Por Gerson Brasil
54 anos, poderiam ser acrescentados mais 6, ou subtraídos, não havia consenso e seria perda de tempo ir ao cartório de registro de nascimento. A chuva o danificou. 1,78,2, a depender da altura da calçada, e o doutorado de “Elementos dos Contos Fantásticos” tornavam Iolanda Perez Santiago de pouca convicção. Repetidamente, acordava, escovava os dentes, acreditava que o espelho a imitava e seria tomada por profusão de compromissos e exigências, alheias a aritmética, intervalos incertos, números decimais medindo o tempo, de consequências desconhecidas e nem mesmo confiava nas recomendações, menor convicção destinava às folhagens a se esconder nas infusões, empalhadas de certezas, que até mesmo a medicina, na prévia defesa, empregava um simulacro de sincretismo, temendo ser alijada do poder e, pior, ser acusada de mercantilista.
Cabelos curtos, queixo, quase quadrado, pretensiosamente exibindo olhos azuis, sem que fosse possível indagá-los, temia que vastas cabeleiras poderiam tornar as deduções infelizes, como acontece nos casamentos, bem formulados no cinema, nas igrejas, nos templos, aonde quer que haja uma fala suficiente hábil a formular proposições de alentada perspicácia a atrair a cupidez, sem medo, nem receio, e sim a abissal concupiscência, de inconfundível ajuda, ao reconhecimento dos dois prestigiosos movimentos da Terra, enquanto os outros 12 fazem figuração, mas estão registrados nos livros científicos.
Reta e no cuidar de si, dispensou inúmeras parábolas evitando deduções infelizes, colocando o casamento e Papai Noel no rol de temporalidades imprestáveis. “ Não gosto de Papai Noel, bem como assinar de papéis, de testemunhas exigentes e ornamentações dispendiosas, caras, ostensivas. Se não é possível utilizar a matemática, porque haveria de legitimar inferências sobre gorro vermelho, altruísmo e luzes?
Quando a casa de Maria da Glória de Oliveira e Barros sumiu no fogo, se antecipando aos bombeiros e lamentos, as testemunhas deram várias versões das chamas, indicando a origem da desgraça, mas sem consistência.
Anos venceram o calendário e as versões, refeitas, a cada narração, tornavam a casa mais responsável do que as chamas pela destruição. Acontece, como acontece Papai Noel, casamentos, ilusões, e bolos, pasteis e bebidas que não prestam juramento, embora sejam as únicas testemunhas a quem se pode validar ou negar qualquer sabor e até excomungá-los com ferocidade. Na cena do casamento, ou de Papai Noel figura a encenação que dará veracidade às fotos, sem elas não há acontecimento”.
Quando beijei Emmanuel Solares no Natal, que não retornará, nem o beijo, Letícia o tomou como um presente de Papai Noel. Animada, discorreu sobre a peça, antes introduziu um prólogo e convidou como assessor, para melhor causar impressão, a hábil narradora Sherazade; a astuta contadora de histórias tecidas uma a uma e mais de mil noites, que encobriam todos os desejos e impedia a fala, no exterior das narrativas, encapsulando qualquer acontecimento.
Pensei em negociar com a Almeida, Letícia Carrascoza de Almeida e Santos, uma versão menos apaixonada de Papai Noel, afinal nunca o vira, e a Irmã de Hidalgo reclamava dos presentes que lhe imputavam uma reputação invejável, por ser a intermediária de Noel, junto a uma multidão de niños, “sabe-se lá de onde apareciam”.
Letícia argumentou com a magia da vida e contrapus, imediatamente, o que Solares só irradiava no nome, fracassou no beijo e até mesmo quando o deixei no passeio da Rua do Armindo. A barba parecia alfinete e a camisa vermelha, atrapalhada por verdes e azuis, e a calça branca – só depois do beijo, notei que se parecia com Papail Noel – o tornava uma versão do que poderia ser ruim, mas mesmo com as graças de deus e injúrias naufragou.
Nem era possível aproximá-lo do papagaio que delatou a mulher prazerosamente, contente, nos braços do amante, mas soube construir um ardil e lhe pregar uma peça, suficientemente engenhosa, levando o marido a desacreditar na narrativa da traição e punindo o papagaio com a morte, espichando mais uma noite para a narradora Sherazade. “Dizem, talvez por hábito, ou na pressa, que Papai Noel, Rei, Vizir e casamentos são encantadores, mas continuo cética”.