Por Matheus Spiller
A arte e o design se encontram em harmonia no trabalho de Igor Andrade, que no mundo das artes visuais é conhecido como Igor de Olho. Um artista/designer nascido há 41 anos em Aracaju-SE, que veio morar em Salvador ainda criança e adotou a capital baiana como casa e suporte para suas criações.
Igor encontrou na simbiose entre a técnica do design e a liberdade do fazer artístico um campo aberto para escoar ideias em forma de grafite, grafismos, desenhos e mensagens que ele apresenta em diversos formatos. Igor deixa sua marca em ambientes internos, nos muros da cidade, em roupas, telas, no ambiente virtual, enfim…não há limite de formato para a mente criativa.
Como designer, fez e faz trabalhos para muita gente grande da música brasileira. A gente traz aqui um pouco da história de Igor de Olho e suas observações a respeito desses segmentos.
Confere aí!
Matheus Spiller – Pra começar, vamos falar sobre o que te levou a procurar o design. Como surgiu o teu interesse?
Igor de Olho – O design especificamente passou a fazer parte da minha vida quando eu comecei a trabalhar criando convite de formatura. Eu tive que aprender os programas, paleta de cores…mas eu sempre gostei de muita coisa. A partir dos 12 anos eu comecei a gostar de ler matéria de arte no jornal, olhar imagens, colecionar coisas relacionadas a arte. Minha mãe foi uma grande incentivadora…ela me levava a museus, me chamava quando tinha alguma coisa interessante na televisão, me levava quando tinha algum evento na cidade que envolvesse audiovisual, pintura, grafite…Meus olhos sempre se voltaram para o não comum, vamos dizer assim.
Aí chegou a época de fazer vestibular. E não tinha faculdade de design propriamente dito. Tinha desenho industrial, belas artes, arquitetura. Eu encontrei um curso de uma pequena empresa que havia perto da minha casa. Ali foi o contato que eu tive. Mas foi muito difícil porque eu não tinha computador. Eu ia nas casas de amigos e ficava treinando. Não tinha youtube, as revistas eram caras, então era um processo bem intuitivo de entender as ferramentas.
MS – Depois de formado, como foi a sua trajetória nesse mundo do design?
IO – Eu trabalhei em gráficas, fazendo convites de formatura, outdoor, banner, no início mesmo. Trabalhei em empresas que faziam eventos na cidade, e comecei a atuar no mundo da música. O primeiro grande trabalho que me fez ser reconhecido aqui foram as capas dos discos da banda Maglore…ali que começou o pessoal a querer saber quem era o designer, procurar o meu trabalho e tal…
Aí eu fui pra São Paulo, trabalhar na empresa de Fernando e Sorocaba. Foi ali que deslanchou a carreira. Trabalhei com eles (Fernando e Sorocaba), Marcos e Belutti, na época do sucesso de “Domingo de Manhã”, Thaeme e Thiago, Lucas Lucco com Pablo Vittar, Péricles, Ferrugem. Depois fiz também material para JetLag, Ana Castela, Matheus e Kauan com Anitta…muita gente… aqui de Salvador eu fiz pro Harmonia do Samba, Psirico e o mais recente, que vai sair ainda é com o Bailinho de Quinta, um trabalho mais atual, que eu tô aplicando meu estilo. E é justamente esse estilo que faz os artistas virem até mim.
MS – E sobre a velha questão a respeito de como o design e a arte se cruzam? Quanto há de um no universo do outro na sua opinião?
IO – Um existe dentro do outro, de formas diferentes, mas harmônicas. Tem uma simbiose aí. Algumas pessoas ainda defendem que design não é arte. Eu creio que isso já caiu muito por terra. Se for pra falar sobre os conceitos, o design é algo que tem toda a aplicação de um conhecimento da parte semântica da coisa. O que a gente aplica ali, no design tem um conceito por trás. Qual o tipo, qual a cor que vai chamar mais atenção…e na arte fica algo que é de cada observador denominar o que ele sente, o que ele vê.
Mas eu particularmente não consigo mais separar, porque eu uso muito de um no outro. Se for pra falar em diferença…é que tem artista plástico que não sabe mexer nos programas de computador, como tem o designer que não sabe desenhar, fazer uma pintura, trabalhar com aquarela e pra mim isso não coloca ninguém acima nem abaixo do outro. É questão de como você quer desenvolver o seu método, onde você quer chegar, como você quer brincar ali, no meio disso.
MS -Você desenvolve hoje um trabalho multifacetado, utilizando diversas estéticas e suportes. São intervenções em áreas externas, em ambientes fechados, vestuário, telas. Fala um pouco sobre essas formas de expressão.
IO – Depois que eu consegui ficar mais consolidado no meu estilo, eu falei pra mim mesmo que era a hora de colocar ele fora da tela do computador. Parti pra parte física, tinta, pincel, spray. Então, as técnicas continuam sendo praticamente as mesmas que eu utilizaria no computador, mas transpondo para os suportes físicos.
O grafite, o pincel, tinta, a colagem também, apelidada já de lambe-lambe que a gente utiliza. Comecei a fazer aqui na cidade, tô riscando também umas roupas.
Isso aí foi uma forma de ampliar a minha arte, onde ela pode avançar, o que ela pode provocar…criei a marca Like Não é Amor, que é a parte política do meu trabalho, aborda histórias pessoais, histórias de outras pessoas, criticas ao mundo digital ultrarrápido e ansioso, que a gente esquece a parte afetiva.
MS – O que te inspira a criar?
IO – Pra mim a arte causa. Causa sentimentos, pensamentos, ela causa alegria, dor, desconforto também. Então, trabalhar com isso tudo é extremamente interessante para mim. Assim, claro, como receber o elogio, a parte financeira também…não dá pra romantizar. A a gente precisa disso pra poder fazer mais.
MS – Quais são as dificuldades encontradas pra quem faz esses tipos de intervenção artística em Salvador?
IO – É que as pessoas geralmente não gostam. Preferem muros acabados, pixados. Ou então um grande nada, do que ter um trabalho ali. Ainda tem um pouco de rejeição…não todos, tem pessoas que abraçam…Então quando eu vejo um trabalho de uma dimensão grande na rua, feito por um ou mais artistas, eu fico muito feliz. De ter aquela esperança de que Salvador pode ser mais bonita, colorida com essas artes.
E tem a dificuldade relativa à parte técnica. Tem artista que tem receio de pintar em uma dimensão grande. Eu costumo dizer que é bom treinar, abrir um papelão, pintar o maior possível, porque pintar figuras grandes é completamente diferente de usar o computador ou pintar numa mesa. Então a parte técnica exige treinamento. Não é só chegar lá e fazer.
MS – E daqui pra frente, o que vc quer fazer em relação à sua arte? Quais são os planos? Onde vc quer que chegue a sua expressão?
IO – Eu pretendo diminuir um pouco meu trabalho na parte digital. E fazer mais em muros, colagens, em ambientes de festa, restaurantes…Os meus maiores trabalhos nessa parte de pintura foram na casa Bombar (@bombarrv), que eu pintei as paredes, fiz os personagens, as máscaras que misturam várias culturas, são bem coloridas, reagem com luz negra, que foi uma solicitação da casa porque a identidade deles está baseada nisso, nas cores.
Tem uma casa de shows chamada Point do Japa (@point_do_japa), que eu fiz todo o ambiente riscado, a parte onde os Djs tocam, isso deu um uma característica muito forte ao local.
E, por fim, o estúdio de produção do Soul Jack (@jackoficialll), músico da qui de Salvador. Ele pediu pra fazer nesse estilo das letras tipográficas, em spray, que também deu essa característica única. E daqui pra frente o que eu desejo é mais trabalhos assim, que me deixem livre pra poder criar, pela realização pessoal de fazer com o meu estilo. //
Conheça mais do trabalho de Igor de Olho no link
A pedido da nossa reportagem, Igor de Olho deixou indicações de gente que faz arte e merece uma atenção especial. A gente deixa os @s da galera no Instagram:
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@studiolombra
@brunozambelli
@batapalma