estar na mesma sintonia que a gente. Além de ser um excelente profissional, já criou trilhas lindas para o cinema brasileiro, e o mérito é todo dela. Flávia nos deu vários caminhos, essas duas músicas se destacaram. “Fullgás” é a trilha sonora da minha geração, uma música da minha vida. Quem nunca se esbaldou com Marina Lima numa pista de dança? Já “Tudo Vai Passar” é uma composição da própria Flávia, interpretada por Preta Gil, uma artista que pode cantar com muita propriedade sobre o que está falando. Nossa escolha foi muito pessoal, feita por nós três, mas de uma forma bem intuitiva e afetiva. Esperamos que essa pérola grude como chiclete no público! A Raccord tem uma tradição em apostar na trilha sonora de seus filmes, “Solteiro no Rio de Janeiro” até hoje toca nas pistas de dança, quase 30 anos depois.
5) “Câncer com Ascendente em Virgem” mantém a forma leve e divertida de tratar as situações colocadas por você no blog. De que forma você encontrou esse tom para escrever, na época, e como você acredita que ele está presente no filme?
Quando fui chamado, procurei desesperadamente uma literatura que expressasse esse sentimento, mas não encontrei nada que me trouxesse o rompimento. Eu sabia que havia recebido um diagnóstico precoce, ou seja, 99% de chance de cura, então decidi compartilhar minha jornada e esse turbilhão de emoções com outras pessoas. Sempre gostei de escrever, sou uma pessoa de relativo bom humor e, na época, os blogs estavam em alta, então ele se tornou um companheiro importante nesse processo.
O blog tinha essa característica de tratar assuntos difíceis de forma leve, porque acreditamos que essa é uma maneira de alcançar o maior número de pessoas. Como eu tinha a certeza da cura, poderia “brincar” com o assunto, e isso tom ajudaria a transformar a experiência. Acredito que a comédia e a leveza têm um alcance maior, abrindo caminhos que, de outra forma, poderiam permanecer fechados. Desde o começo, optamos por seguir esse tom e fazer do filme uma “dramédia”, até porque existe muito pouco conteúdo desse tipo no Brasil. Não vemos muitas “dramédias” abordando esses temas no cinema brasileiro.
6) Esta é uma das poucas produções que fala sobre câncer de mama e, ainda, com bom humor. De que forma você acredita que o filme pode mobilizar a sociedade para o tema?
Acredito que um filme que fala sobre o câncer de mama, que atinge cerca de 78 mil mulheres por ano no Brasil, já possui um tema relevante por si só. Somos muitos gastos anuais e grande parte da população já passou esse assunto, na família, entre amigos, parentes ou parceiros. Quem não tem mãe, tia, amiga, comadre ou mãe de amiga que já tenha vivido isso? Já temos uma aderência natural.
O que queríamos era trazer esse tema para a sala de jantar, para os bares, para que as pessoas conversassem sobre ele sem medo. Acredito que boa parte do estigma do câncer vem da falta de conhecimento sobre o fato de que ele pode ser curável, especialmente quando diagnosticado precocemente. E o humor é uma ferramenta poderosa para alcançar as pessoas e ampliar essa conversa, tornando o tema mais acessível e presente no dia a dia.
7) Entre os temas que aparecem no filme, estão a amizade entre mulheres, relacionamentos amorosos, sexualidade e relações familiares. De que forma você acredita que o público geral vai se identificar?
Quando falamos em câncer de mama, lembramos imediatamente da mulher e da sexualidade, porque é uma doença visível, que se manifesta fisicamente e impacta profundamente a autoestima. Isso não é só com a mulher, mas também com a família, como amizades e os relacionamentos. São temas mobilizadores, que nos tocam e estão na pauta do dia, tanto do ponto de vista psicanalítico, quanto social.
Acreditamos que o público em geral vai se identificar porque, de alguma forma, todos já passaram ou conheceram alguém que passou por uma situação semelhante. Família, amizade e sexualidade nunca saem de moda e, como já disse alguém: “só o amor construiu”.
ROSANE SVARTMAN | DIRETORA

1) “Câncer Com Ascendente em Virgem” é baseado na jornada de cura de sua grande parceira, a produtora Clélia Bessa. Como foi filmar essa história que você acompanhou de perto? Como você conseguiu encontrar o tom dessa “dramédia”?
Em alguns momentos foi preciso ter o distanciamento necessário para pensar a melhor forma de contar essa história, sem me apegar às lembranças da época, para uma placa que não tinha uma relação pessoal com a Clélia. Sempre buscando engajamento em um filme que tem a vocação de dialogar com um público mais amplo sobre temas importantes. Eu queria que as pessoas se identificassem como eu me identifico com essa jornada. Em outros momentos, eu deixei a emoção fluir mesmo, acreditando que a semente original da trama, que vem da inspiração da vida real e o afeto pela Clélia, era importante e daria o tom para o filme. Minha estratégia como diretora foi me apoiar na mistura dessas duas abordagens: o distanciamento para decupar certas cenas e emoção.
2) Você e Clélia Bessa trabalham em juntas desde 1995 e já atuaram à frente de diversos projetos em conjunto. Como foi a dinâmica de vocês no set para este filme?
A Clélia estava no set, acompanhando a filmagem. O roteiro do filme não é exatamente a história dela, mas a trajetória da personagem é inspirada na jornada de Clélia, que envolve sua família, amigos e toda a rede de afeto em torno dela. Então eu costumava dirigir a cena e depois trocar palavras ou às vezes apenas um olhar de cumplicidade com ela para ver se a emoção do momento estava acontecendo, muitas vezes misturando lágrimas e risos, como na vida real. Elisa, filha de Clélia, participou do filme também fazendo o making of da personagem de Alice também é inspirada nela. Então ver Elisa reagir a uma cena também foi um balizador para mim.
3) O filme apresenta maneiras contemporâneas de enxergar temas frequentes na vida das mulheres, como a relação com o próprio corpo, relacionamentos amorosos, sororidade, amizade e relações familiares. De que forma o público pode se identificar com essas situações?
O filme não é sobre uma doença, pelo contrário, é um filme que celebra a vida. Clara é uma personagem que aprende muitas coisas sobre si mesma, sobre ser mãe, filha, mulher. Ela aprofunda seus relacionamentos e passa a enxergar a vida com uma lente diferente para encarar de frente a possibilidade de morrer. Ela descobre que tem coragem de mudar de rota e aceitar suas fragilidades, descobrindo assim sua força.
4) Na sua opinião, qual a importância de “Câncer com Ascendente em Virgem” para a conscientização e aumento de informação sobre o câncer de mama? Como o filme pode impactar a sociedade?
Um dos objetivos do filme é falar de temas importantes através do entretenimento. Mais do que um filme sobre a doença, essa história celebra a vida, as redes de afeto, iluminando a jornada de uma mulher com câncer de mamãe.
5) O filme pretende se comunicar com as dores, alegrias, medos e sentimentos mais profundos das mulheres. De que forma você acredita que sua visão feminina contribuiu para que o projeto pudesse alcançar esse objetivo?
O set era muito feminino e muitas vezes eu olhei em volta e via outras mulheres reagindo junto comigo depois de uma cena. Eu me senti Clara, a personagem, em diversos momentos. Por outro lado, acho que uma história de superação, contada de uma forma humana, com lágrimas, gargalhadas, erros e acertos da personagem, conversa não apenas com um público feminino.
6) Como foi trabalhar com Marieta Severo, Nathália Costa e Suzana Pires no set?
Marieta desde o primeiro dia se mostrou muito aberta a conversar sobre as cenas, ouvir sugestões. É uma atriz que vem muito preparada para o set de filmagem, mas que tem escuta. Ela me disse no primeiro dia “pode me dirigir, viu?”. Não faz sentido que eu não precise ficar cheio de dedos diante de toda a experiência que ela tem. E isso foi muito sensível e generoso da parte dela. Entrar num set para dirigir uma atriz que admira tanto e há tanto tempo, foi sensacional.
Eu comecei a chamar Nathália de pequena gigante no set, foi um apelido carinhoso para essa atriz admirável. É que ela é extremamente jovem, mas ao mesmo tempo tem um entendimento da narrativa impressionante. Apesar disso, ela traz um frescor sempre que entra em cena.
Suzana Pires para mim foi um acontecimento. A entrega dela ao personagem e a forma como mergulhava em cada cena me deixava extremamente emocionada como diretora. Além disso, ela é divertida, tem escuta, confiança no processo e é talentosa até o último fio de cabelo. O trabalho com Suzana certamente mudou a forma como dirijo intérpretes.
7) Uma das cenas mais impactantes é quando Clara, personagem de Suzana Pires, raspa o cabelo com a ajuda da mãe Leda (Marieta Severo) e da filha Alice (Nathália Costa). Como foi a preparação para essa cena? E o momento da filmagem?
Clélia, com toda razão, não esperava que deveria ser uma cena dramática. Ela disse que tinha que ter risadas também, como na vida, como foi com ela. E o mais difícil foi realmente o equilíbrio entre a emoção do momento e esse lado mais leve. A personagem de Marieta buscava justamente a leveza, fazia piadas, o de Nathália tentava esconder o sofrimento de ver a mãe perder os cabelos e a Clara, de Suzana Pires, tentava ser forte por causa da filha, mas não estava conseguindo. E o arco da cena pedia que elas terminassem unidas, cúmplices, aliviadas e sorridentes. Filmamos com uma única câmera e então foi um desafio de decupagem manter a continuidade do cabelo e o arco emocional da cena. A presença de uma das roteiristas no set nesse dia, Martha Mendonça, ajudou muito. Ela trouxe piadas que eu conversei no ouvido de Marieta antes de um take para que o riso de Suzana e Nathália fosse realmente espontâneo, por exemplo. Eu estava muito técnico, mas buscava sentir a temperatura do set. Quando vi Clélia, Elisa e tantas outras pessoas ali rindo e chorando, como na cena, eu percebi que tinha dado certo.
SUZANA PIRES | ATRIZ (Clara) E ROTEIRISTA

1) Além de estrelar o filme, você assina o roteiro. Como foi escrever essa história e como você equilibrou drama e humor?
O humor do texto veio do próprio blog da Clélia. O olhar dela para todo o ciclo da doença sempre foi muito bem-humorado, mesmo nos momentos trágicos. Além disso, eu estava passando pela quimioterapia do meu pai, que, assim como a Clélia, tem um olhar bem-humorado para a vida. Muitas situações, piadas e a gangorra entre drama e humor vieram dos dois. Sou uma pessoa muito sortuda por ter um pai assim e por ter sido chamada por uma mulher incrível como a Clélia para essa linda empreitada.
2) Como foi a sua preparação para viver Clara? Como você encontrou o Tom para o personagem?
Eu não sei exatamente como encontrei o tom (risos). Sou uma atriz 60% intuitiva e presente e 40% técnica. Essa mistura foi acontecendo ao longo das leituras e ensaios na preparação com a Rosane. Fomos calibrando a Clara juntas, e eu confio na Ro (Rosane Svartman) mais de 100%. Então, literalmente, me coloco nas mãos dela, e chegamos a um ponto de cumplicidade em que eu já sabia o que ela ia dizer só de olhar para ela. Isso é algo da profissão que eu amo: desenvolver parcerias. E respondi como Clara, uma boa professora de matemática! (risos)
3) O tema do bem estar feminino é muito caro para você, sendo frequente em outros trabalhos e no Instituto Dona de Si, do qual você é um criadora. De que maneira a sua ligação prévia com temas relacionados ao universo feminino contribuiu para viver a personagem?
Contribui totalmente. Acho que meu trabalho, como um todo, tem esse olhar de cuidado com o feminino. Cuidado com a realidade… com as emoções… Clara é uma mulher comum, que deseja manter uma vida organizada, como todos nós. E essa mulher eu tenho dentro de mim. Algo que aprendemos no Instituto é que, independentemente da classe social, etnia ou país, nossas dores são as mesmas. O que difere são as oportunidades de resolver essas dores. E é exatamente esse o cuidado do meu trabalho com as mulheres no meu Instituto, por exemplo: perseguir a possibilidade de que todas as mulheres tenham recursos para viver bem.
4) Assim como muitas mulheres, Clara precisa administrar a vida familiar com o trabalho e os cuidados com a saúde. Na sua opinião, de que maneira o público pode se identificar e se considerar na história de Clara?
A primeira identificação, acho, é na maneira como ela lida com a saúde. Clara se esquece de ver o resultado dos exames e recebe o contato insistente de seu ginecologista. Acredito que isso acontece com muitos de nós, que precisamos trabalhar, criar filhos, cuidar da casa e da família inteira. Quando chega a hora de cuidar da saúde, vamos sair para depois. Esse filme me ensinou que a saúde é o mais importante, a verdadeira prioridade.
5) O filme explora o desenvolvimento da relação de Clara com a mãe Leda (Marieta Severo) e com a filha Alice (Nathália Costa). Como foi trabalhar com Marieta e Nathália? Tem alguma curiosidade dos bastidores para compartilhar?
A Nathalia chegou através de um teste e, quando assistimos, não houve dúvida de que seria ela. Uma atriz incrível, tão jovem e tão dedicada ao trabalho! Adorei a experiência com a Nathalia. É Marieta? Trabalhar com ela era um sonho meu. Sempre observei seus passos e escolhas, porque Marieta é produtora, atriz, cidade que se coloca, uma mulher grande, de grandiosidade mesmo. Isso eu admirei de longe e fiquei feliz demais ao ver de perto que ela é verdade pura. Ela é talento, trabalho, pessoa real. Me apaixonei por ela na primeira leitura, quando me olhei nos olhos, e, a partir dali, nossa conexão só cresceu. Nos tornamos uma família de maneira tranquila e fluida.
6) O tema da rede de apoio entre mulheres é um dos fios condutores do filme. Quando Clara descobre o câncer, ela se aproxima da amiga Paula (Carla Cristina Cardoso) e faz novas amizades, como a Dircinha (Fabiana Karla). Qual a importância do tema sororidade no filme e como foi trabalhar com ambos?
Eu já havia trabalhado tanto com a Carla quanto com a Fabiana antes. Com a Carla, fiz “Regra do Jogo”. Nós éramos do mesmo núcleo. Com a Fabiana, trabalhei em “Gabriela”, e nos conhecemos há muitos anos. Admiro demais as duas, tanto como atrizes quanto como mulheres no mundo. Elas fazem muita diferença e inspiram demais!
No filme, optamos por mostrar a sororidade de uma maneira menos romântica e mais prática. Elas se apoiam com firmeza, sem cair no melodrama. É tem a personagem de Júlia Konrad, a atual esposa do ex-marido de Clara, que construímos com um contorno mais humano e menos maniqueísta. Elas têm uma cena linda em que lidam com suas vulnerabilidades de maneira muito honesta. Gosto muito de como abordamos a sororidade.
7) Um dos momentos mais marcantes do filme é quando você raspa o cabelo com a ajuda de Marieta Severo e Nathália Costa. Como foi a preparação para essa cena? O que se passa pela sua cabeça no momento?
Foi um processo único porque ainda começou no roteiro. Quando escrevemos a cena, a Marthinha (Martha Mendonça, roteirista) me perguntou: “Você tá lembrando que é você a mesma que vai fazer a cena, né? Você vai raspar a cabeça?” Foi engraçado porque eu realmente não tinha pensado nisso, estava focado no roteiro. Naquele momento, decidi: sim, vou raspar minha cabeça . Isso foi em 2020. Então, cinco anos para, literalmente, fazer a minha cabeça. No momento da cena, eu estava mais do que qualificado. E te confesso que ficar careca me trouxe uma perspectiva de recomeço na minha vida real. Tem sido incrível essa experiência de redescobrir minha feminilidade, que se tornou ainda mais forte sem o acessório do cabelo comprido.
Outra curiosidade foi que eu tinha prótese de silicone nos seios há 15 anos e, duas semanas antes de começar a filmar, meu seio esquerdo começou a fazer. Fui ao médico, fiz exames (a Rosane foi comigo!) e descobri que a prótese estava encapsulada e que havia uma massa que precisava ser retirada. Ou seja, fiz o filme inteiro com o peito doendo! Que coisa mais maluca o timing disso! Sete dias depois de finalizar as filmagens, passei pela cirurgia para remover as próteses e a massa. Fiz uma biópsia e, felizmente, estava tudo bem, a massa era benigna. Acho que meu corpo falou: “vamos ajudar-la nesse filme e dar esse problema durante a filmagem!” (risos). Foi uma angústia pessoal a mais para colocar em cena.
O que aconteceu depois disso, na minha vida real, foi um novo corpo: sem cabelo e sem peito. Voltei a malhar e, hoje, tenho um corpo diferente, não apenas esteticamente, mas também mais saudável. Consegui parar de fumar e me alimentar melhor. Esse filme me trouxe mais consciência sobre a saúde.
8) Ao longo da jornada de Clara, o filme fala sobre afetos, relacionamentos, inseguranças e alegrias. Para você, que mensagem o filme busca passar? E o que o público pode esperar?
A mensagem do filme é muito clara: viva a vida com toda a sua potência, sua coragem e seus afetos. O público pode ir ao cinema esperando risos, lágrimas e emoções, porque o filme entrega tudo isso de maneira leve. É um filme para sair do cinema com vontade de viver! E o que resume o filme é dito pela personagem de Fabiana (Karla): “O contrário de morte não é vida. O contrário de morte é nascimento. Vida é o que tem no meio.”
MARIETA SEVERO | ATRIZ (Leda)

1) Como foi o convite para interpretar Leda, mãe de Clara (Suzana Pires) e como você reagiu?
Quem me chamou a atenção foi a Clélia, a mulher calorosa que superou uma situação muito complicada e teve a coragem de produzir essa história. Eu aceitei o convite por causa da história e por causa da Clélia, por quem já tinha uma admiração. A maneira como a personagem Clara lida com essa questão assustadora para qualquer mulher é tão bacana e exemplar, que eu imediatamente quis fazer.
2) Como foi o seu primeiro contato com a história? Qual sentimento você teve quando leu o roteiro pela primeira vez?
Quando a Clélia me falou sobre o filme, fiquei pensando “como colocar no cinema uma história dessa?”. Depois que li o roteiro, fiquei surpreso com a maneira como o assunto do câncer de mama foi colocado para o público com leveza, humor e positividade. Também gostei muito da função da minha personagem, que é ser mãe e acompanhar essa filha que está passando por essa situação dramática e amedrontadora. A forma como Leda foi colocada no roteiro me encantou muito, pois ela traz leveza e humor ao ajudar a filha, o que é muito peculiar.
3) Leda é uma mulher bem humorada. Como você pode descrever seu personagem? O que você tem em comum com ela?
O jeito dela de estar no roteiro é muito peculiar e engraçado. Ela é bastante mística. Eu me identifico com ela pelo lado da positividade. Quando eu tenho que enfrentar alguma situação difícil, eu sei que o meu olhar é sempre muito positivo, com uma energia externa para superar aquilo. Eu gostei da função dela dentro do roteiro e da maneira na qual a Rosane contribuiu.
4) A sua personagem traz leveza para o filme, mesmo tratando sobre câncer de mama. Como foi construir esse personagem com tanta leveza sabendo que era um assunto sério?
Ser esse toque de leveza é uma responsabilidade. O humor relativiza muito as coisas, te dá outros lados de uma situação. Eu me perguntei “será que você dará conta? Será que você entrará de uma maneira ‘torta’ nessa história?”. Mas o roteiro é muito bem construído e senti uma firmeza muito grande na Rosane em dirigir a gente. Me senti muito livre e confortável com o lugar do personagem dentro do que estava acontecendo ali.
5) Qual a sua relação com o tema câncer de mama?
Eu vivi uma situação semelhante à do meu personagem. Eu acompanhei e dei força para uma filha que passou por um câncer de mamãe. Eu tive essa vivência. Em algumas cenas do filme eu sei que cheguei num lugar que já era meu. A ficção liberta, a arte tem esse poder fascinante de recolocar as coisas dentro de você, de salvar. Pouco tempo depois da minha filha ter passado o que ela passou, eu tive um câncer de útero. Então acho muito importante poder falar sobre isso porque, para a minha geração, o câncer era muito estigmatizado. Não se falou a palavra “câncer”. Então poder falar disso, poder informar as pessoas, alertar e mostrar que milhares de coisas passam por isso é muito importante. Gosto quando a arte tem essa função também. Ela não precisa ter, a arte pode tudo, mas quando o artístico vem acoplado de uma função direta pras pessoas, eu gosto, me sinto confortável fazendo.
6) “Câncer com Ascendente em Virgem” tem muitas cenas de afeto entre mãe, filha e avó. Como foi contracenar com Suzana Pires e Nathália Costa? Lembra de cenas divertidas e de cenas difíceis?
Eu só tenho boas lembranças da gravação desse filme, apesar do tema difícil. Fiquei muito feliz fazendo, foi um clima muito doce entre nós três e toda a equipe. A cena em que nós três cantamos samba juntas na cama foi muito divertida. Eu estava rouca, mas a farra ali era tão grande, que eu nem me importei em cantar mal pra caramba. Foi um momento tão querido. As cenas difíceis, tiveram algumas, pois tiveram de reviver situações ali.
7) Através da jornada de Clara, o filme reflete sobre a importância das amizades, da família e do autocuidado. O que o público pode esperar?
Pode esperar uma soma de coisas que são muito preciosas e que me fazem ao cinema: uma história que vai te envolver, um tema que te traz informações e a inspiração para lidar com as situações difíceis da vida com positividade, humor e sabedoria. Apesar do assunto sério, a proposta do filme é se divertir. O humor é bem-vindo em qualquer situação da vida das pessoas.
NATHÁLIA COSTA | ATRIZ (Alice)

1) Alice tem que lidar com o câncer de mamãe da mãe, mas não deixa de ser uma adolescente como qualquer outra. Como foi a preparação para viver um personagem?
Tive uma espécie de trabalho com a Clélia, que viveu a história de Clara na pele, e também com sua filha, Elisa, que me guiou nesse processo com a experiência que viveu. Além disso, quando li o roteiro, achei a personagem de Alice muito parecida comigo – muito sincera, sem medo de falar as coisas. Eu me identifiquei tanto com ela que decidi dizer as falas como eu, Nathalia, realmente falaria. Muitas das atitudes e jeitos de Alice são coisas que eu mesma faria.
2) Durante o filme, a relação entre mãe e filha é bastante aprofundada, quando Alice oferece apoio para a mãe Clara (Suzana Pires). Como foi contracenar com Suzana Pires? Tem alguma história de bastidores curiosa?
Trabalhar com a Suzi (Suzana Pires) foi um grande presente, repleto de aprendizados. Além disso, ganhei uma parceira de cena incrível, que me apoia imensamente e me ensina muito sobre o poder da arte. O filme é muito engraçado, e a Suzi, naturalmente, também é. Em várias cenas, quando ela dizia suas falas, eu e a Marieta (Severo) nos acabávamos de rir (risos).
3) Você contracena em diversas cenas com Marieta Severo, que interpreta a avó de Alice, Leda. Como foi estar ao lado de Marieta neste trabalho? Qual o maior aprendizado que você destacaria?
Mais uma vez, tive uma espécie de trabalho com uma parceira de cena incrível. A Marieta me ensinou muito com seus anos de experiência e sua carreira tão linda, mas, acima de tudo, tive a privacidade de conhecê-la como pessoa. Nossa química foi instantânea, e isso se refletiu lindamente na tela. Além disso, a Marieta e eu temos uma relação maravilhosa, porque parece que ela realmente é minha avó, como se tivesse me adotado como neta. No segundo dia de filmagem, já nos chamamos de “vó” e “filha”. Ela é muito espontânea, autêntica, e acho que tenho um pouco disso também. A gente se zoa o tempo todo, nos implicamos… é uma relação muito fofa. E no set, a Marieta é hilária! uma conexão muito especial, e a dinâmica entre nós três – tanto dos personagens quanto das atrizes – já era naturalmente engraçada. Isso fez com que o filme ganhasse ainda mais leveza e humor conforme saía do papel.
4) A rede de apoio entre mulheres é o fio condutor da história, sendo a Alice uma parte fundamental da rede. Como você percebe a relação de Alice com as outras mulheres do filme?
Acho que a relação das três no filme foi conduzida de uma forma super delicada e linda. Tidos desentendimentos, como em qualquer família, mas, ao longo da história, construímos esse laço inquebrável, que se revela extremamente necessário para a jornada da Clara.
5) Você estreou na televisão com apenas dois anos de idade em “A Vida da Gente” e coleciona diferentes trabalhos ao longo dos últimos 14 anos. Como você percebe seu crescimento como atriz neste trabalho?
Acredito que sou uma soma de cada personagem que já vivi, e todos me ensinaram algo sobre a vida a partir de diferentes perspectivas. Com a Alice, aprendi muito sobre a importância do apoio familiar e sobre valorizar os momentos especiais com quem amamos. Ao longo do filme, ela foi evoluindo, e eu também amadureci junto com ela, absorvendo seus aprendizados e transformando essa vivência em algo muito especial.
6) Pra você, qual a mensagem principal do filme? O que o público pode esperar?
Acho que o filme me ensina muito sobre vivermos a vida de forma mais leve e ao lado de quem amamos. E tudo isso foi abordado da forma mais linda.
FABIANA CARLA | ATRIZ (Dircinha)

1) Dircinha é uma vendedora de artesanato na feira e torna-se uma grande amiga e inspiração para Clara (Suzana Pires). Como você descreve seu personagem?
Eu defini Dircinha como um elo importante dentro da trama do filme. Acho que ela representa a força da mulher que não desiste, mesmo diante da doença. Ela se nutre de energia por meio do trabalho e tem um marido que a acompanha, algo raro, já que geralmente vemos o oposto: mulheres acompanhando os maridos. Dircinha é como um perfume que passa pela vida de Clara ao longo do filme. Sua alegria contribui para que Clara reflita sobre sua própria jornada. É uma troca mútua de força, cada uma à sua maneira e com sua história. Dircinha é, sem dúvida, uma personagem que não desiste e não se entrega.
2) Como foi a preparação para interpretá-la?
Minha preparação foi realmente seguir toda a orientação da diretora, que foi cirúrgica, precisa e atenta. Eu estava em outro trabalho, “Rensga Hits!”, interpretando um personagem com uma partitura diferente, em um ritmo mais acelerado. Tive que desacelerar, conter uma revolução interna e ajustar a emoção para encontrar o equilíbrio entre a força e a fragilidade de alguém acometido por uma doença como o câncer. Foram poucos dias de preparação, mas tentei seguir ao máximo as orientações. Além disso, infelizmente, todos temos alguém próximo que foi afetado por essa doença, e acompanhe isso de perto nos marca profundamente. A vida imita a arte, e essa vivência me ajudou a reproduzir, de alguma forma, o que observei como espectadora dessa realidade.
3) Dircinha, apesar de vivenciar um drama pessoal, também é bem humorada e alto astral. De que maneira as suas experiências anteriores com comédia desenvolveram para viver esse personagem que habita a fronteira entre o humor e o drama?
Acredito que um personagem que me ajudou muito a construir a Dircinha foi a Perséfone (“Amor à Vida”), que tinha uma sensibilidade semelhante e uma partida próxima. Acho que Perséfone trouxe esse equilíbrio entre humor e drama, tornando um personagem mais crível. Quando fazemos humor, aprendemos a transitar nessa fronteira com o drama com mais facilidade, porque, para mim, é muito mais difícil contar uma piada e ninguém rir. Já o drama exige apenas que coloquemos a nossa verdade. Sou uma atriz curiosa e acredito que minhas vivências me trouxeram até aqui para interpretar dramas de forma convincente, permitindo ao espectador acreditar, mesmo quando há um toque de leveza e humor.
4) A amizade entre mulheres e a formação de uma rede de apoio é um dos principais temas do filme. Nesse sentido, como você percebe Dircinha como parte dessa rede de apoio? Como ela foi ajudada e ajuda outras mulheres?
Dircinha é uma peça essencial nessa rede de apoio, pois representa a força e a resiliência feminina diante dos desafios. Mesmo enfrentando um drama pessoal, ela encontra maneiras de inspirar outras mulheres com sua alegria e determinação. Ao compartilhar suas experiências e manter o bom humor, Dircinha cria conexões que fortalecem quem está ao seu redor. Ao mesmo tempo, ela também recebe apoio, mostrando que ninguém enfrenta as dificuldades sozinha. Essa troca é uma via de mão dupla: enquanto ajuda, ela também é ajudada, refletindo a importância da solidariedade e da união entre mulheres em momentos de vulnerabilidade. Sua presença na vida de Clara e das outras personagens exemplifica como, juntas, as mulheres podem superar obstáculos e se fortalecer mutuamente.
5) Você já tinha trabalhado com Suzana Pires em “Loucas pra Casar”. Como foi o reencontro no set de filmagens?
Foi um lindo reencontro no set. Admiro muito a Suzana, não só como atriz e produtora, mas também como pessoa. A Suzana mulher é batalhadora, forte, inteligente, criativa, generosa… eu poderia passar horas rasgando elogios a ela. Foi uma alegria imensa saber que ela lembrou de mim mais uma vez, e espero ter a oportunidade de trabalhar com ela muitas outras vezes. Tudo o que ela me convida para participar sempre tem uma qualidade incrível, com temas relevantes e muito conteúdo.
6) Ao longo da jornada de Clara, o filme fala sobre a importância das amizades, da família e do autocuidado. Para você, que mensagem o filme busca passar? E o que o público pode esperar?
O filme é lindo e traz leveza a um assunto muito delicado. Ele mostra como os afetos se aproximam em meio a uma situação tão difícil, cada um à sua maneira. No caso da minha personagem, por exemplo, destaca-se a presença do marido, que permanece ao lado dela, segurando sua mão e participando do tratamento. Isso é algo raro, pois, infelizmente, ainda é muito mais comum vermos mulheres acompanhando seus maridos em tratamentos, enquanto o inverso ainda é difícil. Acho que essa reflexão também serve como um alerta para que essa realidade mude. Além disso, o filme reforça que o câncer não é uma sentença. As pessoas podem e devem buscar tratamentos, e quando