Museu da Diversidade Sexual indica diferentes obras inspiradoras, interessantes e que evidenciam a voz da população trans
A população trans ainda enfrenta grandes desafios na sociedade, entretanto, vem avançando em termos de representação. A inclusão no setor literário, uma importante ferramenta para a preservação da história da comunidade trans, ilustra o movimento. Valorizando a experiência e a contribuição cultural, a literatura possibilita que o debate sobre identidade, diversidade e inclusão alcance maiores públicos.
Segundo levantamento realizado por Amara Moira, Coordenadora de Educação, Exposições e Programação Cultural do Museu da Diversidade Sexual, houve um aumento considerável de publicações nos últimos anos. “Entre 1970 e 2021, temos cerca de 100 obras lançadas, desde crônicas, poesia, textos acadêmicos, etc. Mais de 60 dessas obras foram lançadas apenas entre 2017 e 2021, logo, é possível observar um avanço relevante para o meio”, explica Amara.
“Apesar de todo o progresso que estamos observando, é importante reconhecer que há um longo caminho a ser percorrido quando se fala em igualdade de oportunidades. Iniciativas que promovem o incentivo e a inclusão são fundamentais para alavancar novos autores e autoras que precisam ser reconhecidos por suas obras”, explica a especialista.
Confira obras biográficas e narrativas que apresentam histórias valiosas e relevantes sobre as trajetórias de pessoas transexuais e travestis:

Neca: Romance em bajubá, de Amara Moira
Em seu mais recente lançamento, Amara Moira, escritora, ativista, doutora em Teoria Literária pela Unicamp e Coordenadora de Educação, Exposições e Programação Cultural do Museu da Diversidade Sexual, conta a história de uma travesti que reencontra um amor antigo, que atualmente começou a trabalhar nas ruas. Revisitando o passado, a protagonista embarca em uma jornada de lembranças, memórias e aprendizados sobre o tempo em que trabalhou como prostituta no Brasil e na Europa. A obra é escrita inteiramente em bajubá (ou pajubá), dialeto criado pelas travestis décadas atrás.

Bajubá Odara, de Jovanna Baby
O livro Bajubá Odara é uma publicação de autoria de Jovanna Baby, idealizadora e fundadora do Movimento Trans do Brasil. A obra traz uma versão expandida e mais completa de Diálogo das Bonecas, de 1992, que foi o primeiro dicionário da língua criada pelas travestis brasileiras, o bajubá. Bajubá Odara ainda tem relatos sobre o nascimento do movimento político e social organizado por travestis no Brasil, entre 1910 e 1992.

A queda para o alto, de Anderson Herzer
A obra reúne as poesias e textos biográficos de Anderson Herzer, o primeiro autor transexual publicado no Brasil, com relatos sensíveis sobre sua difícil história de vida permeada por abandono familiar, uma infância marginalizada, preconceito e os maus-tratos que sofreu na antiga FEBEM durante a ditadura militar, até encontrar a pessoa que o ajudou a conquistar a liberdade, Eduardo Suplicy, à época deputado estadual de São Paulo. É um livro impactante, comovente e profundo, que preserva a memória de um poeta talentoso, cuja escrita continua sendo inspiradora até os dias de hoje.

Velhice transviada: memórias e reflexões, de João W. Nery
Esse foi o último trabalho do escritor e psicólogo João W. Nery, o primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação sexual no Brasil, país onde a expectativa de vida de uma pessoa transexual não é muito alta. Por isso, João decidiu escrever sobre suas reflexões e experiências na velhice, e como foi sua trajetória de vida até se tornar um “transvelho”, termo que ele mesmo criou. O livro também conta com entrevistas e histórias de outras pessoas transexuais idosas compartilhando suas memórias e vivências.

Eu, travesti: memórias de Luísa Marilac, de Luísa Marilac e Nana Queiroz
A artista, comunicadora e ativista Luísa Marilac, que viralizou na internet com um vídeo de seu bordão “E disseram que eu estava na pior”, conta sua história de superação após sofrer com a falta de afeto familiar, episódios de violência e o sofrimento na época em que se tornou uma vítima de tráfico sexual na Europa. Combinando o humor presente em sua personalidade com relatos sensíveis e emocionantes, ela revela como se manteve esperançosa com uma vida que era sem perspectiva, até dar a volta por cima e alcançar a felicidade.

A construção de mim mesma, de Letícia Lanz
Letícia é psicanalista, palestrante, mestra em sociologia e especialista em gênero e sexualidade. Nesta obra, ela conta sua história de vida e como foi o seu longo processo de autodescoberta como uma mulher transgênero aos cinquenta anos de idade, após se ver em uma cama de UTI. Narrando suas reflexões, medos e experiências, Letícia nos convida a refletir sobre aceitação, os estigmas de gênero implantados pela sociedade e a liberdade de finalmente conseguir ser quem é.