Na era das redes sociais, é fundamental redobrar a atenção sobre o que os adolescentes estão fazendo enquanto estão online — especialmente quando passam longos períodos trancados no quarto. A série ‘Adolescência’, disponível em uma plataforma de streaming, escancara uma realidade que não pode mais ser ignorada.
Para falar sobre a relação entre dependência digital, sedentarismo e isolamento na adolescência, conversamos com a Dra. Leila Maas, médica hebiatra do Grupo Fleury, detentor da Diagnoson a+ na Bahia. “O que chamamos de tecnoestresse é mais problemático pela perda da concentração, da empatia, do aumento da irritabilidade e da agressividade, causando alterações do comportamento como ansiedade e depressão, do relacionamento familiar e social, de transtornos de aprendizado e de outras complicações. A supervisão, a participação e a presença ativa dos familiares nas atividades online exercidas por crianças e adolescentes são fundamentais”, explica a Dra Leila.
A seguir, a médica se aprofunda mais nesse tema, destacando a importância da atividade física nessa fase da vida, bem como da presença ativa dos pais.
Quais são os efeitos do excesso de telas, do sedentarismo e do isolamento social em adolescentes?
O sedentarismo pode ser diretamente associado ao tempo prolongado em frente às telas, contribuindo para uma série de problemas de saúde, incluindo obesidade, doenças cardíacas, diabetes e problemas de desenvolvimento. Adolescentes sedentários também têm mais tendência a desenvolver problemas mentais como ansiedade, estresse e depressão.
A associação entre uso excessivo de mídias sociais e saúde mental já está bem estabelecida na faixa etária adolescente. Assim como a ligação entre estilos de vida de risco, como dieta inadequada, excessos de telas, inatividade física e distúrbios do sono, e doenças crônicas. É inegável que os celulares e as mídias digitais fazem parte da vida do adolescente. Vale, então, apresentar propostas de regramento desse uso. Nesse sentido, o médico hebiatra tem papel importante e deve permanecer atento, orientando família e/ou responsáveis.
Quais os principais benefícios da atividade física e do esporte nessa faixa etária?
Adolescentes ativos tendem a se tornar adultos ativos, com menor probabilidade de desenvolver obesidade e doenças relacionadas. Entre os benefícios dos exercícios para a saúde física e mental de crianças e adolescentes, podemos citar: redução da pressão arterial, controle dos níveis glicêmicos, melhora do perfil lipídico, aumento da mineralização óssea, melhora da cognição, elevação da autoestima e do sentimento de bem-estar, além do estímulo à socialização.
Quando se movimenta o corpo, o cérebro estimula a liberação de endorfinas, substâncias associadas ao prazer e ao alívio do estresse e da ansiedade. A atividade física também aumenta o volume de fluxo sanguíneo utilizado pelo corpo, melhora o funcionamento cardiorrespiratório e eleva o uso de tecido adiposo como fonte de energia, sem dizer que melhora a oxigenação dos músculos e sua capacidade regenerativa, fortalece o sistema imunológico, eleva a capacidade de raciocínio e aumenta a estabilidade das articulações, o equilíbrio e a facilidade de movimentação.
Que tipo de atividade eles podem praticar?
É recomendado que crianças e adolescentes de 6 a 19 anos façam pelo menos 60 minutos diários de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa, que são aquelas que fazem a respiração acelerar e o coração bater mais rápido, tais como pedalar, nadar, brincar em um playground, correr, saltar e outras atividades que tenham, no mínimo, a intensidade de uma caminhada.
Exercícios de força, como musculação, devem ter supervisão do profissional de educação física, evitando-se, assim, excessos, lesões e, eventualmente, prejuízos à estatura final.
Como ajudar a promover o interesse de adolescentes pela atividade física?
Crianças e adolescentes devem ser encorajados a participar de uma variedade de atividades físicas agradáveis e seguras que contribuam para o desenvolvimento natural, tais como caminhadas, andar de bicicleta, praticar esportes diversos, se envolver em jogos e brincadeiras tradicionais da comunidade em que estão inseridas, o que ajuda também em aspectos comportamentais e de socialização.
Adolescentes precisam de mais tempo com a família, mais memórias afetivas e condições para o crescimento saudável, que só acontece com amor, atenção e cuidado. E isso não se encontra nas telas. A participação em esportes coletivos também poderá ajudar a fazer amigos, a respeitar os limites de seus colegas, a cooperar e dialogar.
Ter aplicativos, games, planilhas e instruções de acesso à atividade física dentro da realidade do adolescente, ou seja, pelo celular, pode ser um uso inteligente da tecnologia para combater o sedentarismo.
O que os pais podem fazer para reduzir o tempo de tela e aumentar a interação social e atividades como o esporte?
Não permitir que as crianças e adolescentes fiquem isolados nos quartos com computador, tablets, celular, ou webcam, e estimular o uso controlado desses aparelhos nos locais comuns da casa. Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar uma ou duas horas antes de dormir.
É fundamental identificar e avaliar o uso inadequado, precoce e excessivo desses eletrônicos por crianças e adolescentes para tratamento, ações imediatas e prevenção do aumento dos transtornos físicos, mentais e comportamentais associados à dependência digital.
Também, é importante estimular o adolescente a criar uma rotina diária na qual exista a prática de atividade física, procurar um amigo para começar a praticar algum tipo de esporte ao longo da semana, organizar saídas para a natureza, onde possam caminhar, correr e andar de bicicleta, por exemplo. Equilibrar o tempo de tela com outras atividades é fundamental para o desenvolvimento físico, emocional e social dos adolescentes.