Amplo material histórico que ocupa o MAM, a partir de 13 de setembro (para visitação pública), traça relações entre a trajetória do Vila, das artes e a história do Brasil nas últimas seis décadas
A exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de um Teatro do Brasil tem abertura para convidados dia 12 de setembro e inicia temporada de visitação pública já a partir do dia seguinte, 13 de setembro (sexta-feira). Ocupando o salão principal do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM, Avenida Contorno, Salvador), a exposição é resultado de um esforço que reuniu farto material sobre a trajetória do Vila. São fotos, cartazes, figurinos, vídeos, programas originais das produções, áudios e documentos variados que, juntos, contam uma história de arte e insurgência. A exposição é gratuita, tem temporada até o dia 8 de dezembro e pode ser conferida de terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
O projeto é a primeira ação de artes plásticas, na Bahia, do Centro Cultural Banco do Brasil. O patrocínio é do Banco do Brasil, através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal, com apoio do Museu de Arte Moderna da Bahia, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural e Secretaria Estadual da Cultura. A produção é da Janela do Mundo com coprodução do Teatro Vila Velha.
O Teatro Vila Velha foi inaugurado em 31 de julho de 1964, após uma ampla campanha levada à frente pelo primeiro grupo profissional de teatro da Bahia, a Sociedade Teatro dos Novos. Espaço eclético da cultura nacional, trouxe ao palco, já na programação de estréia, a Batucada da Escola de Samba Juventude do Garcia e também os experimentos dos jovens Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Tom Zé no show Nós, por Exemplo.
A exposição registra a trajetória do Vila Velha desde quando o teatro era um projeto, investigando as experiências que o transformaram em espaço das artes sintonizado com os grandes debates de seu tempo. Traz a história do Teatro dos Novos e do Teatro Livre da Bahia, grupos que tiveram João Augusto à frente até sua morte, em 1979. Inclusive dimensiona a figura do diretor, dramaturgo e professor João Augusto, um dos mais importantes nomes do teatro brasileiro. Faz isso contextualizando o Vila nos momentos históricos que atravessou, o que exige trazer à discussão personagens como, dentre outros, Edgard Santos, reitor da Universidade Federal da Bahia que criou a Escola de Teatro em 1955, e Eros Martim Gonçalves, seu primeiro diretor.
O engajamento do Vila na defesa das classes subalternizadas e das causas sociais ganha destaque na exposição. Os exemplos apresentados são variados. No ano de sua inauguração, encenou a peça sociopolítica Eles Não Usam Bleque-Tai, de Gianfrancesco Guarnieri, em plena implantação do regime militar, decisão ousada em tempos de repressão e violência contra os direitos civis e políticos.
Mais à frente, em 1968, ano em que foi decretado o mais tenebroso Ato Institucional do governo militar, o AI-5, outro atrevimento em meio ao medo que assolava a sociedade: o teatro abrigou artistas, jornalistas e membros da comunidade em protesto pela atuação truculenta da censura em ensaio aberto da peça Senhoritas, que seria encenada no Teatro Castro Alves e acabou interditada. Soma-se a isso a participação ativa no movimento pela Anistia, no final dos anos 1970, e seus desdobramentos, como ter sido o lugar escolhido para os julgamentos dos processos post mortem de Carlos Marighella e Glauber Rocha, absolvidos de crimes imputados pelo regime militar e cujas famílias, nas mesmas sessões, receberam pedidos formais de desculpas do Estado brasileiro.
Outro destaque no material disponibilizado é o período de reforma estrutural do teatro, que durou de 1994 a 1998 e trouxe ao Vila diversos artistas que nele iniciaram carreira, em campanha que gerou apresentações com rendas direcionadas para a reconstrução do prédio. Foram retornos cheios de emoção dos já àquela época nacionalmente reconhecidos Gil, Caetano, Bethânia, Tom Zé e também Daniela Mercury e Carlinhos Brown, dentre muitos outros.
Em sua composição, o Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de um Teatro do Brasil opta por, ao contar a trajetória do teatro e de seus personagens, contextualizar os momentos históricos desse percurso, inclusive o desenvolvimento urbano e evolução arquitetônica das cidades. Nesse entranhar de acontecimentos emergem produções feitas no teatro ou nele exibidas, projetos, ações de cidadania, enfrentamentos e posicionamentos, enfim, a história ativa e produtiva de um teatro que é baiano e cujas realizações reverberam pelo Brasil.
Curiosidades retiradas da exposição
A Sociedade Teatro dos Novos, criada em 1959, é o primeiro grupo profissional de teatro da Bahia. Com diversas iniciativas artísticas e campanhas, ergueu o Teatro Vila Velha, inaugurado em 1964;
A Sociedade Teatro dos Novos surge a partir de um grupo de alunos da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia que se rebelaram contra seu diretor e abandonaram o curso no último ano. Os alunos são Carlos Petrovich, Carmem Bittencourt, Echio Reis, Othon Bastos, Sonia Robatto e Tereza Sá. A eles somou-se o encenador e professor da Escola de Teatro, João Augusto;
O Teatro Vila Velha foi palco de shows inaugurais de vários artistas e grupos, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Tom Zé, Novos Baianos, Camisa de Vênus, dentre outros. No que tange ao teatro e à dança, abrigou, além do Teatro dos Novos, vários outros coletivos, como Teatro Livre da Bahia, Viladança, Bando de Teatro Olodum, Cereus, VilaVox, Companhia Novos Novos e A Outra;
O Vila é o único teatro independente na Bahia que através de um grupo residente de dança, o Viladança, implementou políticas para o desenvolvimento da linguagem, desdobrando suas ações em residências, intercâmbios artísticos, projetos de experimentação e integração de diversos estilos, além de formação de plateia para a dança e criação de um longevo festival internacional, o Vivadança, que colocou a Bahia na rota de eventos culturais internacionais;
Palco onde brilhou Lázaro Ramos em vários espetáculos do Bando de Teatro Olodum, assim como a cantora Virgínia Rodrigues, que encantou Caetano Veloso na montagem de Bai Bai Pelô, em 1994;
O Vila foi palco dos julgamentos pos mortem de Carlos Marighella e Glauber Rocha, sendo o lugar histórico onde o Estado brasileiro reconheceu a inocência e pediu perdão às famílias dos dois perseguidos políticos.
Centro Cultural Banco do Brasil
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) é uma rede de espaços culturais gerida e mantida pelo Banco do Brasil com o objetivo de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura e valorizar a produção cultural nacional A diversidade, a relevância e o ineditismo da programação do CCBB são os diferenciais que contribuem para democratizar o acesso à cultura e para gerar emprego.
Presente no Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, está em avançado processo de instalação de sua nova unidade em Salvador. Na capital baiana, passa a ocupar o Palácio da Aclamação, o histórico edifício que, como o Teatro Vila Velha, compartilha a área do Passeio Público, no bairro do Campo Grande.
Mesmo antes de iniciar suas atividades no Palácio da Aclamação, o CCBB já realiza intervenções culturais na cidade de Salvador. Nesse contexto, promove sua primeira exposição na Bahia, em projeto que dimensiona a importância do Teatro Vila Velha para o Brasil.
Centro Cultural Banco do Brasil
O Banco do Brasil apresenta e patrocina Vila Velha, por Exemplo – 60 Anos de um Teatro do Brasil, uma exposição que mostra a vida de um teatro construído e gerido por artistas, que se reinventou com a cidade e os tempos.
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) será vizinho do Teatro Vila Velha e, a partir desse momento, as duas histórias passam a dialogar, criando um potente parque artístico, junto com outras organizações, no Corredor Cultural do Centro de Salvador.
Enquanto prepara sua instalação definitiva no Palácio da Aclamação, o CCBB já se faz presente na cidade com programação em parceria com diversos espaços culturais, a exemplo do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), que calorosamente nos acolheu para a realização desta importante exposição.
Ao realizar este projeto, o CCBB reafirma o compromisso de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura e com a valorização da produção cultural nacional. Viva! O CCBB chegou à Bahia.
Makota Valdina, em Bença, nos diz: “Vocês pensam que estão sozinhos quando estão no palco? Não… tem muita gente aí com vocês”. É sobre isso esta exposição. Muitas pessoas passaram por essa espiral do tempo e continuam nela em memória, energia e inspiração.
A decisão curatorial foi contextualizar a existência deste teatro com a história: o Vila Velha antes do prédio; sua construção; suas fases, seus momentos de crise, seus momentos de brilho; a produção intensa do Teatro dos Novos; a pausa que o grupo deu; a chegada do Teatro Livre; a morte de seu criador; os períodos difíceis da retomada dos Novos; sua quase transformação num teatro governamental; a devolução do teatro ao grupo; a retomada e reconstrução e as voltas a seguir até agora: os momentos difíceis de fechamento do prédio, o retorno como um teatro debilitado em sua estrutura física e a renovação em curso. Cada cena dessa história é contada em uma Abertura, dois Atos e um Entreato, e cada movimento pode ser identificado com os movimentos do país.
A História se espelha na arte, a arte inventa o que não existe. A exposição Vila Velha, por exemplo, reconta os 60 anos deste teatro construído pelo Brasil e do Brasil refletido por este teatro.
Acolhida pelo Museu de Arte Moderna da Bahia e oferecida ao público baiano pelo Centro Cultural Banco do Brasil em sua chegada. Antes ainda de sua instalação, no Palácio da Aclamação, vizinho ao Teatro Vila Velha, separado por um parque que vai ser recuperado para a cidade um dia desses, o CCBB faz um gesto generoso ao oferecer ao nosso público nossa história recontada.
A tarefa maior da curadoria foi optar pelo que não entraria na exposição. Apesar da importância de sua passagem na história desse teatro, algumas coisas não entraram por falta de documentos no arquivo do Vila. Ou porque foi difícil conseguir liberação, pelo apego de alguns por seus documentos. Ou ainda por absoluta falta de espaço no grande salão do MAM para conter tantas ações, projetos, batalhas, artistas, nomes, coletivos, objetos, sonoridades, movimentos. Mas os e as que não estão aqui, aqui estão representados e representadas pelos que estão. Sintam-se assim e saibam que, em suas ausências, também permanecem.
Serviço
Exposição: Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de um Teatro do Brasil
Temporada para visitação: 13 de setembro a 8 de dezembro de 2024, de terça a domingo, das 10h às 18h
Local: Museu de Arte Moderna (MAM), Avenida Contorno, Salvador
Entrada: Gratuita
Patrocínio: Banco do Brasil e MInistério da Cultura, através da Lei Rouanet