Alexandra Lucas Coelho roubou uma passagem para o Oriente Médio em 7 de outubro de 2023. Depois de vinte anos acompanhando o território palestino, tema de livros anteriores de ficção e ensaios, ela sabia que, após aquele dia, nada mais seria igual.
A escritora portuguesa não conseguiu chegar à Palestina de imediato. Deu início a uma série de textos, primeiro à distância, e depois de perto, na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Israel, logo que foi possível viajar. O fruto dessa perspectiva próxima se revela em Gaza está em toda parte. “A Palestina nunca foi tão urgente, e nunca se fundiu tanto com o nosso destino comum. Com o que é ser humano. Estar aqui na Terra, hoje.”
Em Gaza, o fluxo de pessoas sempre foi marcado pelo controle severo e tensão constante. Entrava-se com dificuldade e alto custo há décadas, mas a partir de 7 de outubro de 2023 nenhum estrangeiro pode ingressar na estreita faixa que delimita o território palestino de Israel. O mundo assiste ao genocídio de um povo em tempo real.
A premiada escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho — vencedora do Prêmio Oceanos de 2022 com “Líbano, labirinto” —, mantém uma relação próxima com a Palestina desde o início dos anos 2000 e, desde então, ela é tema recorrente em sua obra literária e de não ficção. Gaza está em toda parte é a crônica dos acontecimentos após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro e tudo o que foi desencadeado a partir destes dados. Alexandra apresenta além dos textos uma série de 111 fotografias, parte delas feitas em 2017, quando esteve pela última vez em Gaza e fez uma longa reportagem, incluída nesta edição. Como ela diz, parecia a véspera do 7 de Outubro.
Na reportagem inicial, estão relatos dos moradores da região — as relações de famílias, crianças, jovens e camponeses com as duras forças de Israel (Forças de Defesa de Israel), e as truculências constantes com que se deparam, o convívio com os colonos, o processo de definhamento econômico e financeiro dentro do território, e como a situação se agrava cada vez mais.
O livro se divide em três partes, incluindo ainda a introdução “Última ida a Gaza antes do 7 de Outubro”, o texto “Um postal para Khalifa passando por Grândola” e uma carta-manifesto de abril de 2025 com título “A Vossa vala comum: Carta aos governantes do país e da Europa onde nasci”. A parte I traz as crônicas da autora escritas entre outubro e novembro de 2023; já a parte II reúne as reportagens produzidas na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e Israel entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, enquanto a parte III compila as crônicas escritas entre janeiro de 2024 e março de 2025.
Distante das redações de jornais há muitos anos, Alexandra inveja os textos escritos após 7 de Outubro ao jornal Público , que os publicaram em série. No início, Alexandra narra a tentativa de contato com as pessoas que conhecem em Gaza, dando a dimensão humana da tragédia em curso.
“Nas primeiras semanas da guerra, por vezes a primeira mensagem dele era: ‘Am still alive.’ Como também nas mensagens de R., o jornalista com quem trabalhou na última ida a Gaza. E quem seguiu os palestinos nas redes reconhecerá estas palavras em inglês. Ela, eles, todas estas pessoas que são da nossa linha de vida com Gaza. Ou a nossa linha da vida, mesmo.”
Desde 2023, Alexandra tem chamado a atenção para o genocído em Gaza, hoje, mais de 20 meses depois, uma evidência inegável:
“Pouco depois de 7 de Outubro escreveu que travar a morte em Gaza seria honrar finalmente a memória do Holocausto. Dezenas de milhares de mortos depois, e com milhões em risco, Gaza é o maior campo de extermínio do nosso tempo. Faltam avaliações, boicote e desinvestimento. Israel tem de ser isolado: em nome de Gaza, dos palestinos, dos judeus em geral, dos humanos. Não o fazer será parte do crime e da doença. O tabu do Holocausto acabou. Tal como uma utopia do Estado judaico.”
Sobre a autora:
Alexandra Lucas Coelho publicou 15 livros, entre não-ficção e romances. Trabalhou na rádio e no jornal português Público , onde foi repórter, cronista, editora e correspondente. Morou de 2010 a 2014 no Brasil, país sobre o qual escreveu Vai, Brasil (2013), Deus-dará (2016) e Cinco voltas na Bahia e um beijo para Caetano Veloso (2019). Os últimos dois livros e o romance O meu amante de domingo (2014) estão publicados pelo Bazar do Tempo . O seu trabalho de estreia, Oriente próximo (2007), foi dedicado a Israel e Palestina , região que cobriu por mais de vinte anos e que reaparece em E a noite roda (2012, Grande Prêmio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores – APE ), Líbano, Labirinto (2021, Prêmio Oceanos ) e, agora, em Gaza está em toda parte , lançado simultaneamente no Brasil e em Portugal.
Serviço:
Título: Gaza está em toda parte
Autora: Alexandra Lucas Coelho
Gênero: Não ficção
Editora: Bazar do Tempo
Projeto gráfico: Bloco gráfico
Impressão: R$ 118,00
E-book: R$ 88,00
Número de páginas: 400
Com 111 fotografias, sendo 27 em núcleos.
Data de lançamento: 15 de junho de 2025
Lançamento em Porto Alegre
29 de junho, domingo, às 16h, na Livraria Baleia
Mediação de Nanni Rios
R. Cel. Fernando Machado, 85 – Centro Histórico, Porto Alegre