Por Dra. Angela Honda
A asma é uma das doenças respiratórias mais comuns no Brasil, afetando cerca de 20 milhões de pessoas1. Popularmente confundida e chamada como bronquite, a condição é caracterizada, principalmente, pela falta de ar, chiado no peito e pelo comprometimento da qualidade de vida dos pacientes. Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, muitos brasileiros ainda enfrentam dificuldades para controlar a doença, que é hoje a quarta principal causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS)1.
O cenário é ainda mais crítico para quem convive com a forma grave da asma — caracterizada pela presença de sintomas frequentes e intensos, mesmo com o uso adequado de terapias convencionais. Embora essa forma mais grave atinja uma parcela menor da população com asma (cerca de 3% a 5%)2, ela representa um impacto expressivo no sistema de saúde, aumentando o número de idas ao pronto-socorro, hospitalizações e óbitos2. Estima-se que pacientes com asma grave tenham uma média 15 vezes maior de visitas a unidades de emergência em comparação com pacientes com formas moderadas da doença3.
Nos últimos anos avanços importantes aconteceram na compreensão da causa da asma e de seus diferentes perfis inflamatórios, o que tem aberto caminho para tratamentos mais personalizados1. No entanto, no Brasil, muitos pacientes com asma alérgica grave ainda enfrentavam a falta de alternativas terapêuticas individualizadas no SUS, o que dificultava o controle adequado da doença1.
Recentemente, o sistema público de saúde deu um passo significativo ao aprovar a atualização no tratamento da asma grave4, incorporando novas alternativas terapêuticas baseadas em avanços científicos4. A decisão representa um marco para os pacientes, pois amplia as opções disponíveis para aqueles que não respondiam de maneira satisfatória aos tratamentos convencionais com broncodilatadores e corticoides inalatórios4 e até mesmo a alguns imunobiológicos, mas ainda aguardamos ansiosos para efetiva oportunidade de prescrição aos pacientes via publicação no diário oficial e atualização do PCDT (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas) da asma.
Essa atualização chega em um momento em que os desafios relacionados ao controle da asma se tornaram ainda mais evidentes. Dados apontam que, entre 2014 e 2021, a mortalidade por asma no Brasil cresceu 14%1, o que reforça a necessidade de estratégias mais eficazes para reduzir o número de crises graves e hospitalizações.
Embora o novo tratamento esteja oficialmente aprovado4, ainda será necessário um período de adaptação para que as unidades de saúde implementem as novas diretrizes, garantindo que os avanços cheguem de forma efetiva à população.
A constante evolução do SUS e sua capacidade de absorver novas tecnologias são essenciais para que pacientes com doenças crônicas, como a asma grave que pode afetar pessoas de todas as idades, possam ter acesso a terapias mais modernas e eficazes. A atualização do protocolo de tratamento reafirma o compromisso do sistema público com a inovação e com a promoção de uma saúde mais acessível e de maior qualidade para todos os brasileiros.
Dra. Angela Honda é pneumologista, diretora executiva e líder de Programas Educacionais da Fundação ProAR.
1. EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES. Médicos alertam para os riscos da asma, que causa 140 mil internações por ano. Disponível em: link.
2.SCHIVINSKI, Carolina Ignarra et al. Gravidade da asma em adultos: fatores clínicos, funcionais e inflamatórios relacionados. Jornal Brasileiro de Pneumologia, São Paulo, v. 49, 2023. Disponível em: link.
3. Jardim Jr. Pharmacological Economics And Asthma Treatment. J Bras Pneumol 2007; 3 3:Iv-Vi.
4. SECRETARIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÃO E DO COMPLEXO ECONÔMICO-INDUSTRIAL DA SAÚDE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria SECTICS/MS nº 3, de 31 de janeiro de 2025. Incorporação de novos tratamentos para asma grave no Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em: https://unidospelavida.org.br.